Capítulo 4

6 2 0
                                    

      - Rogério, por favor, abaixa essa faca! Você não quer fazer isso! Por favor! – Clamava Jéssica, em meio a lágrimas, se arrastando pelo chão da cozinha.

      - Eu quero mais é que você suma da minha vida, e se eu tiver que te matar pra fazer isso, eu vou!

      - Rogério, me escuta, você está bêbado! Não faça isso! O que vai ser da nossa filha? – Com dificuldade, Jéssica tentou se levantar, ainda em meio às lágrimas e colocando as mãos à sua frente em defensiva. – Solta essa faca, por favor!

      - Cala sua boca, sua cachorra imunda! Eu quero que você e aquela peste vão pra... – gritou Rogério, proferindo um palavrão. Jéssica voltou a se derramar em lágrimas, assustada com o que aconteceria à ela, e principalmente, à Valentina.

      Soltando um grunhido, Rogério jogou seu canivete no chão e partiu para cima de Jéssica, que se levantou e correu o mais rápido que pôde até a porta. Porém, antes de chegar, ainda no corredor, Rogério a alcançou e a puxou com força pelo braço, fazendo-a cair no chão, gemendo de dor.

      Naquele momento, tudo o que Jéssica sentia era dor e mais dor, chorava e gemia, esperando que alguém a escutasse. Rogério a agredia com força, esmurrando seus braços, seu rosto e chutando sua barriga e costas. Ela já estava perdendo suas forças e temia desmaiar. Foi então que Rogério, que estava para dar mais um murro em seu rosto, parou, esbravejando:

      - Levanta! Vamos, levanta sua imbecil! Sai da minha casa, agora!

      - Va... Valentina. Arh! – suspirou Jéssica, e se contorceu de mais dor.

Rogério, enraivado e esbravejando, puxou Jéssica pelos braços e a arrastou até a porta.

***

      "Esse silêncio é tão constrangedor! Por que ela não diz nada?" – pensava Valentina, já inquieta com a situação.

      Ana procurava entender o que a impedia de agir ou falar qualquer coisa, quando ouviu a Voz falar em seu coração com força, como quando um general dá ordem aos seus submissos: "Trave as portas do carro, afivele seu cinto e proteja a menina. Não se desespere. Eu estou contigo!"  

      Atônita, Ana pressionou o botão de trava do carro, e, enquanto afivelava seu cinto, ordenou que Valentina fizesse o mesmo. Surpresa, a menina obedeceu sem relutar. Ana estava aflita, e repetia mentalmente as últimas palavras que ouviu: "Não se desespere. Eu estou contigo!" Ela tentava se acalmar e fortalecer seu espírito, imaginando o que aconteceria.

     Ouviram um barulho alto, ferro rangendo. Imediatamente, Valentina, já familiarizada com aquele som, olhou para a porta de sua casa, gritando horrorizada com o que via: seu pai, com a pior feição que ela já havia visto, arrastava sua mãe pelos braços para fora, deixando-a quase desmaiada na calçada. A menina notou o sangue e hematomas e começou a chorar, gritando desesperada para que Ana abrisse a porta. A mulher ainda estava tentando compreender o que estava vendo, ou tentando assimilar o que estava acontecendo, enquanto pedia para que Valentina se acalmasse e recolocasse o cinto, que ela havia tirado ao começar a chorar.

      - Me deixa sair, por favor! Você não tá vendo minha mãe ensanguentada ali no chão? – Suplicava Valentina em meio às lágrimas.

      - É perigoso, esse homem pode fazer algo contra você! Se acalme, por favor, eu vou ligar para a polícia! – Retrucou Ana, enquanto discava o 190 no seu celular.

      Naquele momento, algumas ruas atrás, uma perseguição policial acontecia: duas viaturas perseguiam uma moto com dois homens que haviam acabado de assaltar uma loja alguns quarteirões antes, sendo acionadas imediatamente.

Lance sobre Ele toda a sua ansiedadeOnde histórias criam vida. Descubra agora