Capítulo 2

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    "Não posso errar nenhuma palavrinha na hora da apresentação. Ai... já pensou se eu me confundir e os meus colegas começarem a rir de mim? E se, eu paralisar na hora? O que eu vou fazer se eu esquecer do texto? " - Pensava Valentina histericamente, enquanto andava de um lado para o outro do quarto. Tudo o que passava pelo pensamento da menina naquele momento girava em torno da sua ansiedade e desespero pela apresentação. 

    Resolveu ler o texto mais uma vez, para treinar e "relaxar". Mas foi em vão: quanto mais lia, mais nervosa ficava. Pensou seriamente em pedir à mãe que faltasse à aula no dia seguinte, mas logo pensou em como seria ter que passar o dia inteiro na companhia do seu pai. Decidiu-se por fim, fazer a única coisa que lhe restava: sentar e chorar. Fez isso sem nenhum escopo de deter as lágrimas. 

    Tão logo, sua mãe entrou no quarto para saber o que estava acontecendo: - Valentina? Está tudo bem querida? Por que está chorando? - Perguntou preocupada.

     - Ah mamãe, é essa apresentação que eu tenho que fazer amanhã na frente da sala inteira! - respondeu a pequena em meio às lágrimas.

     - Tudo bem, mas eu ainda não entendi qual é o problema. - Retrucou Jéssica, instigando que a menina explicasse qual era o real motivo do choro e soluços evidentes.

     - É... é que... eu não... consigo falar... sem... ficar nervosa. Eu... eu vou... errar.... - respondeu Valentina em meio a lágrimas e soluços, que tornava o "desespero" da menina ainda mais engraçado para Jéssica.

    - Querida.... Não pense assim. Você não vai errar, muito pelo contrário, tenho certeza que você vai arrasar! - Disse Jéssica rindo, e tentando animar a menina de algum modo.  

    Valentina respirou fundo e decidiu não se preocupar mais com a mãe com sua choradeira. Enxugou as lágrimas e pediu à Jéssica para assistirem TV juntas. Sua mãe, porém, disse que estava muito cansada e queria apenas deitar-se na cama e descansar. Em seguida, disse que Valentina também deveria ir dormir, para se preparar para a apresentação do dia seguinte. Porém, para Valentina, dormir era algo quase impossível, pois ela sabia que a sua ansiedade não seria muito a favor disso.

    Logo nos primeiros raios de Sol que deram "olá" à Valentina pela manhã, entrando no seu quarto através da pequena janela de acrílico, ela levantou-se rapidamente, e começou a andar de um lado para o outro, com a folha na mão, tentando decorar cada parte do pequeno texto que tinha que ler. Sua parte da apresentação era pequena, tratando de um assunto não tão importante - separado pelo líder da equipe justamente para ela, já que ele sabia que ela não era tão boa em falar em público -, porém, mesmo assim, o nervosismo tomava conta de sua cabeça. Decidiu se arrumar rápido e saiu em marcha em direção à escola. 

     Ao chegar na sala de aula, sentou-se rapidamente em sua carteira, enquanto assistia as outras equipes se prepararem para as suas respectivas apresentações. Então Carla, a temida professora de Português, entrou da sala, dando voz para que todos os alunos começassem a se organizar. O tão temido momento chegou: era a hora da apresentação. 

     Quando a equipe de Valentina foi chamada à frente da turma, ela já estava no ápice da inquietação e do nervosismo. Suas mãos suadas, o estalar de seus dedos e o remelexo constante de sua perna esquerda denunciavam isso claramente. Tudo que a pequena garota conseguia desejar insistentemente, era que aquela apresentação terminasse para que ela pudesse voltar à sua carteira e enfiar-se atrás do seu caderno. 

     De fato, para qualquer outra pessoa, não havia motivo para ficar tão nervoso daquele jeito; Valentina já havia decorado todo o texto que tinha que ler, e... era um texto tão pequeno – apenas duas linhas e meia, contando com a parte final da apresentação que dizia: "esse foi o nosso trabalho, obrigada pela atenção" - . Porém, para uma pessoa totalmente ansiosa como Valentina, aqueles 5 minutos de apresentação mais pareciam uma eternidade de tortura psicológica, e seu pequeno texto soava em sua cabeça como um discurso de uma palestra.

     Para a sorte dela mesma e do grupo, Valentina conseguiu falar o seu texto corretamente sem gaguejar – o que, para ela, já era um avanço gigantesco -. Mas, em compensação, não conseguia olhar para a turma enquanto falava, nem para a professora, que tomava notas da apresentação com um olhar crítico e severo, que todos que conheciam a professora Carla, temiam.

    Terminada a "sessão de completa humilhação e caos" – como Valentina denominou a situação mentalmente -, sentou-se em sua carteira com a cabeça, tal como desejava. Porém, para sua tristeza, não teve seu momento de "paz e sossego" para se recompor de todo o nervosismo que passara, pois, alguns colegas foram cumprimentá-la e parabenizá-la pelo seu desempenho na apresentação. 

     Por um lado, sentiu-se bem; era maravilhoso para ela, receber elogios por algo que havia feito bem, pois quase não ouvia esse tipo de comentários, porque sua mãe passava o dia fora de casa, e seu pai, bom, ele não era bem o tipo de pessoa que gostava de elogiar alguém. Mas, por outro, sentia-se desconfortável, pois não estava acostumada a receber atenção e palavras sinceras de afeto, nem dos seus pais, nem dos colegas.

    Valentina não sabia, mas, isso provocaria nela uma grande dependência emocional e necessidade constante de receber esse tipo de demonstração afetiva por parte dos colegas. Precisava dela para sentir-se válida de alguma forma, sentir-se especial, valorizada.

    Acabado o horário de aulas, a sirene da escola tocou, indicando que os alunos já estavam liberados para saírem. Ao passo que Valentina guardava seus materiais na mochila, Gabriela, Cecília e Clarisse, conhecidas na escola inteira por fazerem bullying e zombarem de todos que se mostravam indefesos, se aproximavam dela. Ao avistá-las, Valentina estremeceu; suas mãos ficaram gélidas e trêmulas e sua respiração, descompassada. 

     Gabriela, a "abelha rainha", líder do trio, olhou para Valentina e, com tom de deboche, começou a rir, concomitantemente por suas amigas. 

    - Vejam só meninas, o bicho-pau falou mais que dez palavras – disse Gabriela, na tentativa de fazê-la sentir-se insegura com sua apresentação – Ai, ai, sinceramente Valentina, você é ridículo, não consegue nem encarar a professora enquanto fala... Na verdade, bicho-pau, você não encara ninguém né? Acha o quê? Que nos olhos das pessoas existem fuzis que vão estourar na sua cara se você as encarar?! – completou rindo Gabriela, ao passo que as duas outras meninas faziam a representação da cena hipotética citada por ela.

    - N-não, não é isso... É-é que e-eu não.... – Valentina, temerosa e inquieta, tentou explicar-se.

    -Shh, shh, shh, quietinha, querida - disse Gabriela colocando o dedo na boca de Valentina – eu não quero ouvir suas desculpinhas, só quero lhe lembrar, bicho-pau, que você nunca vai conseguir ser ninguém nessa vidinha miserável que você terá.

    Ao dizer isso, as três se foram, gargalhando alto pelas maldosas palavras lançadas como flecha para Valentina.

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