Capítulo 8

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      Na sexta-feira pela manhã, Noemi recebeu uma ligação do pai convidando-a para um almoço que faria no domingo, para comemorar a promoção de Letícia no trabalho. Extremamente feliz pela madrasta, Noe confirmou presença.

Sabendo que a Dandara iria também, ligou-lhe para que pudessem ir juntas. Chegaram relativamente cedo, e foram recebidas pela animação e pelo abraço caloroso de Éden, e de seguida por Letícia, cuja alegria não se media.

      Encontraram Davi na cozinha regulando a temperatura do forno para colocar o perú.

      Alegrando-se com a chegada das filhas, ele apressou-se a levantar e ir ao encontro delas, envolvendo-as ternamente em seus braços e depositando um beijo no topo da cabeça de cada uma, como sempre fazia desde que elas eram crianças.

Apesar de se ter separado de Milena quando Noemi tinha treze anos e Dandara seis, a sua relação com elas não se estremeceu. O divórcio tranquilo e sem escândalos também contribuiu para não desestabilizar as irmãs.

      — Pai, esses dias eu conheci uma aluna e orientanda sua — contou Noemi.

      — Sério, filha? — indagou, pegando a tábua com os legumes que ela havia acabado de desfazer em cubinhos. — Qual delas?

      — A Adriana. — Caminhou até a pia e começou a lavar as mãos.

      — Ah, é? Que bom. Espero que ela tenha falado bem de mim.

      Noe sorriu, bem humorada, secando as mãos em um pano de prato.

      — Falou — confirmou, para alegria dele. — Deu pra perceber que ela tem uma admiração muito grande por você.

      Davi sorriu, sentindo o coração ser envolvido por um calor reconfortante. Para ele, aquilo era o mais gratificante no exercício da sua profissão: tocar não apenas a mente dos seus alunos, mas também o coração. Enchia-lhe o peito saber que estava conseguindo, e que era lembrado com carinho.

      — E eu por ela. — A ternura em sua voz era perceptível. — É uma menina brilhante e cheia de potencial.

      Noemi assentiu e, sem mais a fazer por enquanto, sentou-se em um dos bancos altos da cozinha, onde tinha a visão da sala vazia e silenciosa.

      Dandara estava com Éden no quarto — de onde em alguns momentos era possível ouvir vozes e risadas altas —, enquanto Letícia tomava banho.

      — Mas, me conta, como vocês se conheceram? — Davi quis saber, colocando os legumes para cozer a vapor.

      — Ela trabalha na casa noturna das mães do Ícaro. A gente se conheceu no dia da reinauguração.

      Noe achou melhor ocultar a parte em que haviam se beijado — mais de uma vez, inclusive. Assim como Ícaro e Laila, o pai era emocionado e, com certeza, começaria a pensar muito além do que realmente era, então achou melhor não contar a nenhum dos três. Pelo menos por enquanto.

      — Entendi.

      Ele aproximou-se, tomando lugar ao lado dela.

      — Agora me conta sobre você, seu trabalho, sua vida. Como estão indo as coisas no primeiro mês como efetiva?

      — Muito bem, graças a Deus. A responsabilidade é maior, claro, e às vezes não tem pra onde correr, mas tá sendo muito bom. Eu já conhecia bem a empresa, então não tive muitas dificuldades em me adaptar às novas funções. Até agora, não tenho do que reclamar.

      — Isso é ótimo, filha! — Segurou a mão dela entre as suas. — Eu tô muito orgulhoso de você, e feliz demais por tá dando tudo certo. Qualquer coisa em que eu puder ajudar, pode contar comigo.

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