Capítulo 8: Reflexo deplorável

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Hailee Steinfeld

Observando o modo como interagiam, não restaram dúvidas: eles eram apenas amigos. Eu não me considerava especialista nem possuía um talento particular para detectar nuances, mas, às vezes, embora remotos e sutis, alguns sinais de interesse romântico não passavam despercebidos aos meus olhos. E, inegavelmente, eles eram bons amigos. A ligação entre os dois era clara e descomplicada. Rebecca não mentiu – pelo menos sobre isso – quando disse que a relação deles era exclusivamente de amizade.

Feliz por vê-la, decidi adiar nossa discussão. Mas a bonitinha que me aguardasse, pois ainda abordaríamos o assunto, e ela teria que explicar por que me enganou a respeito dos irmãos Cooper.

Eu até entendia que ela agiu pensando no meu bem-estar, mas isso não anulava o quanto me sentia frustrada e traída. Aquilo mexeu com meus nervos em um grau tão absurdo que acabei agindo de maneira irracional. Sempre fui do tipo sensata e cautelosa, que pensa bastante antes de avançar qualquer passo. Mas, sem saber como lidar com aquela mentira, perdi o controle dos meus próprios atos.

Rebecca estava mais desgovernada do que eu ao me encontrar na cozinha do amigo dela. Sua curiosidade em saber como eu fui para ali, sem sequer tivéssemos sido apresentados, era evidente. Ela sabia que não costumava me aventurar ou sair dos trilhos, mas nossa cabeça é muito fértil, e acaba plantando e sustentando teorias que nem sempre fazem sentido. E, muito possivelmente, a ideia de que dormirmos juntos perambulava por sua cabeça.

O garoto, por sua vez, não estava com pressa de esclarecer nada. Na verdade, ele parecia estar se divertindo com o suspense, brincando com a nossa tensão; o brilho maroto em seus olhos delatava sua astúcia.

Ainda assim, um clima plácido se instalou no ambiente com a chegada da minha prima. Apesar de estar brava por causa da descoberta da noite anterior, era impossível não ser envolvida por um profundo sentimento de alívio com sua presença. Rebecca emanava uma aura boa e radiante. Honestamente, eles emanavam. Apesar da carinha de cínico, o garoto não parecia ser uma má pessoa, tampouco um psicopata. É claro, psicopatas são lobos em pele de cordeiro e nunca revelariam sua verdadeira face logo de início. Mas ficava palpável que aquela não era só uma falsa aparência...

Minha prima tinha um instinto apurado para ler as pessoas... e para identificar maus-caracteres e manipuladores.

Quando comecei aquele maldito rolo com o Ethan, ela cansou de me alertar para manter distância.

Raul, por outro lado, não aparentava ser alguém que me faria mal ou faria coisas sem o meu consentimento. Ele parecia radiante demais para alguém de ressaca. Eu estava destruída, mas ele estava revigorado, sinal de que devia ter ficado sóbrio na festa. Se conhecia bem Rebecca, saberia que, caso ousasse tocar um dedo em mim, no mínimo, acabaria enterrado vivo.

Depois que o medo desapareceu e minha mente desnuviou, a ideia de que havia feito alguma besteira me arrancou da defensiva.

E a incerteza ia acabar me deixando louca.

— O Simon falou com você e o Tae ontem?

— Nos vimos jogando ping-pong da cerveja, mas ele não mencionou nada que eu achasse relevante. Tudo pareceu normal.

— Caramba, Montgomery — murmurou ele para si mesmo, agitando a cabeça negativamente.

— Por quê? Havia algo importante que ele deveria me contar? — indagou Rebecca, se aproximando dele.

Always Been You • Shawn MendesOnde histórias criam vida. Descubra agora