[02] O convite.

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Ilha de Paradis, ano 850.

Eren Yeager olhou para Stella e para Levi, mas decidiu não revelar o conteúdo completo das visões que teve sobre suas mortes. Ele sabia que o que havia visto era sombrio demais para ser compartilhado, especialmente em um momento tão delicado. Tudo o que ele disse foi que precisavam encontrar uma maneira de evitar aquele destino. Isso foi o suficiente para deixar Stella profundamente perturbada pelo resto do dia.

A mente de Stella já estava à beira do colapso após o ultimato que recebera da Deusa Ymir em seus sonhos. As palavras de Eren, embora vagas, trouxeram à tona uma corrente de medo e desespero que ela mal conseguia conter. Os rostos de seus amigos, seus companheiros, todas as pessoas que ela jurou proteger, agora estavam envolvidos em uma névoa de incerteza e morte iminente. Isso a corroía por dentro, tornando cada momento acordada um tormento silencioso.

Quando a noite finalmente caiu, Stella não conseguiu encontrar paz em seu leito. As paredes do quarto pareciam se fechar ao seu redor, sufocando-a. Sabia que não poderia simplesmente deitar e esperar o sono vir. Em vez disso, tomou uma decisão impulsiva, mas já familiar. Levantou-se silenciosamente, vestiu-se e saiu do quartel general na calada da noite. No estábulo, escolheu seu cavalo mais rápido e montou, galopando em direção à cidade mais próxima.

A madrugada estava fria e escura, mas Stella não sentia nada além do gelo em seu coração. Ela atravessou as ruas desertas da cidade, chegando ao pequeno e sombrio estabelecimento onde as luzes ainda estavam acesas e o som de risadas e gritos embriagados escapava pelas portas entreabertas. Desmontou e entrou no bar, o cheiro de álcool e fumaça de tabaco imediatamente inundando seus sentidos.

Ela se dirigiu à mesa de pôquer nos fundos, onde um grupo de homens mal-encarados jogava avidamente. Sem uma palavra, ela se sentou e começou a jogar, seus olhos fixos nas cartas, mas sua mente longe dali. Cada rodada de pôquer, cada gole de bebida, era uma tentativa desesperada de entorpecer a dor e o medo que a consumiam.

As horas passavam, e a pilha de fichas na frente de Stella crescia e diminuía, refletindo o caos interno que ela tentava desesperadamente suprimir. Os homens ao redor olhavam-na com desconfiança e curiosidade, mas ninguém ousava questionar a mulher que jogava com uma intensidade quase febril. Afinal, seu rosto já era familiar para os que frequentavam clubes noturnos de pôquer.

Quando a madrugada começou a dar lugar ao amanhecer, Stella estava visivelmente desgastada. Seus olhos estavam vidrados, a mente embotada pelo álcool. Ela se levantou da mesa, cambaleando ligeiramente, e se dirigiu ao balcão para mais uma bebida. O barman, um homem de meia-idade com cicatrizes no rosto, olhou para ela com um misto de preocupação e resignação.

- Aqui está, senhorita. - Disse ele, empurrando um copo de whisky para ela. Stella o pegou com mãos trêmulas e bebeu em um só gole, sentindo o líquido queimando sua garganta.

Stella, ainda sentada ao balcão do bar, bebia seu copo de whisky quando uma figura familiar se aproximou. Dot Pixis, o velho comandante da guarnição das muralhas, parou ao seu lado com um evidente sorriso debochado no canto dos lábios.

- Você está com uma cara péssima, Senhorita Thompson. - Disse Pixis, sua voz carregada de ironia.

Stella olhou para ele, sem demonstrar surpresa.

- Sua cara também está sempre horrível, velho. - Respondeu ela, com um tom igualmente sarcástico.

Pixis soltou uma risada rouca e puxou uma cadeira, sentando-se ao lado dela.

- Eu esperava nada menos de você. - Disse ele, servindo-se de um copo de uísque. - Mas devo parabenizá-la pelo desempenho na missão da retomada de Shiganshina. Aquilo não passou despercebido. Para uma bêbada moribunda, seu nome não sai da boca do povo dentro das muralhas. Eles a veem como uma heroína.

(IM)PURE BLOOD | Levi Ackerman Onde histórias criam vida. Descubra agora