2.(Lilith)

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Sem mais delongas, puxo o gatilho e acerto o boneco alvo bem no centro. Solto o ar que estava prendendo, abaixando a arma. Olho para minha irmã, Isabella, que observa tudo com um sorriso nos lábios.

— Quase achei que você fosse pular a cerca e esfaquear o boneco com esse olhar assassino — ela diz, a voz carregada de uma alegria que não combina com o cenário sombrio. Fico impressionada como ela consegue ser tão radiante em um mundo tão cruel.

— Ele parece não merecer isso, e, além do mais, estou sem vontade — respondo, a voz saindo mais cansada do que eu gostaria. — O que está fazendo aqui?

Ela dá de ombros, como se fosse a coisa mais normal do mundo. — Achei que poderia ver você atirando. Vai que eu aprenda alguma coisa — ela diz, os olhos brilhando com curiosidade.

— A melhor forma de aprender é praticar até a perfeição, a menos que você seja boa em aprender só observando — respondo, tentando esconder meu cansaço. Minha paciência é uma linha tênue, mas faço um esforço para não transparecer.

Isabella ignora meu tom e continua com seu entusiasmo. — Que tal a gente ir para um bar, clube, ou algum lugar para nos divertirmos? — sugere, a expectativa clara em sua voz.

— Não, você sabe que eu odeio pessoas, especialmente qualquer tipo de atividade social — falo, sentindo a irritação crescer. Isabella sempre quer sair, sempre quer socializar, e eu... eu só quero paz.

Ela faz uma expressão de falsa tristeza. — Então eu vou sozinha — diz, fingindo sair da sala.

Solto um suspiro pesado. — Eu vou, mas só para proteger você — digo, revirando os olhos. Ela se vira, um sorriso iluminando seu rosto.

— Sabia que você não me deixaria ir sozinha! — exclama, correndo para me abraçar. Sinto seus braços ao redor de mim, o calor do seu abraço é reconfortante de um jeito que quase dói. Ela deixa um beijo leve na minha bochecha, e por um momento, todo o meu ceticismo e raiva se dissipam.

— Só para proteger você — repito, mas desta vez, com um sorriso genuíno.

— Está bem, eu entendi — ela sorri, seu brilho radiante iluminando o ambiente.

Ela se afasta e vou para o meu quarto. Fecho a porta atrás de mim e me sento na cadeira diante do meu notebook. As luzes do quarto são fracas, quase apagadas, refletindo o peso que sinto por dentro. Preciso de mais pistas sobre onde Dante está. A vingança é uma chama que não consigo apagar.

Abro a última foto que tenho de Dante, o rosto dele estampado na tela. Ele está tomando café e sorrindo enquanto conversa com alguém em uma loja em Londres. O ódio queima dentro de mim, intenso e feroz. Quero esmagar esse sorrisinho de seu rosto, arrancar essa falsa felicidade.

As lembranças daquele dia vêm à tona, como um pesadelo recorrente que nunca consigo esquecer.

Há 17 anos atrás...

— A gente vai mesmo conseguir fugir desse lugar? — pergunto a Dante, minha voz trêmula, carregada de medo e incerteza. Cada sombra parece uma ameaça, cada ruído, uma denúncia.

Dante, com seu sorriso confiante, responde: — Eu já preparei tudo. Se algo der errado, eu sei onde fica a arma do diretor. — Sua certeza me dá forças, uma chama de esperança em meio ao desespero.

Aceno para ele e seu irmão, saindo do dormitório masculino sem ser notada. A adrenalina pulsa em minhas veias enquanto volto para o meu quarto no dormitório feminino. Deito na cama, tentando imaginar um futuro onde estamos livres. Fecho os olhos, sonhando com o impossível.

Mas meu sono é interrompido horas depois por alguém me chamando. O segurança está à minha porta, sua expressão impassível. Esfrego o rosto, tentando afastar o sono e o medo, e sigo-o até a sala do diretor.

Assim que entro, o ambiente fica pesado, sufocante. O diretor está sentado em um sofá, fumando um charuto que enche a sala com um cheiro nauseante. Oiço a porta fechar, e a realidade me golpeia: estou sozinha com ele.

— Ouvi dizer que você anda indo para o dormitório masculino ver Dante e seu irmão. Isso é verdade? — ele pergunta, sua voz impregnada de acusação e ameaça.

Meu coração dispara, mas tento manter a calma. — Não... — respondo, tentando esconder meu pavor.

Ele dá um sorriso cínico e se aproxima, a expressão predatória. — Você sabia que meninas mentirosas sempre acabam mal? — sua voz é um sussurro gelado, cada palavra um aviso.

Fico em silêncio, o terror me paralisando. Ele vai até sua escrivaninha e pega uma seringa com uma substância azul. Meu estômago se revira.

— Você escolhe: ou você para de ser uma menina horrível ou eu transformo você em uma pior, mas bem educada — ele diz, aproximando-se com a seringa em mãos.

— Você vai fazer alguma coisa com eles? — minha voz treme, quase inaudível.

Ele sorri, sádico. — Não com eles, querida. Com você. — E antes que eu possa reagir, sinto a picada fria no meu pescoço. O líquido gélido se espalha, e meu corpo começa a amolecer. Tento gritar, mas o som não sai. A escuridão me envolve, levando-me para um abismo sem fim...

O som de alguém batendo na porta me traz de volta ao presente. Seco as lágrimas rapidamente e levanto-me para abrir a porta.

— Já está na hora de irmos, se arrume — minha irmã diz, o sorriso suave em seu rosto contrastando com a tempestade que se agita dentro de mim.

— Eu tenho mesmo que ir? — pergunto, a voz carregada de resignação.

— Sim, você prometeu me proteger. Vá se arrumar — ela responde, sua voz firme, mas gentil. Ela sorri antes de se virar e ir para o seu quarto.

Fecho a porta e encaro o espelho por um momento, vendo não apenas meu reflexo, mas também os fantasmas do passado. A vingança é uma trilha solitária, mas é a única que conheço. Respiro fundo e começo a me preparar, sabendo que cada passo me leva mais perto do inevitável confronto com Dante.

MortífagoOnde histórias criam vida. Descubra agora