III. Jongseong

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Quando o encontrou, jacintos azuis lhe coroavam a fronte, covinhas profundas nas bochechas ainda que estivesse por hora contendo o sorriso.

Jungwon trajava uma bata tangzhuang em cetim cobalto sobre calças num tom de rosa semelhante à chá de pêssego em flor. As vestes do diplomata delatando sua origem por ser o único naquele reino a nunca usar vermelho.

Observando o modo como ele destoava de Sunoo, em seu hanbok branco com entalhes em dourado, e Sunghoon, que usava um hanfu negro, não pôde evitar compará-lo ao instante do entardecer em que Ultor ainda era um arco de luz, mesmo que de um azul claro, e Cytherea se iluminava em rosa pálido antes de ser incendiada por carmesim.

Durava não mais que três segundos e, no entanto, era o momento favorito de Jongseong.

Sob as lanternas atadas aos galhos de abeto e os sinos de ventos pendurados entre as folhas, os dois rapazes do clã da Beleza contavam histórias a Jungwon sobre sua infância na Clareira Laminae enquanto teciam outros dois diademas, desta vez usando margaridas. 

Sunoo por vezes parava de entremear a coroa para gesticular, bochechas fartas se tornando rubras ante ao riso bobo que lhe rasgava a face. Park Jongseong o compreendia pois Yang Jungwon era bom em escutar, seus olhos redondos e negros atentos a cada pormenor do que lhe era dito.

Por isso eram todos tão absolutamente rendidos a ele, lhe convertendo em seu príncipe das flores. Tinha uma face curiosa, insaciável, e que o fazia parecer tão mais novo quando tinha nascido apenas um ano após Jongseong na contagem etérea.

— Snezhinka — o chamou, em nada amenizando a seriedade em seu timbre, pois chamá-lo de “floco de neve” no dialeto da clareira já daria indícios a Sunoo e Sunghoon sobre a austeridade com a qual Jongseong se portava em público não se aplicar ao cônsul enviado pela corte dos dragões do Leste.

— Hyung! — e Jungwon então sorriu, covinhas se tornando mais pronunciadas. Usara a forma de tratamento do idioma comum aos reinos e aos nômades que ninguém mais empregava em relação a Jongseong porque só poderia ser dita por um homem mais novo em relação a um mais velho do qual era próximo. E apenas a Jungwon ele tinha permitido que se aproximasse.

Notou que sua criança iria se levantar e meneou de leve uma negativa, se aproximando dos três.

— Boa noite — foi tudo o que disse a Kim Sunoo e a seu primo, Park Sunghoon. Sentou-se então junto a Jungwon sob o abeto e passou o braço pelas costas dele, iniciando uma carícia em sua nuca enquanto deitava o queixo em um de seus ombros.

Os rapazes lhe responderam aos votos de uma boa noite e ele lhes garantiu que poderiam retomar normalmente à conversa pois ficaria quieto. Sunoo de fato voltando a contar sua história porque já estava habituado com aquilo. Não raras eram as ocasiões em que Jongseong era incapaz de evitar tocar em Jungwon ainda que não pudesse verbalizar o porquê daquela vontade.

Se aproximou da orelha dele, seus lábios sem querer resvalando no lóbulo gélido, e então tragou o seu cheiro orvalhado antes de sussurrar:

— Finja estar com fome, precisamos conversar.

um conto sobre duas luas 🎐 jjk+pjmOnde histórias criam vida. Descubra agora