Capitulo 5: O Encontro na Emergência

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[ Carolina Ferrari]

Carolina se afastou do policial, a raiva ainda pulsando em suas veias. Ela voltou para a sala de trauma, onde a equipe médica estava terminando de preparar o paciente para a cirurgia. O ar ainda estava carregado com a tensão do momento, mas agora havia uma camada adicional de inquietação que ela não conseguia dissipar.

Enquanto lavava as mãos, Carolina não pôde evitar pensar na troca intensa de olhares e palavras que tivera com o policial. Algo nele mexera com ela de uma forma que não conseguia explicar completamente. Talvez fosse a sua confiança inabalável ou a frieza com que falava de violência como se fosse uma simples ferramenta de trabalho.

De volta à sala, ela encontrou uma colega, Marcela, que estava organizando os materiais.

— Ei, você está bem? — perguntou Marcela, notando a expressão preocupada no rosto de Carolina.

Carolina suspirou, tentando encontrar as palavras certas.

— Sim, só estou um pouco abalada. A forma como ele falou sobre atirar em alguém... como se fosse apenas um procedimento comum. É difícil de aceitar.

Marcela assentiu, compreensiva.

— Eu sei. Às vezes, é difícil entender a perspectiva deles. Mas temos que nos lembrar de que nosso trabalho é salvar vidas, não importa quem sejam ou o que tenham feito.

Carolina sabia que Marcela estava certa, mas a conversa com o policial continuava a ecoar em sua mente. Decidiu que precisava de um momento para clarear a cabeça. Pediu uma pausa e foi até a área de descanso, onde se deixou cair em uma cadeira e fechou os olhos por um momento.

Quando os abriu novamente, viu o mesmo policial do BOPE parado na porta. Ele parecia menos imponente agora, quase vulnerável, e isso a surpreendeu.

— Posso entrar? — perguntou ele, sua voz menos autoritária desta vez.

Carolina assentiu, curiosa sobre o que ele tinha a dizer.

Ele entrou e se sentou na cadeira ao lado dela, seu olhar fixo no chão por um momento antes de encontrar os olhos dela.

— Eu sei que nossa abordagem parece brutal, mas você precisa entender que, para nós, é uma questão de sobrevivência. Se não agirmos rapidamente, somos nós que acabamos no chão.

Carolina sentiu uma pontada de compreensão, mas ainda havia algo que a incomodava profundamente.

— Eu entendo a necessidade de proteger sua equipe, mas também precisamos encontrar formas de reduzir a violência. Cada vida tem valor, mesmo aquelas que vocês consideram perdidas.

Ele suspirou, parecendo considerar suas palavras com seriedade.

— Talvez você tenha razão. Mas no meio do fogo cruzado, essas distinções se tornam borradas. Eu já perdi pessoas demais para hesitar.

Carolina sentiu uma conexão inesperada se formar entre eles, uma compreensão mútua das dificuldades que ambos enfrentavam em suas profissões.

— Qual é o seu nome? — ela perguntou suavemente.

— Ruan — respondeu ele. — E você é...?

— Carolina — disse ela, oferecendo um pequeno sorriso.

Por um momento, houve silêncio entre eles, cada um perdido em seus próprios pensamentos. Era um começo, um pequeno passo em direção à compreensão mútua. Carolina sabia que ainda havia um longo caminho a percorrer, mas pela primeira vez, sentiu que talvez, apenas talvez, houvesse uma chance de encontrar um terreno comum.

Ruan levantou-se, parecendo mais leve de alguma forma.

— Obrigado por cuidar dele — disse ele, referindo-se ao traficante ferido. — Você fez um bom trabalho.

— É meu dever — respondeu Carolina. — Assim como é o seu proteger.

Eles trocaram um último olhar antes de Ruan sair da sala, deixando Carolina sozinha com seus pensamentos. Ela sabia que a jornada deles estava apenas começando, e que o caminho à frente seria cheio de desafios e descobertas.

Enquanto observava Ruan se afastar, Carolina não pôde deixar de se perguntar como suas vidas se entrelaçariam a partir daquele momento. O encontro na emergência tinha sido apenas o primeiro ato de uma história muito mais complexa e profunda que ambos estavam prestes a viver.

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