Victoria Blackberry- Capítulo 1.5

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A entrada principal da minha mansão se abriu com um som suave de portas se deslizando, revelando o átrio grandioso, com seu mármore polido e lustres cintilantes que iluminavam o ambiente com uma luz dourada. O cheiro de rosas frescas e madeira polida preenchia o ar, uma lembrança constante de que este lugar era meu reino, um espaço de controle e poder.

Eu passei pelo hall com a mesma graça de sempre, sabendo que cada passo meu ecoava uma autoridade que construí ao longo dos anos. O dia havia sido longo e cansativo, mas a visão de minha casa sempre trazia um certo alívio, um refúgio do caos do mundo exterior.

Ouvindo o som de passos correndo em minha direção, sorri para mim mesma. Elijah estava ansioso para me ver. Ele sempre fazia isso quando eu chegava para o café da tarde, um ritual que havíamos estabelecido desde que o adotei. O pequeno garoto, com seus cabelos loiros lisos e olhos azuis brilhantes, saltou para mim e me abraçou com a energia típica de uma criança de seis anos.

- Victoria! - Ele exclamou, seus olhos azuis cintilando com a alegria de me ver.

- Oi, querido!  - eu disse, abaixando-me para envolvê-lo em um abraço apertado. - Como foi o seu dia?

- Foi divertido! - Ele respondeu, soltando um sorriso largo. - Eu desenhei um dragão para você.

Ele puxou um desenho do bolso, um rabisco colorido de um dragão com escamas verdes e uma expressão feroz. Eu peguei o desenho com um sorriso, admirando a criatividade dele.

- Esse é o dragão mais incrível que eu já vi. - eu disse, colocando o desenho em um local de destaque na mesa do café da tarde. - Você fez um trabalho maravilhoso.

Elijah sorriu com orgulho e correu para a mesa, onde os biscoitos e o chá estavam preparados. A mesa estava posta com toalhas de linho branco e louças finas, um cenário de elegância que contrastava com a simplicidade dos biscoitos e do chá. Eu me sentei ao lado dele, observando enquanto ele pegava um biscoito e começava a comer, sua pequena boca cheia de alegria.

Enquanto Elijah falava animadamente sobre seus desenhos e suas pequenas aventuras no jardim, eu me deixei absorver pela sua energia. Ele falava sobre os “dragões imaginários” que ele havia lutado com seus brinquedos e as histórias fantásticas que ele inventava. Seus olhos azuis brilhavam com um entusiasmo inocente, e eu me sentia aliviada por estar longe das complexidades do meu trabalho.

- Hoje, eu usei um escudo de papel para me proteger dos dragões. - ele contou, segurando um biscoito com uma mão e gesticulando com a outra. - E eu venci todos eles!

- Você é um verdadeiro herói, então. - eu disse, rindo e pegando um biscoito para mim. - Como você conseguiu derrotar todos eles?

- Com coragem e inteligência! - Elijah respondeu, levantando a cabeça com um ar de triunfo. - E um pouco de mágica.

A maneira como ele falava era contagiante, e eu me vi rindo junto com ele, deixando de lado as tensões e responsabilidades que carregava. Esses momentos simples eram um alívio para mim, um lembrete do que eu havia conquistado ao trazer Elijah para minha vida.

O som do meu telefone interrompeu o momento. Eu olhei para a tela e vi que era uma chamada de meu pai, Blake. O peso de sua presença sempre se fazia sentir, mesmo nas conversas mais casuais.

Respirei fundo antes de atender.

- Olá, papai. - eu disse, minha voz firme e controlada.

- Victoria. - ele respondeu, seu tom era neutro, mas havia um subtexto de reprovação. - Eu ouvi que você teve um encontro interessante ontem à noite. O que você pode me dizer sobre isso?

- Eu tive um encontro com um detetive do FBI chamado Oliver Fletcher. - eu respondi, tentando manter a calma. - Ele estava investigando um caso que envolvia um dos meus subordinados.

- E você lidou com ele? - Blake perguntou, sua voz ficando mais fria.

- Sim. - eu disse, meu tom se tornando mais firme. - E, como sempre, fiz o que era necessário. Ele não é uma ameaça imediata.

- Hm. - ele murmurou. - Certifique-se de manter essa situação sob controle. O FBI não é um inimigo que se deve subestimar.

- Entendo, Blake. -eu disse, encerrando a ligação. - Vou manter isso em mente.

Desconectei a chamada e coloquei o telefone de volta na mesa. O peso de responsabilidade se instalou em meu peito. A vida que eu escolhi era uma teia complexa de lealdades e traições, e eu precisava sempre me manter um passo à frente, especialmente quando se tratava de pessoas como Oliver Fletcher.

Enquanto Elijah me contava mais sobre suas aventuras, minha mente se desviou para o passado, para aquele dia fatídico em que eu o encontrei. Foi durante uma missão em que eu estava investigando uma operação ilegal. Naquele dia, eu estava em uma cobertura disfarçada de uma sala de treinamento quando testemunhei algo que me marcou profundamente: o pai de Elijah, um homem cruel e impiedoso, estava batendo nele.

A visão daquelas mãos cruéis batendo em uma criança indefesa foi o estopim para uma mudança que eu precisava fazer. Meus guardas, que estavam sob meu comando, receberam minhas ordens sem hesitação. Eu sabia que o garoto precisava ser protegido e levado para longe daquela situação terrível.

Depois de garantir que a situação estava sob controle e que o pai de Elijah seria devidamente tratado, eu peguei o garoto em meus braços. Ele estava assustado e ferido, e seu pequeno corpo tremia de medo. Aquelas cenas de violência eram um lembrete cruel de como a vida podia ser injusta, mas eu também vi uma oportunidade de fazer a diferença.

A adoção de Elijah não foi um mero gesto de caridade; foi uma decisão consciente de dar a ele um futuro diferente, um futuro onde ele poderia ser protegido e amado. Desde aquele dia, ele se tornou uma parte essencial da minha vida, uma razão para buscar algo positivo em meio à escuridão do meu mundo.

O café da tarde com Elijah terminou, e o pequeno garoto correu para brincar com seus brinquedos enquanto eu permanecia na mesa, observando o local onde ele havia se sentado. Havia uma sensação de calma aqui que contrastava fortemente com a complexidade do mundo fora das paredes da mansão.

Eu me levantei e caminhei pela casa, meus pensamentos girando ao redor das minhas responsabilidades e das decisões que tomarei em breve. A lembrança de Oliver Fletcher estava fresca na minha mente. A noite do ano passado não foi um mero acaso; foi um plano meticulosamente elaborado para avaliar sua capacidade e determinação.

Oliver não era apenas um detetive do FBI; ele era uma peça importante em um jogo maior. Eu sabia exatamente quem ele era e o que representava antes mesmo de o conhecer. O beijo na festa foi uma jogada calculada, uma forma de avaliar suas reações e explorar suas intenções. O que eu sentia por ele não era apenas uma atração passageira, mas um reconhecimento da complexidade do jogo em que estávamos envolvidos.

Eu precisava entender a profundidade do seu compromisso com a missão e descobrir o quanto ele estava disposto a arriscar. O que eu percebi foi que havia algo mais em Oliver—uma determinação e um desejo de justiça que poderiam se transformar em uma ameaça ou em um aliado.

O café da tarde foi uma pausa no turbilhão de minha vida. Enquanto observava Elijah brincar, eu refletia sobre as escolhas que fiz e o caminho que escolhi seguir. A adoção de Elijah foi um passo significativo, uma maneira de buscar redenção e criar algo positivo em um mundo que eu havia ajudado a corromper.

A noite estava se aproximando, e a cidade abaixo começava a brilhar com as luzes das ruas e dos edifícios. Eu sabia que o futuro estava cheio de desafios, e a presença de Oliver Fletcher era apenas uma parte de um quadro muito maior.

Eu me dirigi para o escritório, onde eu iria revisar os documentos e preparar a próxima fase do plano contra O Cobrador. Cada movimento meu tinha que ser calculado, e cada decisão tomada com a precisão de um jogo de xadrez. Oliver Fletcher era uma peça desse jogo, e eu ainda precisava determinar seu papel no que estava por vir.

O que me aguardava era uma mistura de certeza e incerteza, e eu me preparava para enfrentar o futuro com a astúcia e a determinação que sempre foram minhas aliadas.

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