A viagem

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Point of View - Yoko Apasra

Estou exausta. Pode parecer imaturo, mas fugir e me trancar em um dos banheiros pareceu a decisão mais sensata; nunca senti meu coração acelerar assim, a ponto de doer. É pura raiva! Estou transtornada. Uma viagem agora é completamente sem sentido; ela sabe perfeitamente que só tenho minha avó e não posso simplesmente deixá-la. Após me sentar no chão gelado, encostada na parede de azulejos, reflito se tudo isso realmente vale a pena. Sabia que meu refúgio no banheiro não duraria muito, e estava certa.

— Yoko, por favor, abre a porta. Deixe-me explicar - Ela fala suavemente, com tom suplicante. Sei que não deveria ignorá-la, mas estou tão furiosa que sinto que posso explodir.

— Yoo, por favor? Estou tentando ser educada, te conheço bem, sei que esqueceu de trancar a porta. - E realmente esqueci. Levanto rapidamente para trancá-la, mas já é tarde demais.

—  Foi só um chute, mas parece que eu estava certa - Ela diz após abrir a porta, e aquele sorriso convencido...

—  Sai da minha frente, Malisorn - Ela sempre ganha, mas estou muito chateada para ceder facilmente. Forço-me a passar por ela, sem sucesso; claramente, ela é mais forte e mantém-se firme.

—  Podemos ser maduras? Você realmente acha que eu queria isso? - Ela busca meus olhos.

—  Como posso ter certeza de que não, Malisorn? - Deveria ter ficado calada.

—  O que está insinuando? Acha que não sei que você se preocupa com sua avó e por isso está estressada? - Ela se aproxima, e desta vez não me afasto.

—  Eu só...

—  Deixe-me terminar - ela me interrompe, engolindo minhas palavras. —  Estamos nessa situação, neste barco, ou neste banheiro, como queira chamar - Ela sorri amarelo. — Por favor, Yoko, vá comigo nessa viagem. Se necessário, falo com sua avó; sei o quanto ela me estima.

—  Você não entende, não é? Minha avó a aceita porque não sabe que estamos "noivas". - Falo com frustração.

—  Como assim? Você nunca mencionou isso, Yoo. - Sua sobrancelha se aperta, mostrando sua incredulidade em minha falas.

—  Há muitas coisas que você não sabe. - Minha amizade com Mali tem anos, mas há segredos que infelizmente escondo para não magoá-la.

—  Você diz isso com orgulho? Por que não me contou? É por isso que reluta tanto em considerar algo com outra mulher?

—  Quando voltamos a esse assunto, Malisorn? E não, não é por causa dela, é por mim. - Finalmente consigo passar por ela e sair do banheiro, sentindo-a seguir-me pelos corredores.

—  Lertprasert - Paraliso, um arrepio percorre minha pele; fecho os olhos, recuperando minhas forças, devastadas por seu chamado. Ela nunca me chamou assim. Lentamente, viro-me para encará-la, e a vejo parada, com os braços cruzados.

—  Precisamos fazer essa viagem. Pela última vez, pode ser compreensiva? - Seu tom de voz é quase desconhecido para mim; não é rude, mas muito autoritário. Ela parece verdadeiramente cansada, e só agora percebo suas olheiras e sua expressão suplicante. Aceitei tudo isso, então devo ir até o fim. Sem dizer uma palavra, viro-me novamente. Poderia simplesmente caminhar até ela, mas ainda estou chateada.

—  Não me vire as costas. - Ela sempre detestou deixar as coisas mal resolvidas, especialmente comigo.

—  Vou para casa, contar sobre a viagem e fazer minhas malas. - Falo sem entusiasmo, seguindo meu caminho e deixando-a para trás.

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