Meu sonho

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Valentina
Pov's

Que manhã péssima! Não sei como isso acabou acontecendo. Eu tinha tudo planejado para uma segunda-feira perfeita. Ontem à noite, antes de dormir, conferi o volume do alarme, deixei minhas roupas separadas perfeitamente e fechei a janela - ou tinha certeza de que havia fechado. Mas agora são 08:30 e me encontro totalmente atrasada para o trabalho. O erro começou no fato de que conferi o volume do celular, mas não sua bateria. Me levantei em cima da hora, com a luz do sol na minha cara, e tive que fazer tudo às pressas. Derrubei café nas roupas separadas e, como se não pudesse piorar, fiquei presa no trânsito.

Não que minha chefe seja uma megera e me demita por um único atraso, mas isso não acontece comigo, não com Valentina Valencia, jornalista esportiva há 3 anos, que tem como sonho cobrir as Olimpíadas. Não posso vacilar com esse sonho estando tão perto. Agora, estou chegando aos portões da emissora, arrumo meu crachá, confiro minha roupa e entro pelas portas giratórias do salão de entrada. Independentemente do quanto tempo passe, sempre vou ficar admirada com a beleza deste lugar.

- Logo entro no elevador para subir ao meu setor e encontro meu pior pesadelo da manhã.

- Valentina, Valentina, não posso acreditar que você chegou atrasada! Justo a favoritinha dos chefes. - Fernando ri com escárnio, liberando aquele bafo de jacaré em plenas nove da manhã. Tento responder o mais calmamente possível, esforçando-me para não perder a paciência e socar a cara desse homem com bafo nojento.

- Bom dia para você também, Fernando. Aconteceram uma série de eventos que acarretaram no meu atraso, embora eu não deva satisfação a você.

Digo isso e, nesse mesmo momento, graças a uma força suprema, a porta do elevador se abre. Saio o mais rápido possível, finalmente respirando ar limpo e não tóxico, e me dirijo à sala da minha chefe.

Bato na porta e espero alguns segundos pela resposta, até ouvir um "entre", gentil como sempre. Abro a porta com um leve sorriso e me dirijo para perto da mesa de Eliza.

- Bom dia, senhorita Eliza. Gostaria de me desculpar pelo atraso. Sinto muito e garanto que não irá acontecer novamente.Eliza levanta os olhos do computador e sorri de maneira compreensiva.
- Ah, Val, sem problemas. Sei que você é uma funcionária responsável, então não estou realmente preocupada com isso. Só peço que não se torne um hábito.

- Pode contar com isso, chefe. Vou me esforçar para que não aconteça novamente.

- Eu confio em você. Fico aliviada em saber que é um incidente isolado. Se for só isso, você pode retomar suas atividades.

Depois da conversa extremamente bem-sucedida com a minha chefe, saio da sala com um suspiro de alívio. Sei que sou muito sortuda por ter uma chefe como Eliza, sempre com seu tom gentil e compreensivo. Reflito sobre isso por alguns minutos, mas logo espanto esses pensamentos, pois tenho muito trabalho a fazer. Com as Olimpíadas, o evento esportivo mais importante do mundo, prestes a começar, não tenho muito tempo para me distrair. Faltam exatamente 7 dias para essa maravilha começar e, como uma apaixonada por esportes, posso dizer que esses 17 dias serão um paraíso para mim.

Imaginar que logo mais sairá a lista dos jornalistas escalados para cobrir o evento me alegra e me dá uma grande ansiedade, pois esse sempre foi meu sonho dentro da minha profissão. É um momento importante que pode definir o rumo da minha carreira. Com isso em mente, é preciso manter o foco. Pensando nisso, me dirijo à minha mesa e começo os trabalhos. Nada fora do comum: um dia inteiro lidando com documentos, criando matérias e especulações sobre possíveis medalhistas. Os dias em que não estou em campo, ou nas quadras e pistas, são apenas toleráveis; o que eu realmente amo é estar lá fora.

O dia passa rápido. No meu intervalo, fui com minha amiga Luana almoçar no refeitório. Conversamos sobre vários assuntos; tudo na presença dela se torna muito leve e divertido. Então, se tivéssemos que conversar sobre um tijolo, com certeza seria uma conversa produtiva. Mas nosso tópico, como sempre, estava em torno de trabalho e esportes.

Ela começou com um grande sorriso no rosto e muita animação

-Fala aí, Valentina, como está se sentindo sabendo que vai para Paris? - me cutucando logo depois.

-Para, Lu, você sabe que não é nada confirmado. Tem funcionários bem mais velhos que a Eliza pode escolher levar.

-Ah, nem vem com essa, Val. Todo mundo nessa empresa sabe que você está mais confirmada do que as bolas nessa Olimpíada. Só você que não aceita.

-Que assim seja então, e eu espero que você esteja lá comigo, Lu. Preciso que controle meus surtos de emoção, dependendo de qual esporte eu ficar encarregada, provavelmente eu colapsarei de emoção.

-Puts, nem me fala. Quero muito ficar com vôlei ou futebol. Vai ser tudo incrível. Nem vou te perguntar qual você quer, porque sei que a senhorita não larga o tênis nem se for açoitada.

-Você me conhece tão bem, Lulu - digo com uma voz fofa e brincalhona, e logo observo ela dar uma risada sincera, que eu acompanho.

- Tudo isso por causa de mulher - diz, ainda recuperando o fôlego. Como reação, eu rio mais e dou um tapa no seu braço.

- Respeita, Luana. E por favor, respeite minhas "esposas" tenistas também.

Depois disso, o resto do dia passou rápido e nada de diferente aconteceu. Até que faltando 15 minutos para o fim do expediente, a chefe Eliza e o chefe da área de narradores e comentaristas aparecem no escritório e pedem a atenção de todos. Sinto a ansiedade tomar conta da sala; sei o que todos estão pensando, é o mesmo que eu: agora é a hora que definirá o futuro de muitas carreiras. Eles irão selecionar os 13 jornalistas que irão a Paris em nome da nossa emissora. Olho aflita para Luana do outro lado da sala; ela apenas faz um gesto me indicando para respirar, e é isso que faço até Eliza começar a falar.

- Bom, não vou me alongar muito, pois sei que todos aqui sabem do que se trata esta reunião. Eu, em conjunto com Alexandre, selecionamos os 13 nomes que enviaremos para Paris representando nossa emissora. Gostaríamos de ressaltar que não foram escolhas fáceis, pois me orgulho de comandar uma empresa com funcionários tão bem capacitados. Infelizmente, nem todos poderão ir desta vez, mas espero que compreendam a decisão. Quem estiver na lista já poderá ver o esporte que ficará encarregado e mais informações serão enviadas por e-mail assim que eu entrar na minha sala. Alguma dúvida?

Um silêncio ensurdecedor toma conta da sala, e Eliza assente. Em seguida, ela anda vagarosamente até o painel de recados importante no meio da sala e prende uma folha lá. Uma simples folha, que pode mudar vidas. Pensar que meu sonho pode ou não estar prestes a se realizar, dependendo se meu nome está naquele simples documento pendurado na parede, é amedrontador, e fico paralisada. Quando retomo a atenção, vejo uma multidão de pessoas ao redor do painel, todas tentando descobrir se nesta noite irão preparar malas ou chorar bebendo um bom vinho.

Eu também estava curiosa para saber em qual situação eu me encaixava. Levantei-me, determinada a enfrentar a multidão e olhar o papel, mas com meus quase 1,80m de altura, não era uma tarefa fácil. Então, tive que esperar as pessoas se dispersarem. Quando os arredores se esvaziaram, com plena coragem, me aproximei da lista e comecei a ler os nomes.

Corri os olhos pelos nomes e vi o nome de Luana. Fiquei feliz por ela. Minha ansiedade só crescia até que encontrei o penúltimo nome. Parecia proposital para fazer a ansiedade consumir, mas o que importava estava lá: "Valentina Valencia Nogueira - Tênis feminino/masculino, dupla e individual". E eu não poderia estar mais feliz.

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Não sei se alguém vai ler isso, mas fiz para passar o tempo e criar uma história com essa mulher incrivel, já que não encontrei nenhuma similar. Este capítulo serve mais para apresentar a Valentina; dei uma acelerada porque o foco principal é o relacionamento entre ela e a Bia, e não quero que isso demore muito. Espero que gostem! Qualquer feedback é bem-vindo, e se puderem, deixem um comentário e votem. Obrigada!

Meu ouro é Você!Onde histórias criam vida. Descubra agora