Capítulo 4

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                         Miguel

Já era de tarde quando cheguei em casa, depois de passar algumas horas na biblioteca da universidade estudando para mais uma prova bimestral.

Assim que atravessei às portas da entrada, a primeira pessoa que vi foi meu pai parado na sala, com os braços cruzados.

— Eu estava esperando por você — disse voltando seu olhar na minha direção.

— Precisa de alguma coisa? — perguntei parando no meio do caminho.

— Preciso que vá a um lugar comigo.

— Tenho que estudar, então não posso ir — respondi e sem perder tempo, voltei a caminhar rapidamente.

— Miguel! — ouvi seu chamado em alto e bom som, e com um suspiro, me virei novamente para ele — Garanto que vai ser rápido, então por favor, venha comigo.

Diferente de como era com minha mãe, geralmente eu fazia de tudo para ficar o mais longe possível dele. Não porque o odiasse, mas porque me sentia culpado por ser o motivo de sua grande decepção.

Sempre que estava em sua presença, sentia essa culpa pulsar dentro de mim, me lembrando que eu era apenas o substituto do Lucas, e estava tomando o lugar que nunca deveria ser meu.

— Tudo bem — respondi sem mais argumentos para contrariá-lo — Me dê só alguns minutos.

Subi as escadas até o segundo andar e depois de um banho rápido, me arrumei o mais breve possível e voltei à sala para encontrá-lo.

Logo estávamos em seu carro, dirigindo para algum lugar, em um silêncio desconfortável.

— Como está indo na faculdade? — perguntou depois de um tempo.

— Estou indo bem — me limitei a dizer.

Sabia que ele estava se esforçando para termos uma boa relação de pai e filho, percebi isso pelo forma como me olhava pelo canto dos olhos parecendo nervoso. Mas infelizmente, por causa de nosso passado conturbado, nenhum de nós dois sabíamos como fazer isso.

— Que bom... — foi tudo que ele conseguiu dizer e novamente, o silêncio se manteve entre nós.

Seguimos por uma rua afastada do centro, um lugar onde eu nunca havia passado, até pararmos em frente à uma modesta casa com uma varanda cheia de plantas na frente.

— Aqui mora um velho amigo meu — explicou percebendo meu olhar atento à nossa volta — Alguns anos atrás, acabei perdendo o contato com ele e como não sabia onde ele morava, fiquei muito triste com isso. Mas felizmente, o Senhor me permitiu reencontrá-lo mais uma vez — ele se virou para mim e sorriu — Gostaria muito que o conhecesse.

Sem saber muito bem o que dizer, apenas assenti. Descemos do carro e caminhamos até a porta da casa, onde meu pai deu algumas batidas. Logo ouvimos os passos de alguém se aproximando do outro lado.

— Senhor Renato! — uma mulher morena abriu a porta e sorriu assim que seus olhos bateram em meu pai — Entrem, por favor!

Ela se afastou para o lado nos dando espaço para entrarmos e assim fizemos.

— Por favor, já disse para me chamar apenas de Renato — falou de forma amigável — Desculpe por vir sem avisar, mas preciso falar com meu amigo.

— Não se preocupe com isso — ela dispensou o comentário de meu pai com um abanar da mão e nos indicou o sofá — Fiquem à vontade. Vou chamar meu marido e já volto.

Assim que ela saiu, passei a observar o lugar à nossa volta. Podia não ser tão grande quanto nossa casa, mas era espaçosa e bem arrumada, sem falar que dava uma sensação de conforto e acolhimento.

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