Houve um tempo, eu me lembro
Que eu nunca tinha me sentido tão perdido
Quando senti todo o ódio
Era poderoso demais para pararO vento forte faz com que meus cabelos voem enquanto olho pela janela do último andar do prédio alto. Vejo minha vida passar mais uma vez em frente aos meus olhos, enquanto respiro o ar fresco da noite.
Dentro do quarto o sangue se espalha, virando uma poça vermelha que vai penetrando pelos vãos do piso de porcelanato caro. Ainda que eu tenha saído do front, a morte nunca saiu de perto de mim, como minha eterna amiga e companheira.
Fecho os olhos e deixo o ar entrar em meus pulmões, sentindo uma vez mais a brisa fresca me resfriar de fora para dentro.
E só então me viro para o corpo baleado no chão.
A essa altura, eu não faço perguntas, apenas obedeço ordens como um robô programado faria. Sou programado para matar, qualquer coisa, qualquer pessoa.
Me ajoelho ao lado do cadáver, que a poucos minutos atrás era um homem que vivia e respirava. Não mais. Meus joelhos sujam com o líquido viscoso e vermelho enquanto alcanço no bolso do homem um envelope de papel branco. Me esforço para não manchar a coisa toda enquanto enfio o envelope ainda quase totalmente branco no bolso.
Saio de lá, sem me preocupar em ser visto, saio de lá, sem me importar com as matérias que no dia seguinte estamparão as capas de todos os jornais: “O fantasma russo faz mais uma vítima”.
Concordo que é um nome apropriado, afinal, parte de mim morreu a muito tempo. Algo, que nunca pôde ser recuperado, sou realmente como um fantasma, como a sombra de um homem, o reflexo de alguém que um dia existiu.
Meu peito havia sangrado como uma ferida aberta, vazando emoções e sentimentos que deveriam importar, até não restar mais nada em mim. Agora, sou tão vazio quanto o homem que jaz no chão do seu quarto caro.
No horário certo, o telefone toca. Não preciso olhar para tela informando “número desconhecido” para saber quem é do outro lado.
— Terminou o trabalho? — A voz fria pergunta.
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O fantasma russo
Короткий рассказCONTO // LGBT // CONCLUÍDO Andrei Pasternak é um jovem que ingressou no exército russo há menos de um ano. Com seus dezoito anos de idade, ele já acumula uma pilha de corpos em seus ombros, uma pilha que tende a aumentar cada vez mais. Fazer amigo...