Always Been You • Shawn Mendes

Capítulo 11: Gostinho doce da liberdade

Shawn Mendes

Aquele parecia ser o dia mais longo e angustiante da minha vida. O tique-taque do relógio martelava em minha cabeça, quase como se estivesse sincronizado com as palavras que eu repassava incansavelmente. Não absorvia uma única frase do que o Professor Turner explicava, muito menos prestava atenção à conversa trivial dos meus amigos. Tamborilando a caneta no caderno, observei Becky, brevemente. Ela mencionava algo sobre um novo pub, mas não consegui reunir forças para me concentrar no que dizia.

Fixei meu olhar no caderno e, num instante fugaz, aquelas vozes tornaram-se apenas murmúrios ínfimos, até se esvairem completamente...

E, outra vez, encontrava-me imerso em pensamentos.

Quando o sinal da última aula tocou, despertei dos devaneios e inspirei profundamente, sentindo meus músculos relaxarem enquanto uma sensação de conforto suave me envolvia. Guardei os livros na mochila e segui com Taehyung, Cameron e Becky pelos corredores do prédio de engenharia.

Foi então que, à medida que a sensatez clareava minha mente, percebi o quanto fui ingênuo em sustentar aquele namoro tóxico e sufocante. O barco afundava um pouco mais a cada dia, e eu era o único que não via. Agora, sabia bem que precisava abandonar tudo antes de ser engolido por aquele mar devastador chamado Sabrina Carpenter.

Durante a adolescência, ficávamos juntos sempre que surgia uma oportunidade. Mas o pedido oficial de namoro – aguardado ansiosamente por nossas mães – só aconteceu quando já estava no segundo ano da faculdade. Meu pai, no entanto, nunca aprovou completamente. Em seu ponto de vista, Sabrina era apenas uma garota mimada e cheia de frescuras.

Ele estava corretíssimo...

Sabrina era uma bomba-relógio. Com o tempo, aquele mar de rosas transformou-se em um tsunami de problemas e tormento. Eu não suportava mais as cobranças incessantes, os ciúmes excessivos e os julgamentos por coisas que sequer fazia. Fui cego, sim. Todavia, aquela venda foi arrancada, e não aceitaria mais viver sob a sombra de uma namorada possessiva.

Decidi seguir meu lado lógico: terminaria com Sabrina naquela noite. Estava nervoso, isso era notório. Durante o percurso para meu apartamento, meus amigos me aconselhavam sobre como agir e quais argumentos usar. Além de serem os melhores amigos do mundo, conheciam Sabrina bem o suficiente para prever que não seria fácil cortar laços com ela.

Chegamos ao edifício e pegamos o elevador até a cobertura. No meu vigésimo aniversário, ganhei um apartamento como presente do meu pai. O sr. Mendes não economizou na escolha: era o maior e mais caro. Sempre fui um garoto quieto e disciplinado. Enquanto muitos estavam ocupados vivendo experiências loucas, eu me preocupava em manter as boas notas. Estudava tanto que era considerado o nerd da turma, mas isso não me impediu de ser o alvo das expectativas da minha mãe, que sonhava que eu me destacasse ainda mais, como Sabrina Carpenter.

Meu pai era mais atencioso e compreensivo. Em muitos momentos, ele insistia para que eu acompanhasse Cameron nas festas. Era um conselheiro e se dedicava ao conforto emocional dos filhos. Por outro lado, minha mãe se certificava que eu estivesse indo bem no colégio. Controladora. Sargentona. Amava dominar todos ao seu redor. Foi justamente por causa da sua intromissão que entrei naquele namoro raso com Sabrina.

Cheguei a me questionar se realmente amei Sabrina um dia ou se aquilo foi apenas fruto da persistência da minha mãe em botá-la em um pedestal.

Peguei dois pedaços de brownie, enchi um copo de suco e me guiei para a sala. Me acomodei no sofá e passei o restante do tempo assistindo série com meus amigos.

Precisaria de muito autocontrole para enfrentrar aquela fera...

Inclinei-me e apanhei o celular na mesa de centro. Desbloqueei para checar as horas: 20h00. Aproveitei para averiguar se Sabrina havia desistido do restaurante refinado e, para variar, acatado meu pedido de irmos para uma praça no centro da cidade. Lógico que não. Ela teimava em irmos ao "Milestones". Certo. Se ela queria levar um fora em grande estilo... tudo bem! Afinal de contas, havia soltado pistas a semana inteira de que as coisas não andavam bem entre a gente.