[05] Hora de voltar para casa.

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Ilha de Paradis, ano 850.

Stella correu o mais rápido que pôde, sem sequer perceber as vozes ao redor, que celebravam a chegada de Kiyomi Azumabito. Tudo parecia tão distante, quase como um borrão enquanto seu corpo cedia ao peso do que havia acabado de acontecer. Seu coração batia descompassado, como se tentasse escapar do peito, e ela não conseguia mais respirar normalmente.

Os corredores do palácio estavam vazios, e ela se encostou na parede de pedra fria, buscando algum tipo de âncora na realidade. Mas nem isso adiantou. Suas pernas fraquejaram, e ela escorregou até o chão, abraçando os joelhos enquanto lágrimas silenciosas começavam a escorrer por seu rosto. O ar faltava, seus pensamentos rodopiavam e tudo que ela conseguia sentir era medo.

Ela não queria morrer.

Por mais que tentasse se convencer de que havia aceitado seu destino, de que estava pronta para sacrificar tudo por Paradis, a verdade era que cada vez mais o medo a dominava. A ideia de morrer-de desaparecer completamente, de nunca mais sentir o calor de Levi, de nunca poder formar a família que sonhara-era aterrorizante. Ymir já havia determinado sua sentença, e agora a coroa de Paradis havia cravado a última estaca. Com a extinção do Titã Primordial decretada, não havia mais futuro.

Os sonhos que ela alimentou por tanto tempo-reencontrar sua mãe, cuidar de seus irmãos, viver algo simples, longe da guerra-tudo isso tinha se desfeito naquele momento. Stella enxugou o rosto com as mãos, mas as lágrimas não paravam. Pensou em fugir. Quantas vezes aquela ideia havia cruzado sua mente? Simplesmente sumir. Ir para longe, deixar tudo isso para trás. Mas... não podia. Não depois de tudo.

Ela era culpada. Tinha se omitido por tanto tempo, sabia o que Marley representava e, mesmo assim, demorou a agir. Pessoas morreram por isso. Se fugisse agora, estaria traindo tudo o que já havia lutado, traindo até mesmo a memória do pai, que morreu nesta guerra. Se ela não honrasse o sacrifício dele, então de que adiantava tudo?

Stella sabia por que Levi havia insistido tanto para que ela lutasse contra aquilo, para que não aceitasse passivamente a sentença que havia sido imposta. Ele implorou para que ela fosse até Historia e exigisse uma alternativa, qualquer coisa. Ela sabia, em seu coração, que se ela sugerisse fugirem juntos, Levi não hesitaria. Ele a seguiria para onde fosse, sem pensar duas vezes. Mas a culpa... A culpa a consumia de dentro para fora.

Ela não podia simplesmente agir. Não podia ignorar o que havia prometido a si mesma e a ele. Não era apenas sobre Levi, embora a ideia de deixá-lo a destruísse. Ela prometeu que seria útil para Paradis. Que iria se redimir por todos os erros que cometeu no passado. Que faria valer a pena, mesmo que isso significasse sacrificar sua própria vida.

Cada decisão, cada omissão do passado, a perseguia agora. O rosto de seu pai, rígido, marcado pelo peso da guerra. Sua mãe, cujos olhos ela mal conseguia se lembrar direito. Joseph, os irmãozinhos em Marley que ela queria tanto proteger. E os cadetes... aqueles jovens que ela instruiu e que morreram em campo de batalha, despedaçados pelo Titã Bestial de Zeke Yeager.

Ela não podia ignorar o peso dessas vidas, o que aquelas mortes significavam. Ela precisava honrar suas memórias, precisava se sacrificar para que todos os outros tivessem um futuro. Fugir seria trair cada um deles, e isso ela não poderia suportar. O gosto amargo da culpa e do dever a impedia de fazer qualquer coisa além de aceitar o inevitável.

Mas..como doía. Ela não queria abandonar Levi. O corpo dela tremia, e por mais que tentasse parar de chorar, a dor só aumentava. Como seguir em frente quando não restava mais nada?

O som inesperado de palmas ressoou pelo corredor, lentas e secas, ecoando nas paredes vazias e arrancando Stella de seus pensamentos caóticos. Ela levantou a cabeça, os olhos inchados de tanto chorar, o corpo ainda escorado na porta como se seu peso fosse insuportável. E ali, em frente a ela, com um sorriso de puro deboche no rosto, estava Hange Zoe, observando-a com uma expressão que misturava desprezo e tristeza.

(IM)PURE BLOOD | Levi Ackerman Onde histórias criam vida. Descubra agora