segundo capítulo: Era Uma Vez

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Eu não deveria estar conversando com um estranho. Muito menos com uma estranha criatura mágica voadora. Não sem antes reportar aos meus pais. Mas por algum motivo, senti que podia confiar em Aifos; e também, estava muito curiosa com tudo aquilo.

Quando cheguei em meu quarto, Aifos parou de voar, e se sentou sobre a borda da escrivaninha que, para ele, devia ser como um penhasco.

- Você deseja ouvir a esta história? - ele iniciou, e, quando eu estava prestes a assentir, seguiu com mais uma pergunta - Deseja compreender a Magia, sabendo que, poderão haver consequências irreversíveis em você e no mundo onde vive? Deseja saber sobre toda a maldade humana?

Eu não entendia parte das palavras proferidas pelo Minimago - Aifos tinha minha idade, mas falava como alguém muito mais velho - mas havia compreendido o que dissera.

Eu assenti, sem pensar muito. E então, Aifos me contou a história de como a maldição surgiu. Eu deixarei ela aqui, sem as interrupções constantes do meu eu-criança:

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COMO SURGIU A MALDIÇÃO E COMO OS SERES MÁGICOS FORAM BANIDOS

Era uma vez, há muito tempo atrás, uma era em que o mundo era repleto de seres mágicos.

Dentre eles, havia uma espécie muito mágica, porém, muito pacífica, chamada de Aigam. Era um povo cuja Magia era tão forte, que tivera que selar seus corpos mágicos em um outro corpo para impedir de causar estragos. Um pequeno corpo que continha sua magia.

A espécie inteira vivia em um grande reino. Todos eram estranhamente felizes. Não parecia haver um dia ruim na vida mágica das criaturas.

Não havia guerra; não havia fome; nem desigualdade. O rei, que regia o reino há séculos, era honrado pelo povo por sua grande bondade. Desde que ele subiu ao trono, não houveram mortes.

Até o fatídico dia.

Acontece que diferente dos Aigam, os humanos não tinham controle sobre a Magia. E eles o almejavam mais do que tudo, e sentiam inveja daqueles que o tinham.

Então, ao ver aquelas criaturas, cheias de vida e magia, eles decidiram destruí-las.

Eles caçaram e dizimaram os Aigam.

Porém, após alguns meses, Aifos Irucum I, O Abençoado, o rei, decidiu pôr um fim nesse derramamento de sangue.

Ele passou dias folheando livros e mais livros de feitiço, e encontrou a solução em um livro de maldições um tanto quanto sombrias, mas que parecia a escolha certa.

A maldição interligava todos os indivíduos de uma espécie pela alma, a partir do próximo nascimento. Se nascesse um humano, surgiria um Aigam. Se morresse um humano, morreria um Aigam.

A maldição duraria até que fosse quebrada, e o autor da maldição escolheria a circunstância de seu fim.

Era uma boa solução no momento, e quanto a consequências futuras, Aifos não teria de se preocupar, pois a Maldição tinha um custo: o feitiço lhe custaria a vida.

Mesmo assim, o Rei Abençoado não hesitou. Escolheu se sacrificar pelo seu povo.

E os humanos foram aos poucos parando de lutar contra os Aigam, até a paz entre as espécies perdurar por longos anos.

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- Essa história é um pouco contraditória. - disse Aifos - Alguns Minimagos veneram Aifos I pelo passado. Enquanto outros pensam ter sido uma ideia imprudente e idiota. Os Aigam viviam para sempre antes da maldição. Humanos são frágeis, muito suscetíveis a doenças. E qualquer coisa que afete os humanos, afetará também a nós. Então, para nossa própria sobrevivência, tivemos que usar nossa magia para ajudar os humanos.

"No início, formávamos uma relação simbiótica. Nós ajudávamos os humanos, e os humanos nos ajudavam. Eles nos ensinaram a lutar e a desenvolver feitiços de autodefesa, além de afastarem nossos predadores.

"Nós tínhamos uma conexão forte com nossos irmãos-de-alma.

"Mas, com o tempo essa ligação foi se desgastando. Vocês foram parando de nos ajudar, e passaram a usar a maldição para benefício próprio. Precisávamos de vocês para sobreviver. Então éramos obrigados a ficar.

"E tornamo-nos, aos poucos, escravos da humanidade.

"Cada vez menos, os humanos se importavam conosco, se tornaram parasitas dos Aigam. Apenas um pequeno grupo de humanos lutava por nós. Estes viajaram o mundo conosco. Eram os Viajantes.

"Então, nós e os nossos companheiros de viagem decidimos iniciar uma revolução. Os restante da sua raça não gostou nadinha.

"No fim das contas, os humanos obrigaram-nos a banir todos seres mágicos da terra, incluindo a nós, e todos que lutaram pela igualdade de nossas espécies foram amarrados contra um pedaço de madeira e queimados vivos.

"Porém, diz a lenda que antes de morrer eles lançaram uma maldição que dizia que com a volta dos Viajantes, as criaturas iriam caminhar mais uma vez pela terra, e a humanidade cairia."

— Então... — disse, mas fui interrompida por Aifos:

— É claro que isso não é verdade. Humanos não tem controle sobre Magia. Não podem lançar maldições. Todos sabem disso. Mas por algum motivo, os Minimagos acreditam nessa historinha. Foi um dos motivos de o conselho ter decidido por não revelar aos humanos. Eu estou revelando a você para provar de uma vez por todas que eles estavam errados. Eu...

— Gio! — escuto minha mãe chamar da cozinha — Vem lanchar!

— Já vou! — eu me viro para Aifos — Essa história é... Bem triste.

— Sim. E o pior é que meu povo segue sofrendo, tendo que trabalhar incansavelmente para os humanos desde os primeiros anos de vida, para a própria sobrevivência. Eu queria tanto libertar o meu povo dessa maldição. Mas... Aifos I não deixou nenhuma pista de como quebrá-la e pior: ninguém faz nada contra essa merda de maldição! Meu pai decidiu levar nosso povo de volta para a terra, para ser escravizado pelos humanos imundos! E pelo o quê? Um tempo de vida maior? De que vale uma vida longa se você vai passar ela inteira como escravo?

Aifos estava revoltado. E eu podia entender sua revolta. Mas então, um brilho surgiu em seu olhar. O Minimago indireitou a coluna.

— Eu sou o próximo na linhagem real. — ele disse, decidido — Sou o quarto dos Aifos, e vou consertar o erro de meu antepassado! Não importa quanto tempo leve, eu irei quebrar essa maldição! Eu vou libertar o meu povo!

Aquilo era muito peso para uma criança de dez anos carregar.

— Gio! — minha mãe chamou de novo.

— Já vai! — gritei. Então, fechei o assunto com o Minimago: — Olha, você não precisa fazer isso sozinho, tá? Agora que eu sei desse plano maluco, eu posso tentar te ajudar. Somos amigos, não somos?

Aifos abriu um sorriso com o comentário.

— Giovanna Pereira! — pude ouvir minha mãe subir as escadas para o segundo andar, sem paciência — Para de enrolar!

— Calma! — eu abri a porta, e me virei para Aifos uma última vez — Vem?

Ele assente, e eu saio do quarto.

— Meu Deus — disse mamãe — que demora!

— Eu disse que tava indo.

Descemos a escada juntas, e posso sentir a presença de meu irmão-de-alma atrás de nós.

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Finalmente! Kkkkkk

Eu fiquei sem ideia no meio do capítulo, fora que tava achando ele muito curto. Mil palavras. Mas às vezes um capítulo vai ser mais curto mesmo kk

Espero que tenham gostado, e espero não ter me distraído no meio da revisão kk

livro 1: ProfeciaOnde histórias criam vida. Descubra agora