Capítulo 6 - Trégua

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Victor caminha pelos jardins de seu castelo branco, ele observa os pássaros e os movimentos das árvores que balançam com o vento, seus criados e seus guardas o seguem e o protegem com sua própria vida e ainda assim, ele se sente sozinho. Um dos guardas vai até ele:

— Perdoe a interrupção vossa majestade, mas o rei Matheus o convocou para se juntar a ele no jantar.

— Diga a seu rei que não tenho fome, que irei para meus aposentos, mas que desejo a ele um ótimo apetite.

— Sim vossa majestade, com sua licença meu rei.

Victor pediu a todos que o deixassem e seguiu caminhando sozinho pelo interminável jardim de seu castelo. Ele se sentou em um banco debaixo de um carvalho e fechou seus olhos para ouvir apenas o vento. Ele ouviu passos e abriu seus olhos, era Matheus que se aproximava. Victor se recompôs e encarou seu marido, que disse:

— Soube que está sem fome.

— Só de pensar em comer em má companhia, me tira tolamente o apetite.

— Bom, todas as donzelas do reino se matariam para estar em minha presença.

— Para minha sorte, não sou uma dessas donzelas.

— Claro que você é uma donzela — disse Matheus se aproximando e acariciando o rosto de Victor que virou o rosto — é a mais cobiçada delas. Tem os olhos brilhantes e meigos, uma pele macia e sem uma marca sequer, um corpo lisinho e esbelto, cabelos longos com cheiro de rosas, sem falar na delicadeza e educação de uma verdadeira lady.

— O que você quer de mim?

— Eu quero pare de fugir, que pare de agir como um príncipe mimado e inconveniente.

— Eu sou mimado? Eu sou inconveniente? Olhe-se no espelho, rei de Miztharn, veja bem seu reflexo antes de apontar o dedo para mim e me julgar. Eu fui educado e cordial com você desde o início.

— Como pode ser tão descarado, você me desprezou desde o início.

— Eu não te desprezei, eu apenas não queria me casar com um homem que não conheço.

— Estão se casaria com o seu escudeiro, o Sir Gustavo, se ele fosse do mesmo nível que você, o conhecia desde pequeno, seria o homem ideal para você?

— Eu não me casei com ele porque ele não é nobre, não me casei com ele porque ele era abusivo.

— Mas só soube disso depois que o recusou como seu homem.

— Não estou falando do dia em que ele tentou me ter.

— Então do que está falando?

— Não te interessa.

— É claro que interessa, me diga por que não se casou com ele, ou seu remorso te impede.

— Cala a boca — gritou Victor. Os dois ficaram em silêncio e respirou fundo e disse — eu o flagrei uma vez... vi ele conversando com uma de suas mulheres do prazer, ele disse a ela que tiraria minha honra e me obrigaria a casar com ele, assim ele se tornaria o rei de Mizthad. Eu não quis acreditar no que estava ouvindo, ele sempre esteve ao meu lado, me defendia dos nobres da corte que diziam que eu era uma donzela, assim como você faz. Eu confiava nele, mas não o via como um homem para me deitar, eu o via como um irmão. Aposto que ouviu esse boato daquela meretriz, já que ela é a única que sabia das intenções dele, eu a chantageei, disse que se ela falasse para meu pai o que Gustavo queria fazer, eu a prenderia para sempre nas masmorras. Quem eu queria enganar...?! Eu nunca tive coragem de punir ninguém, nem mesmo aqueles imundos que me insultavam, que insultavam seu futuro rei.

— Não permitirei que te insultem outra vez.

— Ninguém precisa me insultar, você já faz isso. Você me humilha e me rebaixa, mesmo eu sendo o rei que governa ao seu lado. Sua palavra vale menos que poeira.

Victor saiu dali e voltou para seus aposentos. A noite, Victor estava em sua varanda, olhando para toda a vastidão de seu reino e pensando como sua vida seria sem o pesar da coroa sobre suas costas. Um dos guardas bateu na porta.

— Entre.

— Vossa majestade, o rei deseja que se junte a ele no jantar.

— Eu não pretendo ir jantar com o rei.

— Não precisa ir — disse Matheus seguido por criados carregando um banquete — eu venho até você.

— O que está fazendo, meu rei? — disse Victor sem entender.

— Saiam todos — ordenou Matheus e todos obedeceram.

— Eu não quero...

— Por favor, Victor, me dê uma chance de me desculpar.

— Não precisa se desculpar, você é o rei, pode fazer o que quiser, falar o que quiser.

— Você também é rei.

— Sou? Porque segundo você, eu não me pareço com um.

— Olha — disse Matheus se aproximando de Victor — eu sei que fui terrível com você, mas eu quero que saiba que estou disposto a dar um fim a essa rixa.

— Eu não tenho rixa nenhuma com você.

— Eu sei, e por isso te peço perdão.

— Por que está fazendo isso?

— Isso o quê?

— Por que está implorando por meu perdão? Sei que quer algo em troca.

— Eu juro pela minha vida, meu rei — disse Matheus colocando suas mãos na cintura de Victor — eu não desejo nada além de paz entre nós. Não podemos governar um reino se estamos em guerra em nosso próprio teto. Se não quer seu meu marido, seja meu amigo, meu aliado, minha outra metade a governar.

— Promete não querer nada além de minha amizade?

— Eu prometo me contentar com o que quiser que eu seja.

Os dois sorriram e se sentaram para comer. As semanas que seguiram foram pacíficas, os dois Reis conversavam e passavam bastante tempo juntos, Victor ainda tinha algum receio sobre as intenções de Matheus, mas aos poucos foi se abrindo para seu rei e marido, Matheus por outro lado, não tinha preocupações com seu marido, e a cada dia, ele sentia algo crescer dentro dele, algo que ele nunca havia sentido antes. No último dia de sua lua de mel, os reis foram até o pomar e fizeram um piquenique, conversaram e riram bastante por horas.

— Como será quando voltarmos? — perguntou Victor.

— Como assim? — respondeu Matheus confuso.

— Quando voltarmos, tudo voltará a nos pressionar, as responsabilidades com o reino, com o povo, com a guerra... será que conseguiremos.

— Olha pra mim — disse Matheus pegando no queixo de Victor e levantando sua cabeça — nós somos os reis agora, somos guardiões do nosso reino e do nosso do povo, temos que ser fortes. Eu estarei ao seu lado e te protegerei, e espero que faça o mesmo por mim. Eu prometi te apoiar e te proteger, e vou honrar minha promessa.

Matheus se aproximou ainda mais de Victor, deixando seus lábios quase colados. Matheus pegou Victor pela cintura e o olhou nos olhos castanhos de Victor tão profundamente que podia ver sua alma dócil e gentil. Matheus aproximou seus lábios do de Victor mas antes que se tocassem, Victor virou o rosto.

— Você disse que seríamos amigos.

— Amigos não podem demonstrar seu apreço? — sussurrou Matheus no ouvido de Victor.

— Não dessa maneira — disse Victor sorrindo e se afastando de Matheus — vamos voltar para o castelo, já vai anoitecer e temos que descansar, amanhã partiremos de volta para a capital.

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