37. Um sábio conselho

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"O amor diz: 'Eu estarei lá, não importa o que aconteça'".

Timothy Keller

Sarah

Todos tomamos o café da manhã em completo silêncio. Eu observava o lugar onde Lili gostava de se sentar à mesa. Há exatamente um ano, ela estava sentada bem naquela cadeira, toda animada para um dia que prometia ser perfeito.

- Já deu nossa hora - disse Lúcio, levantando-se.

Fomos para o carro e Dudu se sentou no meio sem reclamar. Ben estava isolado com seu abafador de ruídos. Lúcio, como sempre, não quis dirigir. Nós dois nos olhamos, por um momento, e um pôde ver a dor do outro. Ele colocou sua mão sobre a minha, mas eu a retirei e dei partida no carro. Eu estava decepcionada demais.

Naquela semana, ele decidira ser um pouco mais sincero comigo e me revelou alguns esconderijos de bebida. Havia, pela casa, um cantil e também duas garrafas com destilados. Até na sala dele, na clínica, tinha bebida escondida.

Como confiar nele? Eu queria sempre saber onde estava e o que fazia. Era muito desgastante. Ele, por sua vez, tentava se reaproximar, com seus carinhos, agrados e gracinhas, mas eu estava cansada demais.

Eu precisava de um conselho sábio.

Depois do trabalho, deixei os meninos com minha sogra e fui até a igreja para conversar com o Pr. Matias, que já acompanhava meu caso de perto. Ele me recebeu com um abraço e me convidou a entrar em seu gabinete.

- Acho que tô chegando no meu limite, pastor - falei ao me sentar na cadeira.

- Ele está sóbrio no momento?

- Sim, há uma semana.

- Isso é bom. Vamos continuar orando.

- Coloco meus joelhos no chão por ele todo santo dia, mas estou me cansando... e ele tenta se reaproximar, mas eu não dou mais espaço. Meu coração tá ficando amargurado.

Ele me pediu para abrir minha Bíblia em 1 Corintios 7:14 e ler em voz alta. Suspirei e obedeci. Eu já sabia do que se tratava.

- "Porque o marido incrédulo é santificado no convívio da esposa, e a esposa incrédula é santificada no convívio do marido crente. Doutra sorte, os vossos filhos seriam impuros; porém, agora, são santos."

- Quando Paulo escreveu isso, era muito comum haver casais de crente com descrente. Você sabe por quê? - ele me perguntou.

Pensei um pouco antes de responder:

- Porque o cristianismo tava começando a se espalhar pelas cidades pagãs?

- Exato, aí muitas vezes apenas um dos cônjuges se convertia, pelo menos de início. Mas é bem diferente do seu caso: você já era cristã quando solteira e tanto podia como deveria ter se casado com outro crente.

Assenti, em silêncio, encarando a aliança no meu anelar esquerdo.

- Sua história eu já vi muito: a moça que se envolve com um incrédulo e se desvia. Jugo desigual é terrível, filha. Mas, graças a Deus, você se arrependeu.

- É, se estou aqui hoje, é pela misericórdia de Deus. Mas o que eu faço agora? - tirei os olhos da minha mão e me voltei para o pastor, preocupada - Eu devia me separar do Lúcio?

- Não. Agora você deve lidar com as consequências das suas escolhas. Você foi totalmente perdoada, mas sua realidade não foi anulada: você tem um marido ímpio e alcoólico. Ele é seu marido e, mesmo que você mesma tenha se colocado nessa situação, agora o versículo também se aplica ao seu caso.

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