O corpo de Chloe estava agora adormecido nos braços de Elizabeth. Ela não fazia ideia de qual passo tomar dali para frente; a única coisa que não saía de sua cabeça era o arrependimento por ter colocado a vida de terceiros em risco apenas por assistir aquelas fitas malditas. Ela precisava agir, e rápido, mas seu coração estava acelerado, e sua mente, um caos.
Respirou profundamente, tentando acalmar os pensamentos, e observou Chloe pela última vez antes de colocá-la cuidadosamente no chão do quarto. Chloe parecia tão frágil e indefesa, sua pele pálida contrastando com o ambiente escuro. Elizabeth repetia para si mesma:
— Pensa, pensa, o que fazer nessa situação?
Ela levou as mãos à cabeça, sentindo a pressão esmagadora da responsabilidade e do medo. Afastou-se lentamente do corpo desfalecido no chão, indo na direção oposta ao que realmente deveria fazer. Mas não era sua culpa; com apenas 17 anos, estava envolvida em uma situação já fora do controle.
Depois de sair pela porta do quarto e se dirigir ao corredor central do orfanato, Elizabeth percorreu rapidamente o caminho até a capela da igreja, situada nos fundos do local. O trajeto passava pelo cemitério e em frente ao poço. A porta da capela, com pé direito alto, parecia sempre estar aberta para acolher os visitantes que vinham confessar, rezar ou pegar um pouco da água benta deixada pelo padre perto do púlpito.
Ela não sabia o que fazer, mas perante aquela situação, a única coisa que passava em sua cabeça era conversar com o padre e relatar tudo que vinha acontecendo. Decidida, colocou sua capa de chuva para se proteger do orvalho que caía naquela tarde fria. O vento cortante batia em seu rosto, tornando o caminho até a capela interminável. Cada passo parecia um esforço monumental, mas ela sabia que precisava continuar.
Ao se aproximar da entrada, Elizabeth entrou e avistou o padre no fundo, ajeitando alguns papéis em uma mesa ao lado do confessionário. O ambiente era silencioso, com algumas poucas pessoas rezando em bancos espalhados pela igreja. Precisava ser discreta; não queria chamar atenção para seu nervosismo e a urgência de sua situação.
Aproximando-se lentamente, ela falou em um tom baixo, quase um sussurro:
— Padre, eu... eu preciso da sua ajuda — disse ela, com a voz tremendo levemente.
O padre levantou o olhar, notando a preocupação no rosto da garota, apesar de todos os seus esforços para disfarçar. Com sua experiência em exorcismos e encontros praticamente face a face com demônios, ele reconhecia facilmente a expressão de alguém atormentado por forças além da compreensão. Deixando os papéis de lado, ele deu um passo à frente, seu semblante agora sério e atento, estava pronto para ouvir o que ela tinha a dizer.
— O que aconteceu, minha filha? Como posso ser de ajuda? — perguntou Padre Josué, com um tom de preocupação.
— Padre, eu... eu preciso da sua ajuda — ela respondeu com dificuldades de pronunciar as palavras devido ao nervosismo.
— Entendo. O que ocorreu? — Ele fez um gesto para que ela se aproximasse, sua expressão transparecia sua tensão.
— A Chloe... uma garota do orfanato desmaiou agora cedo em meus braços — ela explicou, hesitante e com a voz cheia de apreensão com a reação do padre.
— Compreendo. Ela já recobrou a consciência? — O padre também era responsável pelos primeiros socorros quando algum caso com urgência acontecia, entretanto, sua ajuda raramente era solicitada, quase nunca acontecia algo fora do "normal".
— Não, mas antes de desmaiar, ela estava muito agitada, gritando e com um tom de voz alterado — ela continuou, lutando para manter a clareza.

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O Carrasco
TerrorEm uma cidade marcada por mansões vitorianas, Elizabeth, uma jovem de 17 anos, dedica seu tempo ao orfanato News House. Mas ao descobrir fitas antigas no sótão, ela se depara com histórias sombrias de assassinatos e um espírito inquieto de um antigo...