Quando Simone chegou a casa se encontrou com Leila no sofá assistindo Cisne Negro. Deixou a mochila no chão e apoiou o pé na mesa do centro, suspirando audivelmente. Leila apesar do pouco tempo, havia criado um laço de amizade muito forte com Simone, e quase podia dizer que conhecia os gestos da garota.- Um dia difícil? – Simone imediatamente encarou a amiga. Ela estava tentando esquecer o que Soraya provocava nela, e Leila utilizando as mesmas palavras que a garota não ajudava em nada.
- Você nem imagina! – respondeu passando as mãos no rosto, tentando limpar a frustração. A loira desligou a televisão e se virou para Simone, encarando-a com um balde de pipoca no colo.
- Dispara! – disse animada. Simone respirou fundo. Ela precisava tirar as dúvidas dela com alguém, e quem melhor do que a amiga para isso?
- Ok, mas antes prometa não me julgar. Espera, você é católica? – Leila franziu o cenho ante a pergunta.
- Você está participando de algum ritual macabro? - perguntou alarmada. Simone riu e se sentiu mais relaxada.
- Não, idiota! Apenas... você tem nojo de homossexuais? – disse mordendo os lábios. Leila arregalou os olhos e depois gargalhou.
- Que maluquice é essa? Lógico que não! Por quê? Não me diga que você sim...- perguntou com receio.
- Quê? Não! Claro que não...
-Então?...
- Lembra-se daquela garota que eu te falei ontem?
- A Megan Fox do café?
- Exatamente... adivinha quem é minha monitora no trabalho de economia? – Simone assentiu e mordeu o lábio novamente.
- Mas como?
- Pelo jeito é a aluna preferida do professor Getúlio. Estuda Relações Internacionais e Ciências Políticas, além de ser ótima em Economia. Então... ele pediu que ela me ajudasse e ela aceitou. Começamos hoje, na sala que o professor tem na biblioteca. Estudamos a tarde toda e por varias vezes eu me senti nervosa.
- Nervosa em que sentido? Espera, o que isso tem a ver como nojo de homossexuais? – perguntou claramente confusa.
- Eu... Leila eu... acho que eu me sinto atraída por ela. – Leila arregalou os olhos novamente.
- Atraída tipo... - Simone assentiu.- Uau, isso é realmente surpreendente, e não, não tenho nojo de homossexuais, até porque já passei pela experiência. Mas o que você sente?
- Não sei, hoje, por exemplo, na saída, um garoto se esbarrou nela e ela teve que se apoiar na porta para não cair em cima de mim, mas ficou muito próxima e eu pude sentir seu hálito em minha boca. E por aquela fração de segundos eu desejei que ela me beijasse. Mierda, eu até imaginei a cena! Mas aí ela se afastou e eu me senti decepcionada... Depois, quando estávamos estudando, varias vezes a peguei me olhando, tipo com desejo... Não sei explicar! Agh, e o que é pior, ou melhor, não sei...
Simone falava rápido de mais e gesticulando o tempo todo, e Leila estava ficando nervosa.
- Ela pegou um pacote de bolacha e dividimos enquanto conversávamos, mas aí ficou sujo o canto da boca e eu limpei. Quando eu senti os lábios dela eu morri de vontade de beijá-la novamente, e isso nunca aconteceu comigo, Leila. Eu jurava que ainda estava apaixonada pelo meu ex!
- E? ... - Leila perguntou movendo as mãos com ansiedade.
- E quê?
- Você a beijou?
- Não, você ligou e eu me afastei correndo!
- O quê? – Leila gritou exasperada. - Por que você não a beijou sua idiota? A única forma de saber se essa atração é real, seria beijando-a!
- Eu sei lá, Leila! Até hoje eu nunca tinha sentido isso com uma mulher!
- Oh meu Deus! Garota, você está com um problema sério.
- Você acha que eu sou homossexual? – perguntou mordendo as unhas.
- Depende... - Leila sorriu com malicia.- você sente vontade de ver a vagina dela?
- Leila! – Simone exclamou escondendo o rosto nas mãos. - Que tipo de pergunta é essa?
- É fácil Simone, se você só acha ela bonita, então não, você não é. Mas se você sente atração sexual por ela, então talvez... eu não diria que lésbica logo de entrada já que você ainda pensa em seu ex... Mas é um começo.
- Oh meu Deus, Leila!
- Garota... eu já passei por isso.
- E como você soube a resposta? Espera, você é?
- Bi? Sim... E respondendo sua pergunta anterior, eu estava sentindo a mesma coisa por uma amiga, então a gente ficou, mas tipo ficar de ir para cama e tudo. Não essa coisa de beijinho sem língua. E bom, eu gostei, mas ela era a namorada do meu primo e decidimos que não era justo fazer isso com ele nem a nossa amizade, e simplesmente deixei estar.
- Espera, a Eli não é a namorada do seu primo? – Simone perguntou confusa e foi à vez de Leila morder o lábio e abaixar a cabeça, assentindo brevemente. Simone levou a mão até a boca para engolir um grito. - Oh meu... você e a Eli... - fez gestos com a mão e Leila revirou os olhos.
- Sim Simone, nós transamos e foi muito bom. Podemos prestar atenção na sua garota?
- Ela não é a minha garota.
- Isso é o que nós precisamos descobrir. – Simone se deixou cair no sofá e fitou o teto.
- Ela provavelmente só estava curiosa com minha incapacidade de fazer qualquer coisa respeito a esse trabalho, e se não, deve ter namorado. Mas isso é impossível de saber, ela é muito misteriosa... - falou fazendo uma careta. - Tem algo nela que a impede de ser totalmente natural com as pessoas, como se ela estivesse guardando algum segredo... - comentou mais para si, Leila estava começando a se perder nas teorias da amiga.
-Olha, só há uma forma de você saber, e eu acho que você deveria investir nela.
- Como? – perguntou bufando.
- Você gosta de dançar? – Simone imediatamente se levantou e encarou a amiga com uma sobrancelha levantada. Aquela ideia esta começando a ser interessante.
- Continua... - Leila juntou as palmas e sorriu animada.
- Tem um barzinho latino por aqui, de noite eles colocam salsa, bachata e um pouco de bolero. Às vezes eu vou com o pessoal da Julliard dançar e bom, se cai um mulato latino, bem vindo! Quarta é noite de bachata, é a oportunidade perfeita de você tentar algo com ela.
- Leila, ela gosta de rock antigo, que diabos ela vai fazer dançando bachata?
•🐆🩶•
- Aí é que você entra querida! Acorda! – falou estalando os dedos – Quem melhor que uma cubana caliente para ensinar? – Simone pensou um pouco e um sorriso brotou em seus lábios. Se havia algo que ela fazia bem era dançar.
- Pode ser... - disse mordendo o lábio.
- Dale! – Leila gritou e as duas bateram um high five.- Amanhã você fala com ela e vamos, vou chamar a Eli e um pessoal pra vocês não se sentirem em algum compromisso.
Simone suspirou e foi se preparar para dormir com a total certeza que no dia seguinte acabaria com o sofrimento.
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Soraya ( Simoraya )
Fiksi PenggemarSimone Tebet sempre foi uma jovem responsável e dedicada à família que se esforçava diariamente para sobreviver. Filha de um professor e uma costureira, a jovem cresceu com o sonho de um dia ser uma grande estilista de moda. Porém, a realidade era m...