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É mais uma daquelas noites em que eu não durmo. Minha cabeça martela sempre as mesmas merdas: "Você ainda ama Caetano?"
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É claro que eu o amo... mas é complicado. Bom, eu pedi ele em casamento, não posso acabar tudo agora, né?
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Que merda eu tô falando? Nascemos um para o outro. Não é como se fôssemos adolescentes confusos e hipócritas.
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Eu me levanto silenciosamente e caminho até a cozinha. Pego meu diário pequeno e o ponho sobre a mesa. Abro as cortinas; a única luz que tenho é a dos postes. Escrevo, escrevo e escrevo. Tudo aquilo que eu ponho no papel me causa uma certa angústia.
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Querido diário, faz um tempinho que eu não escrevo, mas estou precisando. Eu tenho um noivo incrível, ele é o homem mais perfeito que eu já vi. Eu já disse isso a ele, mas ele sempre diz "não exagere, Chico." com aquele sotaque baiano, tal que eu amo.
Caetano sempre foi muito apaixonado, sua maneira de amar é tão sincera e intensa... Mas tem algo que me incomoda. Há uns anos atrás eu dependia dele, ele era meu vício, meu pecado mais caro... o tempo passou e infelizmente eu aprendi a viver sem ele. Eu escondi todo esse rolo de Deus e o mundo, eu menti pra Marieta, para as minhas filhas e meus pais, eu tinha uma fantasia de casado, de um homem fiel. Mas nas madrugadas eu o procurava, corria atrás dele, implorava por seus carinhos. Eu era dele, só dele... porém, eu fui burro o suficiente para acreditar que ele era só meu. Deixei o ciúme me levar e o mandei embora, pedi que sumisse da minha vida, e assim ele fez. Então, eu voltei para Marieta, chorei em sua frente implorando que me aceitasse de volta. Até hoje não sei o porquê dela me abraçar e dizer que estava tudo bem. Um tempo depois ela me disse que estava grávida da nossa terceira filha. Eu quis morrer.
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Eu suspiro e passo as mãos no rosto, indignado com meu próprio sentimento. Eu nunca fui confuso sobre algo. Peguei um cigarro no bolso e o fumei. Olhava para a parede enquanto tentava organizar os sentimentos e os pensamentos.
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Eu quero me casar com ele, claro que quero... mas é complicado. O "Chico de bigode" tinha mais certeza sobre o que queria, mas ele foi imaturo e burro.
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Larguei a caneta sobre o diário fechado e caminhei até o quarto. Abri a porta, tentando fazer o mínimo de barulho. Vi Caetano, ele tem um sono muito pesado, dorme feito uma pedra. Sentei na cama ao seu lado, o acordei, tentando não assustá-lo.
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- Amor... - Eu o chamo.
- Que foi? - ele responde baixinho, sem abrir os olhos.
- A gente precisa conversar.
- Agora?
- Sim, agora. É sobre nós.
Ele rapidamente desperta. Escorado na cabeceira da cama, ele esfrega os olhinhos vermelhos e me olha.
- O que te deu?
- Sabe... não é a mesma coisa, né?
- O que não é a mesma coisa, Chico?
- A gente, Caê...
