Faço melhor

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Nesse momento, me encontro revirando minhas malas atrás da minha camisa da seleção espanhola. Em teoria, eu a trouxe, mas revirei tudo e ainda não encontrei. Não consigo aceitar que irei assistir ao jogo sem meu manto da sorte.

Continuo vasculhando quando ouço batidas na porta. Já sei quem está do outro lado, e meu coração começa a bater mais rápido. Corro até a porta e a abro. Lá está ela, a linda tenista que vem dominando meus pensamentos nos últimos dias. Analiso brevemente suas roupas e fico contente ao vê-la vestindo uma camisa do Barça com seu nome atrás. Me pergunto como conseguiu isso tão rápido, mas decido perguntar mais tarde.

— Bom dia, Bia. Como passou a noite? Pode entrar — digo, cumprimentando-a e indicando para que entre no quarto. Ela, porém, não se move, apenas fica parada me encarando. Na verdade, ela está olhando fixamente mais abaixo. Considero a possibilidade de estar suja e, quando olho para baixo, lembro que ainda não achei a camiseta e estou usando apenas o sutiã que iria usar por baixo. Coro imediatamente e fecho a porta rapidamente. Através da porta, digo:

— Desculpe por isso, ainda não achei a camiseta que vou usar hoje. Um minuto, já abro — falo, apressando-me na busca incessante pela camiseta. Finalmente a encontro, bem dobrada no canto das toalhas. No fim das contas, esse sumiço foi culpa da minha falta de talento para organizar malas.

Agora, já vestida e com um pouco mais de dignidade, abro a porta e a vejo ali, esperando por mim. Estou um pouco envergonhada pela nossa última interação, mas finjo que nada aconteceu. Porém, Bia não parece pensar o mesmo, pois sorri de forma sacana e diz:

— Foi uma linda paisagem para se ver pela manhã.

Olho para ela, indignada, e retruco, brincalhona:

— Babaca, não use isso contra mim. Não foi intencional.

—Só reforça meu ponto de que as melhores coisas acontecem por acidente, não concorda? — rio, revirando os olhos diante do seu flerte antiquado, que, no fundo, eu gosto muito, e acho que ela sabe disso.

Saímos em direção ao seu carro nada humilde. Ela me explicou que o havia alugado para esses dias em Paris, e eu fiquei imaginando onde alguém aluga um carro que deve valer três anos do meu salário, mas deixo isso de lado.

Quando já estávamos próximos ao campo, percebi que minha perna começou a bater incessantemente no chão do carro. Bia me encarou, e eu tentei disfarçar toda a ansiedade que estava sentindo para esse jogo, que, para mim, significava muito mais do que realmente era. Lancei-lhe um sorriso na tentativa de esconder meu nervosismo, mas percebi que falhei quando ela disse:

—Você sabe que não precisa fingir que está tudo bem, quando está comigo, certo? — falou, desviando brevemente o olhar do trânsito para me encarar com aqueles olhos gentis que pareciam brilhar na minha direção.

—Acho que estou um pouco ansiosa, — respondi, fazendo um pequeno espaço com as mãos para tentar representar a quantidade mencionada. Ela revirou os olhos e disse:

—Pouco, Valentina? Você acha que me engana? Pelo pouco que te conheço, já posso dizer que você está surtando. É a primeira vez que assiste a um jogo da seleção? Por isso está tão nervosa? Ou é por causa da minha beleza? — se gabou, rindo ao final da frase.

-Nem um dos dois. Mesmo sua beleza me encantando, ela não me deixa nervosa... me faz sentir outra coisa...— sorrio de lado, sabendo que, nessa rodada do jogo de flertes, eu ganhei. No primeiro momento, ela não reagiu. Pensei que iria me provocar de volta, mas ela tinha outras prioridades.

—Depois conversamos sobre isso. Agora quero que me diga o que está te incomodando. — fiquei receosa se deveria ser sincera ou não, mas percebi que não havia motivo para mentir, pois até agora, ela só me fez bem, e nunca demonstrou desinteresse por algo que eu fale.

Meu ouro é Você!Onde histórias criam vida. Descubra agora