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- Onde você está indo, Kalil? Ezli pergunta ao ver o noivo rastejar em direção a pequena mesa, onde ficava os petiscos. Como você consegue pensar em comida em um momento desses?
Kalil finge não ouvir, e continua, arrastando-se, rapidamente, pelo piso de mármore frio. Sem levantar o tronco do chão, o príncipe ergue o braço e, tateando a mão pelo centro da mesa, agarra uma bandeja. Rastejando de volta, aproxima-se de Ezli, com o objeto de ouro em mãos. O príncipe apoia os cotovelos no chão e, segurando a bandeja, verifica seu reflexo.
- Meu cabelo nunca esteve tão desgrenhado.
- Você só pode está brincando. Uma pessoa sumiu, duas estão, gravemente, machucadas, e você está preocupado com o seu cabelo?
- Porquê você está estressada comigo, Ezli? Kalil pergunta, sem desviar o olhar da bandeja dourada.
- Sabe, você está certo. Talvez eu esteja arrepend...
Um disparo invade o Salão de Festas, acertando a garrafa de vinho que estava sobre a mesa, onde, segundos antes, a mão do príncipe estava.
Estilhaços de vidro voam em todas as direções. Gritos espalham-se em todo o cômodo. Alguns convidados levantam-se e correm, na esperança de sair do Salão, mas, a poucos passos da porta, são antigidos por outro disparo. Mais de uma dezena de pessoas que os seguiam, caem no chão, com as mãos sobre os ouvidos.
- Não se movam, fiquem onde estão. Isso é uma ordem. Gritava Rei Álvaro.
- Papai, nós vamos morrer? Zoe pergunta ao pai, com os olhos avermelhados, de tanto chorar.
- Não fale uma coisa dessas, querida.
O Rei tentava acalmar a filha.
- Onde estão os seus guardas, Rei? Como eles deixaram isso acontecer?
Rei Germano perguntava, furioso.
Nem mesmo Álvaro conseguia compreender o que estava acontecendo. Onde estavam os seus homens de confiança? A guarda do Reino era composta por cento e vinte guardas. E o Rei só teria visto meia dúzia deles, antes dos disparos.
O Reino estava um caos. Seu melhor amigo havia sumido, alguns de seus convidados estavam mortos. Nem em seu pior pesadelo, Álvaro teria presenciado tal cenário.

                           *****

Sem perceber, Ezli já estava envolvida entre os braços de Kalil. Tão próxima, que dava para ouvir as batidas, aceleradas, do coração do príncipe. Quando ela tentou se soltar do abraço apertado, notou que, o príncipe, não fez gesto algum de que iria desvencilhar-se dela.
- Kalil, você está me sufocando. Já pode me soltar agora.
- Claro, eu já iria fazer isso.
Quando os noivos já estavam separados, o príncipe nota algo de suspeito pelo reflexo produzido na bandeja; Uma sombra, no canto da sacada, apontava uma arma, a que tudo indicava, na direção de Ezli. Sem pensar duas vezes, Kalil rasteja, rapidamente, até a noiva e, abraçando-a, os dois rolam pelo mármore. Por um instante, o Salão parecia ter mergulhado em completo silêncio, não se ouvia gritos, nem choro, nem lamentações.
Naquele momento, só havia o desejo de escapar de um fim trágico e o medo de falhar na tentativa.

                            *****

Quando a bala erra o alvo, tudo parece voltar ao cenário anterior, o barulho invade os ouvidos de Ezli, trazendo-a, de volta, para a realidade, caótica, instalada no Reino. Sentiu um arrepio ao pensar que seu coração e seus sonhos poderiam ter sido perfurados por um pequeno projétil. Se Kalil não agisse tão rápido, ela estaria morta, a essa altura.
Ezli sentiu, pela primeira vez, a fragilidade de sua vida. Seu coração batia forte, suas mãos estavam geladas e ela não conseguia pronunciar uma única palavra. Sentiu que as mão quentes do príncipe ainda estavam segurando, firmemente, a sua cintura e a sua nuca. Antes que pudesse falar algo. Ouviu o grito da Rainha Núbia.
- Meu filho, salvem meu filho.
Ezli olhou para o príncipe e percebeu que seus olhos não estavam com o brilho habitual, de criança peralta, mas, estavam opacos.
- Eu falei, não foi mesmo?
- Não estou entendendo, Kalil.
- Que seria capaz de dar a minha vida, para salvar a sua.
Ezli, assustada, desliza a mão pelas costas do príncipe e toca em algo úmido e quente, quando ergue a mão, para conferir, vê o sangue lustroso escorrendo pelo seu pulso. Kalil foi
antigido.
          
          

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