Capítulo 04 - Ponte Inicial

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Pelos corredores sujos, onde o pingar das goteiras ecoava como um triste lembrete do estado sombrio daquela casa outrora sagrada, Dominic enfrentava um dilema. Madalena encarava-o, enquanto as palavras de Mandela ressoavam no ambiente. A tensão entre eles era palpável, alimentada pelo desejo secreto que Dominic guardava para si. Sabia da necessidade de formar uma tripulação para sua jornada, mas também compreendia os riscos de aceitar Madalena sem ponderação. Acompanhá-lo significaria carregar consigo incertezas e dúvidas, um fardo pesado demais para qualquer ego humano. Dominic precisava ser perspicaz, avaliar cada aspecto cuidadosamente, pois qualquer barreira poderia impedir não só Madalena, mas também o sucesso do suceder de seu sonho que acompanhara desde a infância.
- Preciso de almas que galguem suas fronteiras.. - O rapaz falou de forma direta à Madalena, à primeira vista, respondeu com um olhar de dúvida tão claro que era como se pudesse ler nos olhos da companhia que ele não tinha sido compreendido naquele momento exato.
- De que estais a falar? - A resposta veio naturalmente da garota, cujos olhos já denotavam sua indignação diante da situação. Ela não esperava que o rapaz, tão cheio de sonhos que conhecera desde que acordara na praia - Algo absolutamente incomum - a confrontasse da mesma maneira que o padre costumava fazer. - Sou capaz de ultrapassar meus limites!
- Aqui tendes um leito cálido, sustento generoso, e companhias vigilantes. Além disso, sois uma donzela, visivelmente frágil, alheia às agruras que aguardam além dos muros desta urbe. - Dominic comentou de forma irônica e debochada, suas palavras cutucando a mente de Madalena. No entanto, apresentar tais palavras agora significaria enfrentar suas dúvidas diretamente, o que a fez recuar um passo. Seus pensamentos se misturaram enquanto a incerteza crescia. Mas seu anseio pelo conhecimento do mundo exterior a dominava, mesmo que se sentisse presa entre dois extremos que puxavam para lados opostos, uma sensação sufocante.
Dominic pareceu entender a resposta subjetiva dela à sua provocação. Ele começou a caminhar, as mãos nos bolsos furados de sua calça. O que surpreendeu foi o passo largo e firme que ecoou pelo corredor. Quando Madalena segurou firmemente a camiseta encardida de Dominic, recuou imediatamente, balançando a mão como se estivesse com nojo.
- Eu vou! - Sua resposta quebrou novamente o silêncio, revelando alguém que gostava de tomar a dianteira nas conversas. Dominic pareceu surpreso e encantado ao olhá-la. Naquele olhar, viu não apenas determinação, mas também uma coragem incomum. Madalena estava disposta a renunciar aos cortejos da vida tranquila e segura que a igreja oferecia, preferindo seguir ao lado de Dominic em uma jornada incerta e emocionante pelo mundo.
A decisão dela ressoou profundamente em Dominic, despertando nele uma mistura de gratidão e responsabilidade. Era como se, ao aceitar sua companhia, estivesse não apenas ganhando uma aliada corajosa, mas também assumindo o compromisso de protegê-la da melhor forma possível. O sorriso leve que se formou nos lábios dele refletia não apenas a admiração, mas também o reconhecimento do laço especial que se formava entre eles naquele momento de decisão.
- Então, apronte vossas bagagens. Parto imediatamente, e o tempo é um bem que não posso desperdiçar. - Dominic interrompeu a conversa, apoiando-se na rocha ao lado. Enquanto o tempo, implacável, pintava suas costas com manchas de verde musgo, tornando-as ainda mais sujas do que as roupas já em trapos permitiam, Madalena reagiu de forma inesperada: uma risada suave e gentil escapou de seus lábios. Dominic, por sua vez, franziu o cenho, surpreso com a reação dela. Era como se, naquele instante, a leveza da risada contrastante vivesse contra a seriedade do momento.
A tensão entre eles se dissipou brevemente, substituída por um instante de descontração fugaz. Contudo, na expressão de Dominic, havia um vestígio de desconfiança, talvez pela sensação de que, se as coisas continuassem nessa linha, ele poderia acabar se sentindo como o único bobo ali.
- Pela minha alma! Não tenho nada a pegar. Se arriscar, poderei despertar a todos! A única coisa de valor que possuo está comigo. - Madalena puxou a corrente do pingente em seu pescoço, atraindo imediatamente a atenção de Dominic. Ele ergueu o queixo, tentando vislumbrar o que estava por baixo da blusa dela, um gesto carregado de curiosidade e desejo momentâneo. No entanto, a tentativa foi breve. Madalena, já à frente, caminhava com pressa, determinada a deixar o local o mais rápido possível. Dominic, embora momentaneamente distraído pela sua tentativa perspicaz, acelerou o passo para alcançá-la, consciente da urgência e do propósito que os impulsionava.
A saída não foi demorada, em minutos já estavam do lado de fora da igreja. Sua entrada por um beco atraiu a atenção de alguns cães, nada mais. O rapaz fez um gesto para que Madalena esperasse ali. Em um salto, seus dedos encontraram pequenas fissuras nas paredes, seus pés impulsionando-o enquanto escalava, facilitando a locomoção de quem já estivesse acostumado ao cerne de seus instintos. Sentia os músculos latejarem pela dor do acidente no alto mar, mas ignorava o desconforto. No topo da casa, o vento o balançava enquanto a sua perspectiva agora de estar ao topo do mundo revelava a pequena cidade à sua volta enquanto o sol subia e a manhã trazia inúmeras questões pessoas. Mas trazendo à tona a dúvida maior: como havia sobrevivido ferido no mar do Caribe até aquele local? Então, uma voz ao fundo de sua mente chamou sua atenção.

CONTINUA...

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⏰ Última atualização: Jul 15 ⏰

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