Mattheo e Mary.

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Oito anos atrás.

Estava na sala desenhando em meu caderno quando Abigail acabou falando sobre uma garota, filha da mulher que um dos homens trouxe, a menina está presa na cela da parte de baixo da casa

Fiquei me perguntando se ela tem a mesma idade que eu, fiquei me perguntando como ela está lá em baixo, presa e sozinha

Então eu corro até lá, curioso para saber quem ela é. Curioso para vê-la.

Desço as escadas rapidamente, e chego a frente da cela, está mal iluminada, nem consigo enxergar ela direito

Mas a vejo, pois está bem na porta da cela, usando suas duas mãos pequenas para tentar puxar o cadeado que está a prendendo.

No momento em que me percebe, recua para trás, assustada —Vai embora!— ela diz, ouço sua voz chorosa, quase soluçando

—Não vou fazer nada com você.— digo quando percebo que ela está com medo de mim, mas ela não tem porque ter medo de mim...tenho a mesma idade que ela!

—Cadê a minha mãe? eu quero sair daqui, cadê ela?—

Fico calado.

Talvez se eu mudar de assunto, ela se acalme um pouco... —Qual é seu nome?— eu pergunto para a menina soluçando do outro lado da grade

—Não posso falar pra você. Você não é do bem.—

Ela está tão assustada. Não consegue parar de chorar nem por um minuto, e sua tristeza me atinge bem no meu coração, quero que ela pare de chorar, quero acalmar ela, quero ver seu rosto, quero que ela saiba que eu não sou do mal.

—Quantos anos você tem?— pergunto de novo, me sentado bem na frente da cela

Ela suspira fundo muitas vezes.

—Eu tenho dez anos— a garota me responde —e você?—

—Tenho onze, o meu nome é Mattheo.— deixo ela saber, mesmo que ela não tenha pedido

E de repente, meu coração parece acelerar quando ela saí do cantinho, e bem devagar se senta na minha frente, me deixando vê-la claramente

Seu cabelo preto e liso está bagunçado, suas vestes estão gastas, sua pele contém alguns machucados e seus olhos azuis estão inchados, cheio de lágrimas.

—Você é o filho do moço mal que minha mãe não deixa eu falar o nome?— ela pergunta para mim, e um tipo de tristeza se apossa quando a ouço perguntar isso.

Não quero responder que sim.

—Sou, mas eu não vou fazer nada com você, tá bom? eu juro.— coloco minha mão para dentro da cela, pela grade, e ofereço meu dedo mindinho para que ela entrelace o dela

A menina me olha por um instante, pensando se deve ou não fazer isso, mas enfim ela ergue a mão, e seu dedinho se entrelaça com o meu.

Ambos rimos baixinho.

Ela parece ficar tranquila mesmo sabendo de quem eu sou filho, e isso me deixa feliz.

A garota abraça os joelhos.

—Qual o seu nome?— pergunto de novo, tentando fazer a sala não ficar em silêncio

Dessa vez, ela parece parar de chorar, pelo menos um pouco.

—Rosemary.— ela me responde

Há algo gentil e doce em sua voz, sorrio quando a ouço —Você tem um nome muito bonito.—

𝑨𝒇𝒕𝒆𝒓 𝒊𝒕 𝒂𝒍𝒍 |𝑴𝒂𝒕𝒕𝒉𝒆𝒐 𝑹𝒊𝒅𝒅𝒍𝒆Onde histórias criam vida. Descubra agora