Reescrito: CAPÍTULO 02

25 7 5
                                    


A confiança é a plenitude da loucura.

"Quando crescemos, não sabemos em quem confiar e não há ninguém nessa vida que seja verdadeiro o tempo todo. Nos moldamos através daquilo que a sociedade exige de nós."

Nervoso, o homem adentrou o ônibus e procurou sentar em um banco solitário, mas não havia nenhum vago. Muitos passageiros trajavam uniformes de seus respectivos trabalhos, todos com rostos extenuados e sonolentos, assim como ele também está. Sua mão envolve o balaústre e a livre aumenta o volume da música em seu fone, querendo apenas sobreviver mais um dia e quem sabe ter sorte de conseguir um emprego, mas não ser roubado é suficiente.

As imagens passam de forma apressada e vez ou outra param, atento a sua parada e com medo de acabar se perdendo, já que é um morador recente da cidade. Morou no interior com seu pai até sua idade atual, foi o último filho a sair de casa logo depois do irmão mais velho, que é o orgulho da família. Por isso insiste naquele sonho, não deseja dar o gosto da vergonha e razão aos comentários que recebeu antes de ir embora, orgulhoso como qualquer outro ser humano e não aceitaria a derrota tão facilmente.

Normalmente, o transporte público é tranquilo pela manhã, mas não demorou para encher de pessoas e em maioria mais velhas. Toques demais, Choi se encolheu no próprio canto sentindo a ansiedade subir e descer no corpo. Deseja fumar e por um momento até procura no bolso, mas lembra que deixou a carteira de cigarros em casa por causa da entrevista. Restou apenas fechar os olhos e se acalmar, ouvindo a música relaxante de alguma banda metal com pouco reconhecimento. Por trabalhar perto de casa, não precisava se locomover muito com o ônibus e sua fobia teria piorado, pois odeia se sentir observado e julgado por muitas pessoas, principalmente desconhecidas. Um medo bobo, mas muito agoniante.

Quando Choi abriu os olhos, virou seu rosto levemente para o lado ao sentir um odor ruim vindo de alguém, foi suficiente para enxergar uma cena bastante embaraçosa. Uma mulher de cabelo comprido e de saia longa, sendo claramente encoxada por um homem mais velho e baixinho. Como se não fizesse nada, ele prossegue com seu crime e de repente encontra os olhos do xereta, que observou toda a cena e disfarçou voltando olhar para frente.

Uma coisa aprendeu com a vida, "o senso de justiça sempre machuca os injustiçados e aqueles que os ajudam", deveria evitar a todo custo confusão e resolver a própria vida que já é ruim suficiente. Por sorte, há pessoas que não pensam da mesma maneira e esse foi o motivo para a gritaria que se instalou.

Por causa dos fones, Choi sequer ouve e somente nota a gritaria quando é empurrado despropositadamente por alguém desconhecido, precisando se equilibrar para não cair. O impacto o faz tirar o fone e o colocar envolvido em seu pescoço, logo tenta se localizar naquela situação e percebe que é exatamente o que viu. Não pode deixar de se sentir intimidado, observando toda aquela cena e sabendo da completa "verdade" ou algo assim, a acusadora era a mulher atacada e uma senhora que parecia alterada.

Os gritos foram tantos, que o ônibus parou o percurso e fez o rapaz olhar para o relógio, preocupado com o horário.

- Por causa de duas vacas loucas, agora todo mundo vai se atrasar! - gritou descontrolado, passando a mão no rosto.

- Seu velho nojento, como acha que pode se esfregar em mim e achar que vai ficar tudo bem? - a mulher questiona, olhando para os lados recebendo o apoio de todos.

Não somente Choi parecia alarmado, todos dependiam da locomoção do transporte para ganharem a vida e não tinham tempo para esse tipo de briga, ainda mais pela quantidade de pessoas. O homem apertou firme o pedaço de metal e esperou que o motorista fizesse algo.

Cartas do meu assassino.Onde histórias criam vida. Descubra agora