11 - sua irmã

631 82 30
                                    

— POV: Renata

Vejo Cristal tremer um pouco e se virar na cama, olhando em volta. Seus olhos exalam surpresa, como se ela estivesse em completo choque.

- Tá tudo bem, princesa? — Eu pergunto, me desencostando da cabeceira da cama.

- Tá sim — Ela fala com pressa — Tá... tudo ótimo.

- Tem certeza? — Eu insisto.

- Tenho. Eu... vou tentar dormir.

     Ela se vira novamente e não fala mais nada. Cristal as vezes é um mistério. E com "as vezes" eu quero dizer quase sempre. As vezes eu queria poder entrar na mente dela só para saber tudo que ela está pensando.

Escuto meu celular vibrar e me assusto ao ver o nome de Teddy na tela. Puta que pariu, por que ele tá me ligando? Ele não ligou pra Cristal, só pra mim. Ele quer me matar de novo? Quer conversar?

Me inclino para checar Cristal e vejo que ela adormeceu. Pego o celular e corro pas o banheiro, atendendo antes que pare de tocar.

- Oi... Teddy? Tudo bem?

- A gente pode conversar? — Ele pergunta, sua voz mais calma do que eu esperava.

- Você não vai me matar né? — Eu pergunto por impulso.

- Não — Teddy responde depois de um tempo.

O fato de que ele precisou pensar na resposta me preocupa um pouco, mas eu preciso resolver isso. A aprovação do Teddy não é tão importante para mim quanto parece ser pra Cristal, mas ele ainda é como um irmão pra mim.

- Onde você tá? — Eu pergunto.

- Em um tal de... Beach Club? Acho que é isso.

     O restaurante dos Marabuntas, gangue do ex ficante da Cristal. Ótimo lugar para ir, Teddy.

- Certo, te encontro aí daqui a pouco — Eu falo e desligo.

     Me arrumo o mais rápido e silenciosamente possível e vou até o Beach Club. De certa forma, é um bom lugar pra conversar porque é um restaurante grande e podemos ir para um cantinho onde ninguém vai escutar. E é isso que fazemos logo depois que nos cumprimentamos.

     Sento de frente para Teddy, tentando conter meu nervosismo, e dou a deixa para que ele comece a falar.

- Eu só quero ouvir de você o que aconteceu. Quero conversar com a Cristal depois, dependendo das respostas que você me der, mas... sei lá, senti que deveria conversar com você primeiro — Ele fala.

     Ele está sendo bem... pacífico. Não é algo que eu esperaria do Teddy, considerando a sua personalidade e o seu histórico de... explosivo, para não usar palavras mais ofensivas.

- Tá... er- vamos lá. Você sabe que a gente viajou pra Las Vegas né? — Eu pergunto e ele assente — Pois é. Em uma das noites a gente bebeu muito e, de alguma forma, acabamos tendo a ideia de nos casar. É um clichê de filmes se casar bêbado em Las Vegas e parece mentira, eu sei. Mas foi isso que aconteceu. Não foi nada planejado, eu juro.

     Omito o detalhe de que fui eu quem tive a ideia, afinal, não é tão relevante. Não lembro 100% daquela noite, mas sei que Cristal acabou aceitando e ficando bem animada com o casamento, então não importa de quem foi a ideia inicialmente.

- Certo... — Ele fala, um pouco pensativo.

- Se em algum momento eu planejasse casar com a Cristal eu... eu tentaria contato com você. Não pra pedir benção ou algo assim, mas pra conversar. Eu ainda... eu ainda sou sua irmã, Teddy. Mesmo depois de tudo o que aconteceu, eu quero poder ser sua irmã.

     Ele olha para mim e, por sorte, não vejo nenhuma raiva em seus olhos. Um pouco de mágoa, talvez, mas é um olhar de alguém que está realmente me ouvindo e tentando entender.

- Eu também quero poder ser seu irmão, mas tá difícil — Ele fala e se encosta na cadeira.

- É, eu sei que tá...

- Eu sempre vou me importar com você, sabe disso né?

- Acho que eu sei. Sempre vou me importar com você também — Eu falo e nós ficamos em silêncio por um tempo até que Teddy faz uma pergunta.

- Por que vocês continuaram casadas se foi uma loucura de gente bêbada?

- Por que? Bem... a gente... é....

- Só fala a verdade, Renata. A gente tá confiando um no outro aqui.

- É que eu não sei a verdade — Eu admito — Não sei porque Cristal não foi direto em um cartório para resolver esse problema. Só sei que... a gente continuou assim.

- E é isso que você quer? Que continue assim?

- Não exatamente assim né... eu queria algo diferente.

- Um casamento de verdade?

- Talvez — Eu falo e percebo que falei demais — Não que eu- eu não pediria a Cristal em casamento assim né, seria maluquice-

- Será que seria? Não sei — Ele dá de ombros.

- Era pra você colocar senso na minha cabeça.

- A gente tá fazendo as pazes então tô falando o que eu acho que vai ser melhor pra você. Eu não vou me meter, nem te matar nem nada. Eu to tentando seguir a minha vida. Mas vocês duas tem que resolver isso aí.

- É, eu sei — Eu falo — Obrigada por não me matar.

- De nada — Ele fala e se levanta — Eu vou voltar pro meu hotel. Te vejo por aí.

     E assim ele sai como se não tivesse acabado de plantar uma confusão na minha cabeça. Pelo menos estamos bem, eu acho. Só que ele tem razão, eu preciso muito ter uma conversa com a Cristal.

___________________________________
OBSERVAÇÕES

Não gostei desse capítulo mas essa conversa era necessária pra seguir o caminho que eu tô planejando. Prometo que os outros vão ser melhores.

giorno-moretti - crisnataOnde histórias criam vida. Descubra agora