Capítulo: 2.

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Pov: Simone.

Simone Tebet olhava pela janela de seu gabinete, observando as luzes da cidade que nunca dormia. Os corredores do Senado estavam silenciosos àquela hora, mas sua mente estava longe de encontrar paz. A conversa com Soraya Thronicke ecoava em seus pensamentos, junto com memórias de um passado doloroso que ela raramente deixava emergir.

Anos atrás, Simone acreditava no amor. Seu primeiro relacionamento sério foi com Eduardo, um homem que ela pensava ser seu companheiro para a vida. No começo, ele era carinhoso e atencioso, fazendo-a acreditar que haviam encontrado uma conexão profunda. Mas, com o tempo, a máscara caiu. Eduardo tornou-se controlador e abusivo, minando sua confiança e isolando-a de amigos e familiares.

Simone lutou para sair daquele relacionamento tóxico, mas não sem cicatrizes. Eduardo a traiu repetidamente, fazendo-a sentir-se insuficiente e descartável. A dor da traição foi tão profunda que Simone jurou nunca mais deixar alguém chegar tão perto. Ela se fechou para o mundo, construindo muralhas ao redor de seu coração. Seu foco virou sua carreira, sua missão de servir ao país.

— "Eu nunca mais vou permitir que alguém me machuque daquela forma."
Simone murmurou para si mesma, o olhar perdido no horizonte.

Soraya Thronicke era um enigma para Simone. Desde o primeiro encontro, a animosidade entre elas era clara. Soraya era tudo o que Simone evitava: intensa, provocativa e desafiante. Mas havia algo mais ali, uma centelha de entendimento que Simone não conseguia ignorar. Talvez fosse o respeito pela determinação de Soraya, ou talvez a maneira como ela desafiava Simone a ser melhor, a questionar suas próprias convicções.

— "Soraya é uma adversária formidável."
Simone pensou, seus olhos escurecendo com a lembrança de seus debates acalorados.
— Mas há algo nela que não consigo definir...

Houve momentos em que Simone quase admirava a coragem de Soraya, sua capacidade de enfrentar obstáculos de frente, sem hesitar. Mas essas qualidades também a irritavam. Soraya tinha uma maneira de provocar emoções em Simone que ela preferia manter enterradas. A cada confronto, Simone sentia uma mistura de raiva e... algo mais profundo, algo que ela não queria reconhecer.

— Não posso deixar que ela se aproxime. Simone disse em voz baixa. — Não posso permitir que alguém como Soraya atravesse minhas defesas.

Mas a verdade era que Soraya já tinha. Cada discussão, cada olhar trocado, cada palavra afiada, todas essas interações estavam lentamente desgastando as muralhas que Simone construíra ao redor de si mesma. E isso a aterrorizava. Porque, no fundo, Simone sabia que não se tratava apenas de rivalidade política. Havia algo mais, algo que ela não estava pronta para enfrentar.

Enquanto pensava em tudo isso, Simone sentiu uma dor familiar no peito. Era a dor da perda, da traição, da solidão. Ela sabia que estava sobrevivendo, mas não vivendo de verdade. Sua vida era uma série de compromissos políticos e batalhas no Senado, mas quando as luzes se apagavam, ela ficava sozinha com suas memórias dolorosas.

Soraya representava um desafio, mas também uma tentação perigosa. A possibilidade de confiar novamente, de permitir que alguém se aproximasse, era algo que Simone não conseguia aceitar. Mas a intensidade de seus sentimentos, mesmo que fossem de raiva e frustração, indicava que Soraya já tinha um lugar em sua mente.

— Eu preciso manter o foco. Simone disse a si mesma, afastando os pensamentos perturbadores.
— Minha prioridade é o país, não meus sentimentos confusos por Soraya.

Com um suspiro profundo, Simone voltou à sua mesa, tentando se concentrar nos documentos à sua frente. Mas a sombra de Soraya Thronicke permanecia em sua mente, desafiando-a a reconsiderar tudo o que acreditava sobre confiança, amor e vulnerabilidade. E, embora Simone não estivesse pronta para admitir, essa batalha interna era talvez a mais difícil que já enfrentara.

Painful Love - Simoraya Onde histórias criam vida. Descubra agora