01. Atrevido

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Narração


Felix atravessava o campus correndo, desviando dos universitários, por pouco não esbarrando em um deles e derrubando sua caixa cheia de donuts coloridos. Havia preparado especialmente para seu amigo - por quem tinha uma quedinha desde o primeiro semestre de faculdade.

Os donuts, muito bem decorados, haviam sido preparados durante uma das aulas do curso de Gastronomia. Felix havia ficado mais tempo que o normal distribuindo corações de açúcar e glitter comestível, tentando deixá-los perfeitos para Bang Chan.

Seu coração estava acelerado, não só pela corrida longa até o campo de futebol, mas pela preocupação de não conseguir chegar a tempo de desejá-lo boa sorte antes da partida, como fazia quase que religiosamente.

O prédio do curso de Gastronomia era bem afastado do campo de futebol, tornando suas quartas e sextas agitadas e a missão exaustiva.

As manchas de corante vermelho no avental e o açúcar de confeiteiro na franja provavam a dedicação de Felix, que sonhava em ter seu amor correspondido pela única pessoa que realmente importava.

Quase não tinha tempo de distribuir seus doces para os universitários que faziam questão de provar e dar avaliações sempre positivas. Felix sabia que nem sempre para os doces e pratos, e sim para sua aparência sempre impecável e adorável, mas não se importava nem um pouco.

Ele usava seu charme como um escudo que protegia seu coração vulnerável. Seus doces eram uma extensão de si mesmo, pois transmitia afeto e paixão, que era o que sentia falta.

Felix percebia que as avaliações nem sempre eram sinceras, porém não se importava, achando a atenção interessante na maior parte do tempo.

Seu pai havia tentado lhe fazer a cabeça, listando tudo de cruel que poderiam aprontar ao notar seu jeito açucarado, como gostava de chamar, só não contava com o poder de seu sorriso gentil e jeito encantador.

Felix era uma força da natureza, determinado a espalhar alegria e positividade onde quer que fosse. Ele tinha visto o mundo cruel e preconceituoso de perto, então decidiu construir o seu próprio, repleto de cores, positividade e doces bem decorados.

Felix esperou muito tempo para se assumir homossexual, por conta de seu pai religioso e preconceituoso, então mantinha a promessa que fez a si mesmo no dia em que se mudou para o campus, de que nunca mais se esconderia ou fingiria ser algo que não era.

Deixou sua personalidade e seus gostos refletirem em toda a sua aparência e pertences, sequer se preocupando com opiniões ou julgamentos.

A liberdade recém conquistada podia ser comparada a biscoito amanteigado, derretia e abraçava sua língua com açúcar.

Abriu um grande sorriso ao adentrar a área arborizada do campus e ver Bang Chan acenar para ele da lateral do campo, ainda a alguns metros de distância.

Não desacelerou os passos, forçando seu corpo a manter o ritmo, esquecendo-se de prestar atenção, não se dando conta das pernas esticadas no meio do caminho.

Estava tão focado que ignorou o mundo ao seu redor, concentrado apenas em sua paixão, acabando por falhar em sua missão.

A caixa com os donuts voou de suas mãos, caindo aberta sobre a grama enquanto seu corpo deslizava de frente. — Meus donuts! — Felix choramingou ao ver a caixa tombada e mais da metade dos doces cobertos de grama e folhas. — Meu queixo. — Guinchou de dor, o pressionando com a palma da mão, sentindo arder.

Ele piscou contra a luz do sol, tentando se recompor enquanto seu coração se apertava com a visão dos donuts espalhados, sua oferta de carinho coberta de terra.

Before We Love | HyunLix | EnemiesToLoversOnde histórias criam vida. Descubra agora