"Olhares na Escuridão"

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A carruagem sacudia violentamente enquanto avançava pelas trilhas irregulares do Norte, o vento cortante uivando através das frestas das janelas mal ajustadas. A respiração de Lyanna condensava-se em pequenas nuvens de vapor, e ela apertava o manto de peles ao redor do corpo, tentando afastar o frio que parecia penetrar até seus ossos. Do outro lado da carruagem, Myrcella e Tommen, abraçados, partilhavam o calor de um único manto, enquanto trocavam sussurros inocentes, suas vozes como um bálsamo para o ambiente sombrio.

Joffrey, sentado em um canto, com os braços cruzados e o rosto contorcido de irritação, finalmente calara a boca após semanas de reclamações incessantes. O silêncio dele, embora fosse um alívio para os ocupantes da carruagem, trazia uma tensão latente, uma calmaria antes da tempestade que sempre acompanhava seu temperamento volátil. Talvez fosse essa uma das razões para que Robert tivesse decidido trocar de carruagem, ou talvez fosse apenas o desejo de se embriagar em paz, longe da voz cortante de sua esposa.

A paisagem que passava pela pequena janela mudou gradualmente, de campos verdejantes para densas florestas onde os galhos das árvores pareciam se estender até o céu cinzento e fechado. O Norte mostrava-se em toda a sua austeridade, uma terra onde os ventos carregavam consigo promessas de invernos longos e implacáveis.

- Quanto falta para chegarmos? - Joffrey resmungou, quebrando o silêncio tenso que pairava na carruagem. Seus olhos dourados buscaram os de Lyanna, mas ela, distraída, apenas lançou um olhar vazio em resposta.

- Não muito mais, querido - respondeu Cersei, o tom de sua voz, ainda que suave, traía sua própria aversão ao destino que se aproximava. - Estamos quase lá. Tente ser mais paciente.

Joffrey bufou em resposta, recostando-se no assento acolchoado com um olhar que oscilava entre o desdém e o tédio. Lyanna, por sua vez, se deixou perder em pensamentos, refletindo sobre o que os levara até ali, uma jornada desencadeada pela morte de Jon Arryn, o homem que servira como Mão do Rei e amigo de confiança de seu pai. Era estranho pensar que aquela viagem ao Norte, àquela terra gélida e sombria, havia se tornado necessária, forçada pela necessidade de substituir o falecido Lorde Arryn.

Os pensamentos de Lyanna foram interrompidos quando a carruagem deu um solavanco particularmente brusco, fazendo todos os ocupantes se segurarem instintivamente nos assentos para evitar uma queda desajeitada. Lá fora, os cavalos relincharam em protesto e, em seguida, pararam abruptamente. A carruagem havia ficado presa em algum obstáculo em caminho, e um dos cavaleiros desceu para investigar.

Quando Robert emergiu de sua carruagem, segurando um copo de vinho quase transbordando e com um sorriso preguiçoso de quem estava muito além da terceira taça, Cersei já estava fora, os olhos verdes brilhando com a fúria contida. A raiva dela era palpável, uma energia quase tangível que permeava o ar ao redor deles.

- Quanto tempo levará para resolver isso? - ela perguntou a Ser Boros Blount, sua voz fria e cortante como o vento do Norte.

- Não deve demorar muito, minha senhora - respondeu o cavaleiro, mantendo a cabeça baixa em sinal de respeito. - Vamos retirar a carruagem do buraco e acampar para aproveitar as primeiras luzes do amanhecer.

As horas seguintes passaram em um ritmo lento e tedioso, enquanto os homens trabalhavam para liberar a carruagem. A comitiva começou a montar o acampamento, as tendas se erguendo uma a uma, como pequenas sombras douradas entre os pinheiros esparsos. O sol do fim do dia tingia o céu com tons de fogo, lançando longas sombras que dançavam ao ritmo do vento.

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