6 | Boas vindas ao inimigo

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Não se deve rejeitar sua intuição quando ela claramente está querendo dizer alguma coisa.”
— Página 21, diário de Lucy.


  Entrar no escritório do meu pai sem permissão, ler seus documentos e me esgueirar onde não deveria. Muitas regras estavam sendo burladas em tão pouco tempo, faltando tão pouco para o meu aniversário, tudo acontecia tão rápido e justo no meu momento de virar uma adulta de verdade. Deveria ser algum teste dos Deuses. Contudo, eles poderiam ter imaginado que mexer com minhas decisões poderia causar um caos na minha mente.

  Estou enlouquecendo.

  Passou-se um dia e cada minuto que vai embora eu fico imaginando aqueles portões dos muros se abrindo e revelando a carroça que está transportando os pesadelos de nossa geração. De qualquer jeito, nem irei ser capaz de vê-los direito, mesmo com medo, fico decepcionada em não poder sanar minhas dúvidas.

  Não deveria ser perigoso se eles vão estar atrás das grades. Espero...

  — Ainda pensando nisso? — O conforto da presença de Kaio retirou me do meu profundo devaneio

  — Sim. — Suspirei

  Contar a Kaio não foi uma decisão nem um pouco difícil, sei exatamente que essa informação caótica deveria ficar trancada a sete chaves em nossas consciências, mas a segunda pessoa da qual mais zelo certamente deveria estar a par de todo esse cenário perigoso.

  A reação dele foi a mesma que eu tive e não poderia ser outra. Demorou-se no mínimo uma hora até ele digerir a informação por completo, tanto que quem está me tirando dessa aflição agora é ele e não o contrário como antes.

  — Pensa só, seu pai vai lidar com isso rapidinho e você não vai mais precisar esquentar a cabeça.

  — Mas é isso que está me corroendo.

  — Seu pai?

  — Não — Espremi o rosto em um leve desgosto — o modo como ele vai lidar.

  — Pedir para você fingir que ele vai fazer tudo pacificamente e através de uma boa conversa não vai ajudar, não é? — Kaio cruzou os braços sobre o peito

  — Claro que não, não sou tão ingênua assim. — O olhei de soslaio

  — Lucy, pensa comigo. — Ele segurou minha mão

  Senti arrepios.

  — São os maiores assassinos de humanos que existem, essa sua cabecinha doida realmente acha que não devem sofrer nenhuma punição? — Kaio continuou

  — Não me sinto nenhuma espécie de Deusa capaz de julgar quem deve ser punido ou não. — Meu olhar caiu para a mão dele que segurava a minha

  — Você não entendeu o que eu quis dizer. — Ele suspirou — Tudo bem, me conta, o que sua imaginação tá te fazendo pensar?

  É reconfortante.

  — Isso, Lucy. Conta pra gente.

  De repente a voz de Ophelia me fez dar um pequeno espasmo. Sua aparição repentina também pegou Kaio de surpresa.

  Nossas mãos se descolaram como um flash de luz, como se nunca tivessem estado juntas alguma vez.

  — Ophelia? — A olhei com os olhos arregalados de susto

  — Desculpa o espanto, vi vocês e vim conversar um pouco também. — Ela sorriu descontraída — Podem continuar.

  — Tá tudo bem. — Kaio respondeu — Bom, e aí Lu?

Alados do SolOnde histórias criam vida. Descubra agora