Capítulo 3

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O Chefe Está com Abstinência

Álcool, drogas, festas, orgias... Havia um número incontável de opções para que o grande e poderoso yakuza, Ryomen Sukuna, estivesse com abstinência. Entretanto, nenhum de seus capangas sabia qual das opções oferecer, visto que nada lhe agradava.

A sala do chefe na mansão secreta dos yakuza, oculta no coração da metrópole, era um verdadeiro campo minado. Paredes adornadas com arte tradicional japonesa e ornamentos luxuosos contrastavam com a tensão no ar. Sukuna, sentado em sua cadeira de couro imponente, tinha um olhar feroz e inquieto. Nenhum deles sabia que, na verdade, o chefe estava com abstinência de um certo jovem de carranca natural e cabelos negros que, por intermédio do destino, viajou com a família amável para o outro lado do planeta.

Enquanto Megumi estava distante dele, Sukuna sentia-se tonto e irritado. Qualquer palavra, uma respiração errada próxima a ele, já era motivo para que o dragão dos Ryomen saísse da caverna e jorrasse fogo em seus subordinados.

A única pessoa que podia entrar na sala sem ser alvejada era seu inofensivo sobrinho Yuuji, de cinco anos. O pequeno se infiltrava na mansão como um coelho indo deliberadamente até a toca de um lobo, completamente alheio ao clima pesado que dominava o local.

"Titio," chamou Yuuji, carinhosamente. "Por que você está emburrado?"

Sukuna virou seus olhos escarlates para a fonte adorável de fofura numa fantasia de Sully dos Monstros S.A, e toda raiva e frustração foram suprimidas num piscar de olhos.

Ele pegou o pequeno no colo, girando a cadeira levemente para o lado.

"Seu tio está com saudades de alguém."

"Da sua namorada?" perguntou Yuuji, com a voz doce.

Sukuna franziu o cenho. Não devia ser conhecimento de ninguém que ele agora tinha um alvo para suas cobiças mais secretas. Se alguém tão ingênuo como Yuuji sabia, quer dizer que as paredes tinham ouvidos. Isso significava que alguém o ouviu paquerar de forma absolutamente melosa com seu querido Megumi ao telefone em algum momento da semana.

Ele desviou o olhar afiado para a porta de madeira retinta da sala vermelha, quase como uma Medusa capaz de petrificar qualquer um que olhasse na sua direção. Quem estava por trás da porta sentiu um frio súbito escalar suas colunas.

"Está com saudade, titio?" continuou Yuuji.

"Muito."

"Quanto?"

"O suficiente para queimar tudo para ir atrás dele," disse Sukuna, seriamente.

Yuuji o olhou com admiração. Então indagou:

"É tipo o tanto que eu gosto de bolo de morango?"

"Isso mesmo," respondeu Sukuna. "Ele é meu bolo de morango."

"Entendi..." Yuuji refletiu tranquilo em seu colo, segurando sua gravata. "Titio."

"Hm?"

"Mamãe diz que faz mal comer bolo de morango todo dia."

Sukuna sorriu de canto, quase de forma amorosa.

"Meu bem, por ele, eu já fui diagnosticado com diabetes."

O pequeno o observou novamente com admiração, apesar de não entender, e sorriu.

"Vai ter dor de barriga!"

Sukuna girou os olhos, ignorando as brincadeiras do sobrinho.

Enquanto isso, no Brasil, Megumi estava em João Pessoa, batendo fotos de seus pais no Farol do Cabo Branco. O calor tropical e a brisa marítima eram uma mudança bem-vinda do clima frio do Japão. Ele sentiu um arrepio peculiar subir pela sua espinha, como se um fantasma tivesse sussurrado em seu ouvido.

Ele olhou ao redor, confuso. Sob o monumento histórico, sua mãe sorria alegremente com um chapéu de palha, enquanto seu pai, um homem gigante e emburrado de quem Megumi herdara todas as características, seguia a esposa como um guarda-costas para todos os lados.

"Megumi! Vamos!" gritou a mulher de cabelos negros, agarrada ao braço musculoso do marido de roupas florais.

"Estou indo."

Inevitavelmente, Megumi se perguntou o que aquele doido varrido estaria fazendo a essa hora.

De volta à mansão yakuza, Sukuna suspirava profundamente, encarando o telefone como se esperasse que ele tocasse magicamente com uma ligação de Megumi. Seus subordinados trocavam olhares preocupados, tentando ao máximo não atrair a ira do chefe. 

Um deles, mais corajoso, sussurrou:

"Talvez devêssemos ligar para o dono do chefe?"

O olhar fulminante de Sukuna foi suficiente para silenciar qualquer sugestão.

"Eu vou buscar meu bolo de morango, nem que tenha que atravessar o oceano para isso," murmurou Sukuna para si mesmo, enquanto Yuuji ria e brincava com sua gravata.

"Yupiiii!" gritou o pequeno.

You're my puppyOnde histórias criam vida. Descubra agora