3. Trágico, trágico

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"O caminho do insensato parece reto aos seus olhos, mas o sábio ouve os conselhos."

Provérbios 12:15

Sarah

Para quem achava que seria demitida no primeiro dia, até que eu saí no lucro.

Depois do atendimento, fui para a aula - na época, estava cursando o oitavo semestre de psicologia - mas precisei sair mais cedo naquele dia. Eu encontraria Ismael, meu noivo, para cuidarmos da melhor parte dos preparativos de casamento: a prova dos doces.

- Ah! Com certeza no céu vai ter isso aqui - disse ele ao experimentar uma colherada de crème brulée.

Eu concordei enquanto provava uma trufa de cereja. Estava tudo divino.

- E como foi seu primeiro dia? - Ismael perguntou.

- Empolgante, mas cansativo. O menino não é fácil, tem muita energia... tive que orar no meio do atendimento. Funcionou, graças a Deus.

- Ele é mais agitado que o Miguel?

- Miguel é um anjo.

- Misericórdia.

- Mas você sabe que eu gosto de pestinhas.

- E a família, é tranquila?

- Os pais são divorciados. Ele mora com o pai, que... até onde eu vi, não dá muita atenção pra ele.

Havia ainda uma ou outra coisa no comportamento do Lúcio que me gerou estranheza, mas não achei necessário comentar. Talvez ele só fosse... educado e curioso demais.

- Pobre garoto - Ismael lamentou - mas, mudando de assunto, você resolveu o que vamos fazer com seu pai?

- Convidar ele é o máximo que consigo fazer.

- Meu bem, você precisa liberar perdão pro seu pai.

- Eu já perdoei. Mas não vou agir como se nada tivesse acontecido. No altar, comigo, ele não entra.

- E perdoou?

- Não quero falar disso agora.

- Você não vai poder fugir do assunto pra sempre.

- Hum, esse bombom de pistache tá perfeito! Vamos colocar na lista.

Ismael meneou a cabeça. Fizemos uma escala de 0 a 10 para classificar os doces, o que facilitou muito nossas escolhas. Estávamos com pressa, pois ele iria para o seminário e eu teria uma reunião de supervisão do estágio às 20h. A hora da despedida, porém, era sempre um sofrimento.

- Fica só mais um pouquinho - eu pedi, com voz dengosa.

- Com essa carinha você me quebra - ele respondeu, me fazendo um cafuné - estamos atrasados, meu bem.

- Não é justo! A gente quase nem se vê direito.

- Em breve não vamos mais ter que nos despedir no final do dia. Falta pouco.

Ismael representava para mim tudo o que um homem deveria ser. Era piedoso, respeitoso, gentil e cheio de temor a Deus. Estávamos juntos há quase três anos, noivos há três meses, e eu tinha a grande sorte de estar noiva do meu primeiro namorado.

Depois de me despedir dele, fui embora às pressas. Eu dividia um pequeno apartamento, cedido pela universidade, com mais três estudantes. Dormiam duas em cada quarto. Chegando lá, só tive tempo de tomar um banho rápido antes de abrir meu notebook e entrar na reunião.

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