JAKE

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Mari teve uma péssima noite de sono, após a conversa com Allyssa. Várias perguntas e ideias fervilhavam em sua mente. Logo cedo, ao acordar, pegou o telefone e ligou para Pedro:

"Mari?! Que supressa!"

" Pedro, preciso falar com meu pai, consegues agendar uma reunião com ele para hoje?"

"Mari, é seu pai, consegues falar com ele em casa"

" Não, aquelazinha está lá e eu preciso tratar de um assunto sério com ele. E contigo também. Podes me encontrar amanhã para tomarmos um café?"

" Claro! Naquele mesmo lugar?"

" Sim, mas por favor, agende-me com meu pai na empresa hoje, preciso muito."

" Hoje o dia está cheio, temos reuniões até as 18, mas após esse horário ele estara mais tranquilo, pode aparecer"

"Ok Pedro, até então"

"Mari, estás tudo bem?"
"Sim, não se preocupe"
"Ok. Até"

Desligou, correu pra o banho ainda reflexiva mas precisava tomar o rumo de sua vida de volta, já que em menos de um mês teria de voltar para Londres. Vestiu-se de preto como de costume, pegou uma maça na fruteira e desceu. Precisava ver alguém.

~~

A campainha tocou e a imensa porta de vidro foi aberta por Jade:

" Você demorou, mas eu sabia que vinha" - Jade sorriu.

"Onde ele está?"

"No quarto, vai lá, já sabes onde é"

Mari esboçou um leve sorriso e subiu com o coração gelado. Estava nervosa, e por mais que tivesse ensaiado tudo e tivesse muito a dizer, era como se tudo estivesse sendo limpo de sua mente. Bateu na porta e entrou. Jake estava sentado em sua cama, sem camisa, com o peitoral todo exposto e uma parte coberta por faixas e curativos. Ao vê-la se ajustou na cama, ficando mais reto, seus olhos pareciam não acreditar no que via:

"Mari...que fazes aqui?"

Mari caminhou até ele e sentou-se na cama, ficando frente a frente mas ainda um pouco distante. Ela o olhava, cada centímetro de seu corpo.

" Vim conversar, e ver como estás... só fiquei sabendo ontem e..."

"Estou bem, daqui a pouco estarei melhor"

"O que houve?"

Jake desviou o olhar por um momento e depois seguiu:

" acelerei o carro, mas não tive a tua sorte" - tentou rir mas não era engraçado.

Mari suspirou. Parou de olha-lo e encarou a parede com a estante a sua frente, onde haviam vários objetos e o porta retrato com a foto de Bianca estava lá.

"Quando eu tinha 6 anos, minha mãe morreu em uma acidente de carro e eu estava junto. Minha mãe e meu pai eram um casal perfeito - ela riu, como se lembrasse - "Se amavam muito e se davam muito bem, quase nunca brigavam, era impossível brigar com a minha mãe. - Ela fez uma pausa e o olhou. " Ela era cordial, pacífica, ela era incrível" - Mari voltou a olhar para a estante e continuou:
" Naquele dia, estávamos atrasadas, ela para o trabalho e eu para a escola. Ela sempre me deixava na escola. Era dia de teatro, e eu me lembro de estar vestida com um vestido azul cheio de fitas, sentada no banco de trás. Meu pai estava na empresa e a esperava, ele ligou para ela no meio do caminho, ela atendeu, e disse que já estava chegando. Mas na verdade ainda estávamos longe, estávamos chegando na minha escola. Um quarteirão nos separava da escola. Um."

Nesse momento Mari olha para cima, para o teto, tentando segurar as lagrimas para que não caiam, se lembrando de tudo.

"O sinal estava vermelho. Ela olhou para mim, sorriu e disse: - "Feche os olhos, querida". Eu fechei e ela avançou. Pisou no acelerador, não haviam outros carros no cruzamento, só a gente. Só abri meus olhos novamente quando escutei o barulho e senti meu corpo se mover. Um motorista havia acertado em cheio nosso carro, exatamente no lado do motorista.

Mari deixa as lagrimas rolarem.

" Ela morreu ali. Não teve hospital, não teve chance, não teve nada. Estava ali, morta na minha frente. Eu me lembro de chamá-la várias vezes, até que o socorro chegou".

Mari abaixou a cabeça e continuou falando sem olhar para Jake:
" Três anos depois, meu pai me mandou para Londres, para um colégio interno. Ano passado, quando fiz 18, sai de lá, e passei um bom tempo apenas vivendo. - Nesse momento ela ri:
"Experimentei de tudo, tudo que você possa imaginar. Conheci lugares e ainda quero conhecer outros, fiz amigos, tirei um tempo pra realmente viver tudo que sentia vontade mas não podia enquanto ainda estava naquele colégio, presa. Por isso, toda vez que eu fico muito puta, triste ou com raiva, eu pego o carro e dirijo daquele jeito. Já me acidentei várias vezes mas nunca nada demais. A sensação, a adrenalina, todos os sentimentos misturados me trazem a sensação de finitude da vida, sabe? Como se eu fosse bater a qualquer momento e toda dor ou seja lá que merda eu esteja sentindo naquele momento vai sumir junto comigo".
- Novamente ela ri.

"Meu pai queria que eu viesse para cá, para aprender sobre as coisas da empresa. Eu resistia a ideia, até que em uma das minhas saídas em Londres eu conheci o Pedro. Ele estava viajando com uns amigos, naquela época ele não era tão chato e tão careta quanto é agora".

Ela seca com a mão as lágrimas q molharam seu rosto:

"Ele me convenceu a vir para cá. Para minha surpresa, meu pai conhecia a família dele, eram amigos. Agora Pedro está praticamente trabalhando junto com meu pai e aprendendo tudo que eu deveria aprender. - Mari revirou os olhos e respirou profundamente. Encarou Jake:

- Porque estou te contando tudo isso? Porque minha vida é uma bagunça. Eu tenho muitas coisas para resolver, aqui e em Londres. E porque você disse dias atrás que está apaixonado por mim, não que eu acredite, obviamente, mas precisas saber onde estás a te meter antes de qualquer coisa, como eu também gostaria de que tivesses me contado sobre ti antes de descobrir tudo da forma como foi".

Jake suspirou depois de tudo q ouviu, e não sabia muito bem o que dizer, quando inesperadamente Jade entra no quarto:
"Jake, desculpe, é urgente... A Bianca acordou!

MariOnde histórias criam vida. Descubra agora