Fez um smash na minha cabeça

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Depois que saio do elevador, ainda atordoada pela minha experiência presa naquele lugar, sinto minha barriga roncar e lembro do propósito de ter saído do quarto antes de tudo acontecer. Pego meu celular e confiro as horas; por sorte, o jantar ainda está sendo servido. Vou andando para lá enquanto revejo todas as minhas interações com a mulher que se foi há apenas alguns minutos. 

Percebo que, lá dentro, não me lembrei de nada, nem da fome nem do pânico de elevadores. Ela roubou todo o meu foco. Penso se nos encontraremos novamente no hotel ou somente nas quadras, mas por enquanto deixo esse pensamento de lado e continuo andando.

Chegando ao salão onde estavam servindo as comidas, resolvo montar meu prato, que incluía uma salada com frango, arroz, um strogonoff para variar e um copo gigante de suco de morango. Devoro tudo em alguns minutos, pois realmente estava uma delícia, e depois como uma fatia de pudim antes de subir para o meu quarto, pelas escadas dessa vez.

Assim que entro no meu quarto, meu primeiro instinto é me jogar na cama. Afinal, tive um começo de noite um tanto quanto cansativo, com informações demais para digerir. E bom, teve ela. Não consigo esquecê-la; é como se aquela mulher de quase 1,90 m tivesse entrado no meu cérebro, jogado uma partida com ele e terminado com um grande smash.

Relembrando nossa interação, revejo o momento em que disse a ela que era uma jornalista. Fico pensando se a incomodou ou se, por acaso, ela considerou que eu estivesse ali para espioná-la ou algo assim. Realmente espero que não, mas a situação não é muito favorável para mim. Normalmente, jornalistas não ficam nesses hotéis caros, e ainda mais jornalistas que irão cobrir especificamente sua modalidade. Realmente, ela deve tentar me evitar ao máximo agora. Entristeço com essa linha de pensamento.

Não saberia explicar por que estou me sentindo assim agora. Bia sempre foi uma inspiração para mim e vê-la de perto não mudou isso. No entanto, essa inspiração evoluiu para algo como fascínio e curiosidade em conhecê-la mais. Não sei se é por sua beleza, gentileza, senso de humor ou até mesmo nossa discussão dramática sobre minhas tatuagens, mas gostaria de ter essa oportunidade. Mesmo sabendo que provavelmente esse será o diálogo mais longo que teremos na nossa vida, já que não posso demorar nas entrevistas.

Me esforço para me distrair disso, ligando a TV. Até considero ver um jogo, mas sei do que os jogos me lembrariam, então opto por um filme qualquer para desviar minha atenção. Passam-se alguns minutos quando ouço meu celular tocando em algum lugar. Levanto rapidamente para procurá-lo, encontrando-o debaixo das cobertas e vendo que o pior contato possível está me ligando.


[Contato: Embuste Fernando]


Atendo com a maior cara de tédio possível, mesmo sabendo que ele não está vendo. Mas falando com esse cara, essa é a única expressão que consigo transmitir, junto com raiva e desprezo na maioria das vezes.

– Alô, Fernando, do que se trata?

– Sua educação me comove, Valentina – diz ele com uma ironia insuportável.

– Eu uso minha educação com quem a merece. E se não se importa, pode dizer logo o que precisa?

– Pelo visto usa sua educação e esse seu corpinho bonito com gente muito importante, não é? – Ele fala sugestivo, e minha primeira reação seria usar meus tantos dias na academia para socar a cara desse idiota, mas como não posso fazer isso, só o xingo mesmo.

– Vai se foder, Fernando. Me ligou para isso, seu desocupado? O que está querendo insinuar? Fala na minha cara o que acha? – Trinco os dentes enquanto me imagino estrangulando esse homem do outro lado da linha, como em um desenho animado.

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