Casualidades Do Amor - 🐆🩶

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Quando chegou a casa, Simone fez um breve repasso nas anotações e decidiu mandar um e-mail para o professor Getúlio, informando que não havia encontrado grupo para o trabalho. Ao que o professor respondeu informando que todos os grupos estavam completos, por tanto ela teria que fazer o trabalho só. Mas como isso só o tornava mais difícil, cedeu à garota a oportunidade de ter uma monitora do segundo ano, uma de suas melhores alunas no curso de Relações Internacionais e Ciências Políticas. Simone ficou animada com a ideia e mais relaxada. Afinal de contas sua monitora seria uma aluna com boas notas e mais experiência, além de ser uma das queridinhas do professor Getúlio. Com aquela novidade passou o resto do dia desenhando alguns conjuntos que surgiam na sua cabeça e admirando a foto da xícara de café com uma carinha feliz, que colocou na proteção da tela do celular. Quando Leila e Eliziane chegaram da aula de dança, as três fizeram a janta e colocaram a conversa em dia até a hora de dormir. Mas sem saber muito bem por que, aquela falsa garçonete havia roubado todos seus pensamentos e a tinha sorrindo sem saber exatamente o motivo daquela alegria repentina.

•🐆🩶•

Simone estava na sala do professor Getúlio esperando para conhecer sua monitora. Estava tão distraída em anotar as novas ideias para sua coleção que não percebeu quando a porta se abriu revelando o professor e sua acompanhante. O homem pigarreou chamando a atenção da libanesa, que se surpreendeu ao levantar a cabeça e encontrar ninguém mais que Soraya ao lado do professor com um sorriso nervoso.

- Bom Simons, esta é Soraya e ela será a encarregada de te ajudar a fazer o trabalho. Obviamente isso exigirá mais da sua parte, pois apesar dela ser uma das melhores, o trabalho é apenas seu e ela está aqui para te assessorar, entendido? - Simone assentiu e se levantou estendendo a mão para Soraya

- Prazer, Simone Tebet . - Soraya apertou levemente, e quando ambas se tocaram foi como se algo diferente acontecera. As duas olharam para as mãos unidas franzindo o cenho e depois se encararam. O professor olhou para as alunas com um sorriso divertido, como se soubesse o que estava acontecendo. Permaneceram alguns segundos na mesma posição sem desviar o olhar, até que Soraya acordou e retirou a mão.

- Prazer, Simone. Eu sou Soraya Thro... apenas Soraya. - se corrigiu rapidamente, e Simone percebeu como o professor e a própria ficaram tensos, mas decidiu deixar passar.

- Bom, vocês se organizam e decidem quando começar. Minha sala na biblioteca está livre Soraya, as chaves estão no lugar de sempre se você quiser usar. - a loira assentiu baixo o olhar atento de Simone. Era como se o professor conhecesse Soraya intimamente, quase em uma relação avô-neta. E se retirou da sala deixando as duas sozinhas.

- Então... - Simone começou brincando com a barra do casaco fino que usava e Soraya sorriu de canto. Era adorável.- Obrigada pelo café e por aceitar ser minha monitora... - disse envergonhada.

- O José é um fofoqueiro... - respondeu com uma falsa irritação, arrancando uma risada da libanesa, e ela decidiu que aquele era o som mais bonito que escutara.- Não há de quê. Espero que tenha ajudado a melhorar seu dia.

- Você não imagina o quanto. – disse um pouco envergonhada ao lembrar-se da alegria que o gesto lhe trouxera. – Na verdade o problema foi solucionado agora.- Soraya demorou uns segundos para entender, e quando o fez, tampouco conseguiu reprimir a alegria.

- Então eu sou a responsável de trazer alegria a sua vida, huh? - disse divertida, vendo como Simone corava.

- Vamos ver se você é tão boa como diz, e depois eu decido se te dou esse posto.

- Adoro um desafio.- respondeu com toda sua pose, e ambas se encararam durante o silêncio que veio logo depois, até que Soraya o interrompeu. - A sala do professor Getúlio fica no segundo andar da biblioteca central. Meu prédio está logo ao lado. O que você sabe de Economia? - disse enquanto elas iam saindo da sala do professor e caminhando pelo corredor.

- Bom... eu não sei muito... - respondeu envergonhada e desviando algumas pessoas. Devido ao forte barulho dos alunos elas estavam próximas.

- Você não tem a menor ideia de como fazer o trabalho, não é? - respondeu quando já estavam na saída. Simone passou a mão pelo cabelo e aquele simples gesto fez Soraya se arrepiar.

- Não... mas não se preocupe, eu me viro.

- Tudo bem, iremos com calma. - quando Soraya terminou de falar um garoto passou afoito e se esbarrou nela, que teve que apoiar a mão na porta da saía para não empurrar Simone. Mas não a impediu de ficar próxima. Muito próxima.

Simone podia sentir o hálito quente tocando seus lábios e sentiu um frio na barriga. Algo muito improvável em sua vida era se sentir atraída por uma mulher. Na verdade seu ex-namorado havia sido seu grande amor, e ela pensava que assim era até então, mas seu corpo ficou alerta e ela encarou os lábios de Soraya , e por um momento desejou que ela a beijasse. Soraya estava na mesma situação, chegou a se aproximar um pouco mais e sentiu seu coração acelerar pela antecipação da proximidade. Mas afinal o que ela estava fazendo? Ela não podia se envolver com ninguém, e também não era de sua índole ficar por ficar, havia outras coisas mais importantes. Percebeu que o que fosse aquilo que Simone provocava nela teria que esperar, e se afastou com um sorriso torto.

- Desculpa...- Simone se sentiu decepcionada e ao mesmo tempo aliviada. Gostou da sensação de sentir o corpo de Soraya perto do seu, mas por outro lado não entendeu o que passou pela sua cabeça naquele momento. Apenas assentiu e rezou para que a coloração de seu rosto não fosse perceptível. - Bom... podemos começar hoje se você quiser. O trabalho é cansativo e bem extenso. O que você acha?

- Eu acho uma ótima ideia.

E assim as duas foram em direção ao grande prédio localizado no meio do campus. Soraya mandou uma mensagem rápida para Gleisi enquanto Simone conversava com Leila pelo telefone. Ao chegar ao prédio, Soraya pediu a chave da sala do professor Getúlio a recepcionista e subiram. O lugar estava cheio de títulos e livros de economia. Também havia um reprodutor de música antigo, do tipo vinil. Um pequeno sofá de couro preto, uma mesa grande e de madeira sofisticada, decorada com alguns livros e um telefone. A sala tinha tudo a ver com o professor Getúlio.

Quando Simone tirou o casaco e ficou apenas com uma camisa social e uma calça de alfaiataria da mesma cor, Soraya desviou o olhar rapidamente. Ver os seios da maior a deixara excitada. Ela sabia apreciar a figura feminina, e como sabia. Mas repetia constantemente que aquele não era o momento. Na verdade sua cabeça não estava atendendo aos seus pedidos. Simone tinha algo, não sabia o quê, mas tinha.

Retirou seu moletom revelando uma camiseta preta dos Guns and Roses sem mangas, cortada de forma artesanal, de um jeito que Simone podia ver a cintura pálida da loira dentre a espaçosa manga e o sutiã preto rendado. Simone pensou ser apenas a sensação de ver uma mulher bela e com um corpo magnífico a sua frente, sim, tinha que ser isso.

Entre um silêncio meio tenso e sorrisos nervosos, elas se sentaram à mesa, uma ao lado da outra. Simone abriu o caderno de notas e Soraya colocou o celular sobre o móvel, começando uma explicação básica do trabalho pois ela já havia feito um parecido. Em primeiro lugar, Simone teria que decidir o tipo de empresa e se seria grande ou pequena. A maior anotava tudo e assentia com a cabeça. Soraya explicava com paciência e usando toda sua força de vontade para se concentrar, pois Simone constantemente mordia o lábio, passava a mão pelo cabelo ou a olhava e sorria torto. Era como aquelas cenas de filme, onde os movimentos passam em câmera lenta, onde a gente pode perceber quando o protagonista está se apaixonando pela garota nos pequenos detalhes.

E assim continuou à tarde, Soraya seguiu explicando conceitos básicos e burocráticos enquanto Simone prestava atenção.

Havia anoitecido quando Simons recolheu o cabelo em um coque frouxo enquanto Soraya explicava as possibilidades da empresa ser conhecida como uma multinacional, porém sua voz cortou quando observou o ato. Ficou muda de repente e com a boca aberta. Seu cérebro sabia que ela estava parecendo uma babaca, mas o que ela podia fazer? Ela sempre fora fascinada por coisas simples e femininas, por isso logo soube que gostava de mulher. O simples ato de a libanesa fazer um coque e deixar seu fino pescoço a mostra, o cheiro de menta saindo de seu cabelo misturado com kenzo foi suficiente pra mexer com todos seus sentidos.

Soraya ( Simoraya ) Onde histórias criam vida. Descubra agora