21. Tudo ou nada

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"- It's God, isn't?
-Yeah.
-Damn."

Fleabag

Lúcio

— Desce mais uma dose, por favor — pedi ao garçom.

Havia se passado três semanas desde a noite em que a beijei. Eu já estava a ponto de ficar louco. Era impossível entrar em contato com ela, porque eu estava bloqueado em todas as possibilidades de comunicação.

Eu não conseguia entender aquela mulher. Por que dificultar assim as coisas, quando já era mais que óbvio que nos amávamos? Pra que sufocar tanto sentimento? Por que ficar esmagando o próprio coração?

Sarah poderia seguir sem falar comigo pelo tempo que quisesse; não mudava o fato de que eu a vi se entregar para mim, naquele curto período de tempo em que meus lábios provaram os dela. Aquela cena se reprisava todos os dias na minha cabeça.

Certamente me evitar não estava sendo fácil para ela.

Eu vinha fazendo um esforço quase sobre-humano para esperar que, cedo ou tarde, ela se jogasse de vez em meus braços. Mas minha paciência já estava no limite, e meu tempo também: já era quase setembro. Seriam três meses até o casamento.

Não dava mais para ver as semanas passarem e não fazer nada. Eu precisava seguir o conselho do José e agarrar a minha felicidade.

Tomei aquela dose de vodka, paguei a conta do bar e saí dirigindo até chegar ao bloco onde ela morava. Era início da noite quando cheguei, estacionei e fui até a guarita, mas o porteiro não estava lá.

Eu não sabia em que apartamento a Sarah morava, então fiquei lá embaixo por alguns minutos, esperando aparecer alguém que pudesse me dar notícias dela.

— Tá perdido, gato? — me perguntou uma moça de cabelo rosa, que havia acabado de chegar.

— Procuro pela Sarah dos Anjos, você conhece?

— Putz! Você é o Lúcio?

— O próprio. E você é quem?

— Emily, colega de quarto da Sarah. Cara, não acredito que tô te vendo em pessoa. Sou tipo sua fã.

— Fico lisonjeado. Sabe me dizer se ela tá em casa?

— Acho que tá, sim. Mas aproveita, que ela não vai ficar aí por muito tempo.

— Como assim?

— Vem, vamos subir.

O apartamento ficava no quarto andar. Emily me fez um gesto de espera ao abrir a porta e colocou a cabeça lá para dentro.

— Licença, meninas, homem entrando! — ela gritou. Depois fez outro gesto, me chamando para entrar — fica à vontade. Ela deve estar no quarto, vou lá chamar.

O apartamento era pequeno e caótico, mas bem aconchegante, com ar de juventude. Me lembrei dos meus tempos de estudante e fiquei um pouco nostálgico. Cumprimentei uma outra moça que estava sentada na bancada, digitando em seu notebook. Depois fiquei por ali, em pé, na expectativa de Sarah aparecer.

Meu coração quase saiu de dentro do peito quando ouvi a voz doce dela.

— Lúcio? O que tá fazendo aqui?

— Não case com ele.

Nunca foi do meu costume fazer rodeios, e algumas circunstâncias da vida despertam em mim um modo inevitavelmente direto de comunicação. Um agravante era que eu não estava no meu estado mais sóbrio naquele momento.

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