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RICHARD

Se não fosse pelo cheiro de perfume feminino no carro, não teria como notar a presença de Lina no carro, desde que saí do estacionamento ela está em silêncio e se distraindo com sua câmera.

Mas eu gostei do cheiro dela, e da presença dela, mesmo em silêncio.

Eu sempre tento atender alguns fãs que esperam do lado de fora do CT, mas dessa vez apenas acenei através da janela um pouco aberta, dizendo que pararia com mais calma no próximo treino. Ligo o rádio com a mão livre e dirijo em direção o meu prédio e o de Lina, batucando meus dedos no volante antes de encaro a garota do meu lado, sentindo a curiosidade bater.

── Você se mudou recentemente? ─ pergunto acelerando um pouco. ─ não lembro de ter visto você antes.

── Tem alguns dias, o prédio fica mais perto do CT e da casa do meu pai.─ ela sorri de lado.

Concordo com a cabeça e volto a batucar os dedos no volante. Não havia notado quando Lina estava se apresentando antes do treino, mas desde que conversamos durante o treino, havia notado um detalhe pequeno sobre ela.

── Ríos?

── Oi? ─ me viro para a encarar.

── Você não para de batucar esses dedos e de me encarar, o que você tá querendo? ─ ela pergunta rindo.

Eu estava encarando?

Entro no estacionamento do prédio e balanço a cabeça.

── Tô querendo nada. Só reparei que você também tem um pouquinho de sotaque quando fala meu nome. ─ falo e ela concorda rindo. ─ é puxadinho.

── Ah, foi assim que você notou? E não comigo te pegando no flagra me chamando de chata em espanhol? ─ ela me encara, um sorriso de lado nos lábios enquanto encosta a cabeça no banco.

Coço a nuca levemente, um pouco envergonhado, não foi meu melhor momento.

── Me desculpe por isso também. ─ falo a encarando e ela ri balançando a cabeça.

── Não esquenta, eu te chamei de idiota quando nos esbarramos no corredor mais cedo. ─ ela pisca e sorri. — e eu sou da Espanha, respondendo sua pergunta. ─ ela fala e eu arqueio a sobrancelha surpreso. ─ mas meu pai, Marcos, ele é brasileiro. Eu vim fazer faculdade aqui e ficar perto dele, tentar criar laços com meu lado brasileiro, eu acho.

── E está dando certo? Criar laços.

Lina me encara pensativa e concorda.

── As vezes ainda é complicado, mas está sim. ─ ela sorri. ─ eu amo estar aqui, tirando a saudade da minha mãe e minha abuela.

Concordo com a cabeça e estaciono o carro na minha vaga, destravando as portas. Eu entendia bem o assunto sobre sentir saudade.

── Você está morando aqui de maneira definitiva então? ─ pergunto pegando a mochila dela e seu monopé após sair do carro.

── Não, eu pretendo voltar para a Espanha, só não sei quando ainda, é complicado. ─ ela sorri fraco. ─ ou talvez eu fique.

── É difícil ficar longe.

── É sim. ─ ela sorri de leve.

Aceno pra ela ir em direção o elevador e vou logo atrás dela. Sei que é uma coisa horrível de se pensar, mas que bom que Fernando, nosso fotógrafo, saiu e Lina entrou em seu lugar.

pode ficar, richard ríosOnde histórias criam vida. Descubra agora