Gilbert andava apressado até a casa pintada de um laranja vívido. Laranja, sua cor favorita, cor dos cabelos de sua antiga vizinha. A mulher que, mesmo sem saber, foi sua fortaleza e âncora durante as noites frias que passará nos acampamentos militares, enquanto lutava contra os alemães.
Foi na mulher de cabelos ruivos que Gilbert pensava todas as vezes em que perdia algum amigo de batalha; se perguntando se estava viva, o que estava fazendo, ou como ela reagiria quando recebesse a notícia que o ex vizinho já não respirava. O que não aconteceu.
Conforme apertava o passo pois sentia o céu se preparando para derramar gotas d'água lembrou do juramento que fez à Sebastian, amigo e parceiro de batalha, em que o prometeu que, se saísse daqueles tempos sangrentos com vida, honraria a chance que Deus o deu e declararia seus sentimentos à amada Anne. Olharia em seus olhos verde cinzento e pediria-lhe em casamento, fazendo juras de amor e enchendo seu útero com almas.
Uma gota d'água tocou sua bochecha rosada pelo frio e ao olhar pra cima e constatar que ainda não chovia, percebeu que na verdade era uma lágrima que escorreu de suas íris ao se lembrar de Sebastian, quem foi enterrado na terra junto aos outros milhares de não sobreviventes dois dias antes de ser liberado para voltar aos braços da família.
Gilbert então suspirou e seguiu firme. Estava fazendo isso por Anne, mas também pelo falecido amigo quem sempre escutou o homem choramingar pela ruiva. Bateu na porta branca e esperou aflito.
Durante os primeiros segundos, seus pelos de todo o corpo se arrepiaram e ele pensou em dar meia volta e então correr, fingindo que essa ideia maluca não aconteceu. Após, pensou que não devia haver ninguém na casa afinal era hora de ir à igreja, mas lembrou-se então que Anne nunca fora muito religiosa e não se importava em pular à missa em alguns domingos que resultava na irritação de Marilla, sua mãe adotiva, e era o motivo de seus castigos e palmadas.
Quando lembrou dos momentos em que a garota fugia para não ser repreendida, relaxou, esquecendo-se por um breve momento todo o discurso que planejou durante anos; algo que não durou muito, no tempo que a porta foi aberta e uma figura pálida, com farinha cobrindo a ponta do nariz, centro da testa e as mãos delicadas apareceu na frente do homem fazendo com que Gilbert se sentisse novamente como um garoto indefeso que sonhava em lutar por sua nação. Pobre garoto burro e ingênuo.
– Oh meu Deus Gilbert! – Antes que sentisse os joelhos perderem forças por escutar, depois de cinco anos, a doce voz de Anne, pequenos braços o rodearam e o corpo da mulher foi jogado contra o seu, lembrando-lhe de que eles não eram mais crianças de corpos esguios, mas sim adultos formados.
Oh por Cristo, já fazia algum tempo que ele não sentia o corpo de uma mulher.
– Eu estava há preparar o jantar para você! Meus pais souberam que estava voltando para casa. Santo Cristo quero te encher de tapas! Sabe o quanto ficamos todos preocupados quando recebemos a notícia que foi para aquele mar de sangue? Nem queira saber como eu me preocupei seu maldito fedelho! – Soltou-o, olhando nos olhos do homem e expressando sua raiva.
– Case-se comigo Anne.
– O quê? – Céus, o que acabou de dizer?! Não era isso, não era para ser assim. Primeiro ele iria lhe dizer como não passou uma única noite em que não pensasse na mulher, que mesmo na infância sonhava em leva-lá ao altar e a maior recompensa de Deus por toda monstruosidade que viu com os próprios olhos seria passar o resto de sua vida dormindo ao lado de Anne. Não pedi-lá em casamento antes de tudo isso. – Será que você foi atingido por algum projéctil que afetou seus neurônios? Santo Cristo quero lhe matar por ter ido para essa maldita guerra!
Gilbert sorriu; é claro que apenas Anne não lhe parabenizaria e o trataria como um herói. Claro que ela seria a única pessoa que o receberia aos murmúrios por ter ido para uma guerra.
– Anne, tudo que preparei correu da minha mente como uma zebra corre do rei da selva, então adianto-me em pedir perdão por minha pressa. Mas preciso que saiba que te amo desde o dia que lhe ajudei a fugir por não querer frequentar à missa; você chegou como um tornado em minha pacata vida e bagunçou tudo. Só conheci o significado de amor quando você me roubou meu primeiro beijo. Meu coração clama por sua alma todas as noites e já não lhe garanto que conseguirei dormir em uma cama que não seja também sua; tudo que mais quero nesse momento é juntar meus lábios aos teus para saber se eles ainda contém gosto de amora como da primeira e única vez em que nossas bocas se encontram. Nem mesmo quando segurava uma arma mortífera em minhas mãos senti-me tão nervoso e inquieto quanto estou agora. Sonho em leva-lá ao altar e honestamente não me importaria de te ver chorar desde que seja um choro de prazer, um prazer que eu estou lhe causando enquanto percorro todo seu corpo com minha língua. E pelo amor de Jesus Cristo por favor me cale com um beijo antes que eu continue enchendo seus ouvidos com todas as impurezas que desejo fazer com seu corpo porque perdi o controle da minha fala no momento que senti seus braços no meu pescoço.
Assim, honrando a memória de Sebastian, Anne agarrou novamente o pescoço do tagarela Gilbert e concedeu seu pedido, beijando-o.
– Eu já havia aceitado ser sua esposa no primeiro momento em que me pediu, seu patife.
E a teoria se provou: seus lábios ainda tinham gosto de amora.

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Promessa honrada
FanfictieOnde Gilbert Blythe volta da guerra determinado à pedir a mão de Anne em casamento.