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- Kalil, fale comigo. Você não pode morrer, está me ouvindo? Não pode. Ezli segurava o rosto do príncipe entre as mãos.
- Com licença, Vossa Alteza. Precisamos levá-lo. Falou um homem magro de pele escura e narigudo.
- Para onde vai levá-lo?
- Para o quarto onde estão os outros feridos. Precisamos estancar esse sangue o quanto antes.
- Me prometa que ele não vai morrer.
O homem encara Kalil, já pálido e desacordado, e volta o olhar para Ezli.
- Eu farei tudo o que for necessário para salvá-lo.
Com ajuda de outros dois homens, o jovem enfermeiro leva Kalil para o quarto, deixando Ezli para trás que, entre soluços, cai de joelhos no chão.
- Tente ficar calma. Eles vão salvar o príncipe. Rainha Petra tentava consolar a filha.
- Eu preciso descobrir quem transformou a minha festa nessa tragédia. Não descansarei enquanto não encontrar quem fez isso com Kalil.
- Acalme-se, querida, seu pai já está tomando as medidas necessárias. A pessoa, por trás desse ataque, não sairá impune.
Ezli enxuga as lágrima do rosto,  levantando-se do chão.
- Como os pais de Kalil estão?
- Depois que seu pai e eu conversamos com eles, estão mais calmos.
- E Zoe? Onde ela está?
- Está com seu pai. Ela não largou a mão dele um só instante.
-Você precisa descansar, querida.
- Como eu vou conseguir descansar, enquanto Kalil está a beira da morte? E ainda, por minha causa.
- Nos desesperar, não vai ajudar em nada, Ezli.
- Fingir que está tudo sob controle, também não. Ezli deixa a rainha e segui em direção ao seu quarto.
                          
                              *****

Três horas se passaram, os convidados já haviam ido embora e um silêncio, assustador, ocupava todo o Reino. O quarto onde estavam os feridos, era o único cômodo no qual ouvia-se barulho de passos apressados.
Ezli, nas pontas dos pés, subia a escada que dava acesso ao quarto. A sua angústia e curiosidade estavam matando-a. Quando aproximou-se da porta, encostou a orelha, na tentativa de ouvir o que acontecia lá dentro.
Seus olhos arregalaram-se e ela sentiu as pernas amolecerem, quando ouviu a conversa entre os  dois enfermeiros.
- Ele não resistiu, Demétrio. Como vamos conseguir falar isso para a família?
Ezli sentiu-se tonta, tudo ao seu redor girava e ela não tinha mais forças para manter-se de pé.
Quando o enfermeiro abre a porta, Ezli cai aos seus pés.
- Princesa, o que está fazendo aqui? O jovem enfermeiro agachou-se, para ficar frente a frente com Ezli.
- Ele... - a princesa engoliu em seco, tentando pronunciar a palavra que lhe causava calafrios - Ele está morto?
- Tente ficar calma, Vossa Alteza.
- Me responda agora. Isso é uma ordem. Ezli gritava, agarrando a gola da camisa do enfermeiro.
- Infelizmente, ele não resistiu. Suspeitamos de um ataque fulminante, a julgar pela...
- Ataque fulminante? Como assim?
- Bem, não sabemos ao certo. Como eu já lhe falei, é uma suspeita. Muitos outros fatores podem ter contribuído para a morte do Dr. Marcus.
- Dr. Marcus? Você está falando do Dr. Marcus?
- Sim, um dos guardas o encontrou, próximo ao jardim, já sem vida.
Ezli levantou-se do chão frio e seguiu em direção as camas, onde estavam  os feridos. A princesa para ao ver Kalil, de bruços, na cama minúscula. O curativo, destacava-se, na pele, ainda pálida, do príncipe.
- Por sorte, o projétil não acertou nenhum dos órgãos vitais do príncipe. Ele vai ficar bem. Derick, irmão de Demétrio e, também, enfermeiro, falou ao perceber que a  princesa encarava Kalil.
Ezli não conseguiu conter sua alegria e alívio. O príncipe está fora de perigo.
- Os pais de Kalil já sabem que ele está bem?
- Demétrio foi avisá-los, Vossa Alteza.
- Assim que ele acordar, me avise.
-  Claro. Responde, gentilmente, o enfermeiro. Agora, não é aconselhável que você continue aqui.
- Sim, eu entendo. Já estou indo.
Ezli vai em direção à porta, mas, interrompe os passos antes de atravessá-la, e virando-se para o interior do quarto, agradece o enfermeiro, que sorrir em retribuição.

                                *****

No dia seguinte, Ezli levantou-se antes de todos do Reino e foi ao quarto de Kalil, que, agora, já estava em um quarto reservado.
Quando a princesa adentra o cômodo, encontra a cama vazia. Os lençóis, com algumas manchas de sangue, ainda estavam bagunçados. Ezli já estava preparada para chamar os guardas quando Kalil surge, apenas de calça, secando o cabelo com a toalha.
- Ezli? Ele para ao ver a figura da princesa, em seu quarto.
Sem falar nada, Ezli corre ao seu encontro e o abraça.
- Pelo visto, ser atingido por uma bala, tem suas vantagens. O príncipe entrelaça seus braços em volta da cintura da princesa.
- Seu ridículo. Ezli rir da piada.
Afastando-se, Kalil senta na cama, com a toalha, úmida, sobre o ombro.
- Como você está se sentindo? Ezli pergunta, enxugando uma lágrima. (Agora, de felicidade).
- Como se uma bala tivesse me acertado.
- Vejo que está ótimo. Continua com o senso de humor duvidoso. Os dois riem. De repente, Ezli nota que Kalil possui uma caliandra, entrelaçada, em uma espada, tatuada, no peito. Kalil percebe o olhar curioso da princesa para sua tatuagem.
- Na época, eu achei que seria uma ideia genial, um diferencial. Algo sexy, sabe?
- Sinto informar que você falhou na tentativa.
Kalil sorrir e encara Ezli por alguns segundos.
- Porquê você se arriscou para me salvar? Você poderia ter...
Kalil a interrompe.
- Eu não poderia deixar que alguém fizesse mal a minha noiva. Eu prometi ao Rei que sempre irei protegê-la. Sempre.
- Então, você arriscou sua vida, por conta de uma promessa que fez ao meu pai?
- Não é bem assim, Ezli. Eu quis dizer que...
- Não importa. De qualquer forma, fico feliz por sua recuperação. Se me permite, preciso ir agora.
- Ezli, por favor, não vá. Fique aqui. Eu me sinto melhor quando você está por perto.
- Deixe-me adivinhar, essa é outra de suas promessas ao Rei?
- Esse é o desejo mais sincero que há em mim.
- Não seja hipócrita.
- Você não pode sair daqui, até desvendarmos o que aconteceu ontem.
- Tudo o que eu mais quero é descobrir quem foi o autor do ataque ao reino.
- Você não lembra de ter presenciado algo suspeito? Algum estranho no meio dos funcionários do Reino?
- Não, estava tudo ocorrendo dentro do planejado. E eu estava muito nervosa com o casamento, se algo assim aconteceu, passou despercebido.
- Eu não responderei por mim, caso encontre o responsável por essa tragédia. A pessoa que destruiu nossa cerimônia de casamento, irá se arrepender, amargamente, de ter cruzado meu caminho e de ter tentado tirar a sua vida.
Kalil aperta os lençóis com tanta força, que as veias de suas mãos  ficam a amostra.

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