Capítulo 02

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— É seu irmão, é? — Kelvin perguntou, olhando-o de cima abaixo — Vocês não se parecem muito.

Apenas um tem educação.

— Nossa, todo mundo diz isso. — Ela falou com uma risada, aproximando-se do irmão e sorrindo — Mas os cachinhos são idênticos!

Apesar da sua irritação, Kelvin tomou alguns segundos para reparar em Ramiro, que realmente tinha poucas semelhanças com a irmã. A pele negra parecia ser dourada, embora a iluminação não o  valorizasse muito, cachos perfeitos em um corte mullet e um corpo...

Poderia ser um babaca, mas realmente era um colírio aos olhos.

— É porque ela nasceu crua, por isso o pessoal estranha. — Brincou, puxando a irmã para perto, rindo do tapa fraco que levou.

— Pelo menos eu nasci com carisma! Você vive com essa cara fechada aí, abre nem um sorriso. — Falou, fingindo irritação e chegando perto do amigo para cumprimentá-lo direito, mas franziu o cenho ao sentir o cheiro forte que vinha dele — Amigo, que cheiro forte de álcool é esse? Já bebeu esse tanto? — Ela perguntou, preocupada — Você tá bem?

— Relaxa, Laisa. Foi o seu irmão aí que derrubou bebida em mim, mas foi tranquilo. — Kelvin falou a contragosto, não querendo se indispor com a amiga ao xingar seu irmão — Tô todo molhado.

A mulher cerrou os olhos em direção ao irmão, abrindo a bolsa e pegando um lencinho que sempre carregava e entregando ao amigo para tentar arrumar o estrago.

— Inclusive eu tenho que ir pegar uma bebida nova. Ainda bem que tem de sobra. — Ele falou, se preparando para se afastar da dupla.

— Traz umas para nós também? — Laisa pediu batendo os cílios — Pelo menos você se redime por ter deixado meu amigo parecendo um bêbado de calçada.

— Não me defenda mais não, amor. — Kelvin brincou — Vai acabar me humilhando demais assim.

A dupla riu, nem percebendo quando Ramiro, a contragosto, foi até o bar para pedir três doses de chope. Sua irmã sempre tinha o poder de conseguir o que queria apenas com aquele jeito meio dissimulado que aprendeu a ter.

— Com essa situação toda, eu nem te vi direito, mulher. — Kelvin falou, abraçando-a rapidamente e depois olhando-a de cima a baixo — Como pode você estar tão diferente de ontem, sendo que você só substituiu uma calça por um vestido?

— Batom vermelho e um salto faz milagres, Kelvin. Agora vem, temos que ir atrás do meu irmão, porque senão ele bebe tudo e nem volta para ficar com a gente!

— Ele vai ficar com a gente?

— Vai, ué. Somos novatos e ele conhece muita gente por aqui. Seria bom colar nele para fazer amizades, principalmente com gente dos outros períodos.

Kelvin não se deu ao trabalho de argumentar, sabendo que a irritação provavelmente sumiria depois que o álcool entrasse no sangue. Contudo, a sensação úmida da sua camisa e o cheiro forte de cachaça seriam um lembrete constante disso.

No outro lado da festa, um trio de veteranos estava reunido em uma mesa redonda, com vários copinhos vazios e risadas altas. Pareciam fazer uma aposta que nem eles entendiam o sentido, mas estava divertido.

— Sabe com quem eu topei quase agora por aqui? — Diego falou alto, virando mais uma dose — Com o reitor. Pensei que ele era careta demais para vir a uma chopada.

— Reitor Amaury? Gente, mas esse ano já começou com surpresa... — Larissa falou, também tomando mais uma, os cabelos ruivos caindo como cascata atrás dela — Inclusive, tem alguns professores aqui também, né?

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