13. Regras Do Quarto

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Hwang Hyunjin


Duas horas de completo silêncio haviam se passado. Felix parecia se esforçar ao máximo para ignorar minha existência, ao mesmo tempo que fazia de tudo para me irritar.

Sua boca estava firmemente fechada, e ele fazia questão de passar por mim com os lábios pressionados em uma linha reta, tentando demonstrar que não responderia caso eu tentasse iniciar uma conversa.

Porém, ao mesmo tempo, ele arrastava os pés, fazendo suas pantufas de coelhinho emitirem ruídos contra o piso de porcelana.

Cada movimento dele do outro lado do quarto parecia fazer barulho. Os objetos escorregavam de suas mãos, o som das teclas do celular estava ativado, assim como as notificações e telefonemas.

Ele não apenas se sentava na cama; se jogava nela, derrubando propositalmente algum dos objetos que havia organizado na mesinha.

Eu, por outro lado, me esforçava ao máximo para não demonstrar incômodo, esperando que ele simplesmente desistisse. E, após duas horas de incansável provocação, foi exatamente o que aconteceu. Os ruídos foram diminuindo até que finalmente cessaram.

O céu já estava completamente escuro, e os corredores silenciosos. O lado de Lee estava mais que organizado, completamente de acordo com sua personalidade.

Pôsteres de k-pop cobriam as paredes, e seus inúmeros bichinhos de pelúcia completavam um cenário quase infantil, combinando perfeitamente com seu pijama de coelhinho.

Já o meu lado permanecia impessoal e desarrumado, com algumas caixas de papelão pelo chão, mochilas com roupas e minha guitarra encostada contra a cama.

Com o fim da "guerra" que Lee parecia tão empenhado em instaurar, pude finalmente fechar os olhos e tentar dormir. Estava quase me entregando à inconsciência quando um papel cor de rosa foi colocado sobre o meu peito, acompanhado de um tapinha.

— Que porra é essa? — Sentei-me rapidamente, lançando-lhe um olhar fulminante enquanto agitava o papel.

— As regras do nosso quarto. — Respondeu ele, simples, se balançando nos próprios pés antes de morder o lábio com força. — Acho que estou agindo de forma muito infantil... — Confessou, e eu acenei com a cabeça, rapidamente percebendo o bico que se formou em seus lábios vermelhinhos. — Eu sei disso. Você tentou me ajudar, e a culpa do fracasso é toda minha. Não nos conhecemos bem e acho que somos muito diferentes até mesmo para sermos amigos. Por isso, decidi me desculpar e escrever essas regras para melhorar nossa convivência.

Levantei uma sobrancelha, desconfiado do sorrisinho que parecia surgir no canto de seus lábios. Felix era uma figura intrigante, completamente desconexa da imagem que os outros tinham dele, o que me deixava indignado.

Ele não se parecia nada com o garoto saltitante e inocente que distribuía bolinhos pelo campus. Havia nele uma astúcia velada e um brilho provocador nos olhos que me incomodava.

Não tínhamos convivido o suficiente para eu formar uma opinião definitiva sobre ele, mas aquele olhar ainda sim me perturbava. Era o mesmo tipo de olhar que no passado havia me conquistado para depois me destruir.

Me fechei completamente para relações pessoais depois do acidente que me deixou cicatrizes físicas e emocionais. A confiança quase cega que eu tinha nas pessoas desapareceu quando me senti enganado e julgado, sem chance de defesa.

Me julgava um cara observador e excelente em analisar as pessoas, até descobrir que não.

Achei que havia encontrado o amor ao me considerar o único capaz de enxergar o que estava por trás daqueles olhos, até perceber que eles também contavam mentiras.

Before We Love | HyunLix | EnemiesToLoversOnde histórias criam vida. Descubra agora