Capítulo 12

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                         Miguel

Naquela manhã de terça-feira, enquanto me arrumava para ir à faculdade, me peguei pensando em como minha vida parecia mais agitada depois que Elise e sua família apareceram.

Antes disso, minha vida era regida por uma rotina monótona e com a qual eu já havia me acostumado: pela manhã, eu ia para a faculdade e quando as aulas acabavam na parte da tarde, eu voltava para casa e passava a maior parte do tempo trancado em meu quarto, estudando ou fazendo qualquer outra coisa que ajudasse a ocupar minha mente.

Isso só mudava nos fins de semana, quando eu passava algum tempo acompanhado por minha mãe, mesmo que não converssássemos muito, ou novamente em meu quarto. Nos domingos, meus pais íam para a igreja, e me convidavam para ir junto, mas eu sempre recusava.

A verdade é que depois da morte de Carlos, nunca mais tive coragem de pôr os pés naquele lugar, por não me achar digno de estar ali.

Assim, minha vida seguia tranquila e sem grandes emoções, isso até a chegada da família Andrade, principalmente da filha mais velha. Desde a primeira vez que eu a conhecera, ela me fizera sair da minha zona de conforto ao confrontar Marcos na pizzaria, mesmo que eu tivesse dito a mim mesmo que não interferiria na vida dos outros.

E aqui estava eu, novamente fazendo aquilo que disse que não faria mais.

Esses pensamentos continuaram me incomodando durante toda aquela manhã e só se intensificaram quando fomos até a casa dela e a mesma entrou no carro.

— Bom dia! — ouvi ela dizer ao meu lado e pelo canto dos olhos percebi seu sorriso.

— Bom dia... — murmurei evitando olhar diretamente para ela.

Dessa vez, ela não fez questão de conversar comigo, mas diferente de antes, parecia inquieta e perdida em pensamentos.

No que ela está pensando? — me perguntei intrigado com a garota ao lado que parecia sempre me surpreender da forma mais inesperada possível.

Quando chegamos ao estacionamento, peguei minhas coisas e desci rapidamente do carro, mas só dei alguns passos antes de minha mente me lembrar do que acontecera com Elise no dia anterior.

Uma parte de mim me dizia que eu precisava seguir meu caminho e evitar qualquer contato com ela, mas a outra parte porém...

— Vamos logo — falei me virando e encontrando o olhar surpreso de Elise sobre mim.

— C-claro — ela sorriu e com o rosto corado, desviou o olhar para o lado, o que novamente me deixou intrigado.

Juntos, caminhamos até a entrada da universidade e mesmo que não falássemos nada, sentia uma estranha sensação de conforto ao estar ali com ela, o que eu não sentia a muito tempo.

— Você acha que aquelas garotas vão fazer alguma coisa? — sua pergunta chamou minha atenção e ao olhar em seu rosto, notei certa apreensão nele.

— Não sei ao certo... — fui sincero e o nervosismo despontou ainda mais nela — Mas não se preocupe, não vou deixar que elas façam nada enquanto eu estiver por perto.

As palavras saíram da minha boca antes que eu pudesse pensar direito. Me repreendi mentalmente por ser tão patético, mas ao ver o pequeno mas verdadeiro sorriso no rosto dela, parte do arrependimento foi embora.

— Obrigada, Miguel — ela ergueu a cabeça e me encarou ainda sorrindo.

Desconcertado com essa interação, desviei o olhar para a frente, foi quando percebi que um garoto de óculos um tanto familiar se aproximava de nós. Bastou apenas alguns segundos para que eu me desse conta de que era o mesmo garoto que sempre sentava junto com Elise no refeitório.

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