Persistir.

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Hoseok deixou Jimin na porta de casa, foi gentil e cavalheiro a todo momento, pareceu irreal por alguns instantes. Park adentrou a mansão que por muito tempo o assombrou, em silêncio, seguiu rumo a um dos enormes quartos; o que tinha isolamento acústico.

O céu começava a tingir-se de laranja e roxo, um lembrete silencioso de quanto o tempo havia avançado enquanto Hoseok o conduzia de volta para casa. Jung, sempre gentil, sempre cavalheiro, acompanhou-o até a grande porta de madeira escura. O sorriso que ofereceu a Jimin foi tão caloroso, contudo, talvez fosse apenas uma desconfiança boba, mas havia algo irreal naquele momento, como se Hoseok estivesse tentando mascarar a verdadeira natureza de sua visita, escondendo a escuridão com gentilezas, a maldade com sorrisos bonitos. Park apenas assentiu em resposta aos últimos comentários dele, murmurando algo educado antes de atravessar a porta da mansão. O som da porta se fechando atrás de si reverberou pela casa, ecoando por corredores longos e vazios, um lembrete de que ele estava sozinho novamente e assim ficaria. Passou pela cozinha antes de subir as escadas e lembrou-se de seus medicamentos.

— Preciso comprar um celular logo, ficar sem despertador é difícil — pegou quatro cartelas.

Ele não se deu ao trabalho de acender as luzes. De alguma forma, a penumbra parecia mais apropriada para o estado de espírito em que se encontrava.
Caminhou em direção a um dos quartos no segundo andar, aquele que tinha isolamento acústico, sendo o mais apropriado para o motivo da montagem do computador. As peças estavam todas ali, espalhadas pelo chão após serem retiradas delicadamente da caixa, aguardando serem unidas em algo funcional.
Com um suspiro, ele sentou-se diante da mesa, observando as peças por um longo momento antes de começar a trabalhar. A tarefa em si era simples, quase mecânica. Conectar os cabos, encaixar as placas, parafusar, ligar e testar. Cada movimento, cada clique de uma peça encaixando no lugar, ecoava no silêncio do quarto. Embora suas mãos estivessem ocupadas com o trabalho, sua mente vagava.

E inevitavelmente, sua mente o levou a Jungkook.

O nome era como uma âncora, puxando-o para o fundo de um mar qualquer. Jungkook, com seus olhos intensos e sorriso que sempre parecia o salvar. Jungkook, o garoto que havia se tornado seu mundo, sua luz no fim do tunel. E Jungkook, que agora era apenas uma memória, algo que ele não podia ter, mas que não conseguia deixar ir. Seu primeiro e único amor.  As mãos de Jimin hesitaram por um momento, suas narinas puxaram ar fortemente, estava
segurando uma peça de metal frio enquanto seus pensamentos se aprofundavam nas memórias. Com essas memórias vinham também as lembranças amargas, aquelas que ele tentava, sem sucesso, esquecer por completo. Havia algo terrivelmente injusto em amar alguém tão profundamente. Sempre há algo ruim. Bom, Jimim acreditava que sempre haverá algo ruim. Ele não podia deixar isso vir a tona novamente. Não agora. Jung havia sido gentil, oferecera-lhe uma saída como distração, e ele precisava se concentrar nisso, em boas ações de pessoas que estão no agora.

Seria errado seguir em frente mesmo lembrando do passado?

O barulho do parafuso sendo apertado trouxe Jimin de volta ao presente. Era como se estivesse no automatico até o momento; sua cabeça doeu por
um instante e logo retornou totalmente a sua consciência.

Quando a última peça fora encaixada, ele encostou-se na cadeira e observou a máquina diante dele.

Suspirando, ele se levantou e ligou o computador. As luzes piscando preenchiam o quarto com um brilho baixo.
Jimin olhou para a tela enquanto o sistema iniciava, as mãos ainda descansando sobre o teclado. Ele sabia que não importava quantos computadores montasse, quantos jogos jogasse, quantos trabalhos trabalhasse, quantas pessoas se envolvesse, ou quantos livros lesse. No fim do dia, ele sempre acabaria voltando para as mesmas lembranças, a mesma pessoa, para o mesmo nome.

Prenda-me Se For Capaz  #2 - O Eco do Passado.Onde histórias criam vida. Descubra agora