De volta ao carro, a caminho da casa de Ludreck, me sinto bastante orgulhoso com o que fizemos e descobrimos. Não fico tão perplexo com a coragem de alguém em destruir a dignidade de uma pessoa em troca de tão pouco, por alguém que não vale um único tostão. Especialmente, sabendo que isso contribuiu para deixar Michael Twist em um estado físico e mental tão instável. Alguns seres humanos tem essa dedicação a vender sua ética muito facilmente. Ludreck merece grande parte dos créditos, e não posso ignorar isso, pois testemunhei sua eficácia dedutiva em ação.
Certamente, ele se sentirá realizado por ter agido com tanta habilidade. Fiquei impressionado com a forma humana como ele conduziu a conversa com Michael, levando-nos a um resultado surpreendente e revelando o criminoso que na verdade deveria defender a justiça. Isso me convenceu plenamente da inocência de Michael, sem necessidade de mais provas. Agora, Ludreck já está com o notebook no colo, imerso em outra pesquisa. Seu foco é admirável.
— Foi muito bacana a forma como você acolheu o Michael Twist — Digo, quebrando o silêncio. Ludreck sorri.
Ele anda fazendo isso para mim mais vezes agora. Esses sorrisos esporádicos. Acho agradável.
— Quis acreditar nele porque, como você disse, as informações estavam muito escassas e duvidosas. Agora sabemos que o próprio investigador do FBI, a mando do Furlman, está envolvido.
— Precisamos pensar em um plano que não exponha tanto o Michael. O Vincent precisa continuar achando que ele está com medo, para que não corram mais riscos desnecessários.
— O Vincent Furlman sabe que a investigação foi retomada? Seu amigo delegado o informou que estamos à frente dele agora?
— Talvez, mas não vou arriscar. Acho melhor mantermos isso em segredo entre nós por um tempo, até estabelecermos melhor a situação. De qualquer forma, as provas estão com o Michael, então não é bom dar muita bandeira, porque não sabemos se Vincent não colocou mais pessoas nisso além desse investigador. Se o tal do Hebbert conseguiu manipular o inquérito do FBI, devemos supor que tem mais pessoas envolvidas.
— Concordo com você. Seguirei seu plano.
— Seria ótimo sabermos mais sobre o sujeito.
— Esse não é o nosso alvo — Ele diz, me deixando imediatamente em dúvida.
Quando vira a tela do notebook, vejo a mesma foto do homem que Sergi nos entregou, mas agora acompanhada de várias informações sobre seu trabalho e um nome diferente do que conhecíamos.
— Malcolm Fuyrer? Então o desgraçado usou um nome falso.
— Pois é. Isso valida ainda mais a história do Michael. Acabei de acessar o portal do FBI e não foi difícil encontrá-lo. Ele tem 43 anos e trabalha como investigador há 20. Vinte anos de carreira manchados dessa maneira.
— Estou impressionado com você. Muito mesmo. De fato, é muito inteligente — Apenas um aperto de mão não seria suficiente; ele merecia essas palavras.
— Não tanto quanto você, Hank. Pode ter certeza de que estou adorando explorar mais esse meu lado investigativo, e você tem sido um grande exemplo para mim. E, sem ironia — Respondeu, olhando-me e esticando aquele sorriso que não deixou espaço para dúvidas. Retribuí sem hesitação. Tínhamos motivos para essa boa interação. — Deve ser por isso que o delegado confiou este caso a você. Muito dedicado. Você deve ser o melhor daquela delegacia.
— Eu tento sempre ser justo. Como te elogiar agora. É justo.
— Então ambos fomos justos um com o outro. Obrigado por salvar a minha vida.
— Apesar do desespero, e depois da conversa que tivemos, não acho que ele atiraria. Porém, de nada.
O celular de Ludreck toca, e ele se anima completamente ao ver o nome presente na chamada, mas, que não consegui ler a tempo. Inicia o diálogo com uma mulher sobre algo relacionado à cultura oriental que ela havia visitado. Conversaram por algum tempo até que ele mudou drasticamente de expressão. Toda a felicidade se dissipou, dando lugar a um rosto carrancudo e algumas bufadas de puro ódio. Despediu-se de maneira educada, forçadamente carinhosa com um "beijo, meu amor" dito com uma falsa sinceridade naquele momento, e desligou.
Fiquei tentado a perguntar quem era ou o que tinha acontecido, afinal, eu preciso seguir seus passos, não é mesmo? Mas não queria parecer que estava tentando me acomodando a uma intimidade além das nossas trocas pacíficas. Admito que está sendo uma tarefa difícil, porque estamos juntos 24 horas por dia.
Ludreck saiu do carro em silêncio e, ainda muito irritado, bateu a porta com força. Eu poderia reclamar, mas, dado o seu estado, era melhor deixá-lo quieto agora.
Seja qual for o motivo.
Ou eu poderia tentar fazer algo para agradá-lo.
Talvez.
Não sei.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Código Do Coração
RomansaHank Freybeet, é um policial habilidoso incumbido de colaborar com o brilhante hacker Ludreck Hills, em uma missão de rastrear um criminoso que está drenando as contas bancárias dos mais abastados da cidade de New York. Para resolver o caso, Hank pr...