Reviver os traumas.

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Quando Jeon deixou Jimin em frente a mansão Park, ambos sabiam que seria uma noite difícil, embora gratificante, ainda existia uma grande muralha entre eles.

— Eu vou indo — avisou Jimin ao abrir a porta do carro — obrigado pela noite — sorriu fechado.

— Eu quem agradeço, meu bem — segurou seu pulso o impedindo de sair — não se esqueça de minhas palavras: eu ainda te amo. Nunca deixei de pensar em você, os sentimentos são os mesmos — suspirou — caso precise de qualquer coisa — abriu o porta-luvas, pegou uma cardeneta e anotou seu número — não exite em ligar ou mandar mensagens.

Hoseok havia feito o mesmo, entre vocês dois, eu prefiro o que ainda não me abandonou.

Jungkook hesitou por um momento antes de liberar seu pulso, o toque de seus dedos quentes deixou uma sensação fria quando afastaram. Jimin saiu do carro e olhou para a mansão à sua frente, o vazio que havia dentro da casa era semelhante ao que havia dentro de si, bom, era isso que ele pensava. A fachada luxuosa, agora desgastada pelo tempo, refletia o caos interno que Jimin enfrentava diariamente, ao acordar, ao precisar sair sozinho, ao deitar-se, ao adormecer. Ele deu alguns passos em direção à porta, sentindo os olhares de Jungkook queimando sobre suas costas.

— Boa noite, Jimin — a voz suave de Jungkook ressoou, algo que Jimin já não sabia se queria ouvir.

Jimin parou por um instante, mas não se virou. Entrar naquela mansão era como revisitar seus piores pesadelos, contudo, era a única coisa que sua mãe havia deixado, afinal, não há nem notícias dela. Os corredores vazios ecoavam o silêncio e seus passos calmos, as vezes ele desligava sua mente enquanto andava e desta vez, não foi diferente. A memória dos dias internado no hospital psiquiátrico ainda era fresca, e as sombras aterrorizantes dos traumas ainda o perseguiam.

Ele fechou a porta atrás de si e apoiou as costas na madeira fria, deslizando lentamente até se sentar no chão. Jimin fechou os olhos, sentindo o cheiro familiar que misturava madeira envelhecida e perfume caro — o aroma de sua infância, que agora só trazia lembranças amargas.

As cenas dos tratamentos que havia sofrido no hospital invadiram sua mente, mesmo sendo um hospital nem todos os enfermeiros eram empáticos. Jimin dizia que havia dado sorte em ter Jackson, Jihyo e Yeji para cuidar dele. Lembrava-se das noites solitárias, dos médicos insensíveis e das terapias invasivas que prometiam consertá-lo.  Jimin revivia essas lembranças com tanta clareza que, por vezes, se via de volta naqueles quartos estéreis e gelados, preso em um ciclo sem fim. Cada som, cada eco, fazia seu corpo encolher, como se ainda estivesse lutando para escapar e planejando algo que ainda sente vontade.

Park respirou fundo e apertou o papel de Jungkook contra o peito. Aquele pequeno pedaço de papel era um vínculo tênue com uma realidade que ele mal conseguia tocar. Jungkook dizia que o amava, mas como alguém poderia amar o que restou dele?

Como alguém poderia abandonar quem ama?

Jimin se levantou, tentando afastar esses pensamentos, e decidiu não ficar no quarto, apenas seguiu até a grande sala de estar. As luzes ainda estavam apagadas, e ele não se preocupou em acendê-las. Se sentou no sofá, abraçando as pernas, e olhou para o telefone. Pegou o número de Jungkook, hesitando antes de salvar o contato enquanto frases repassavam em sua cabeça. A solidão pesava em seus ombros, mas ele ainda não tinha certeza se estava pronto para se abrir novamente, para deixar alguém entrar em seu mundo quebrado. Fechou os olhos mais uma vez, se permitindo um breve momento de fraqueza onde seu peito subia e descia rapidamente.

A mansão estava silenciosa – como sempre – e ele se sentia tão pequeno diante dela. Diante de tudo. Como se fosse apenas um fantasma preso em suas próprias memórias, esperando, um dia, se encontrar novamente.

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⏰ Última atualização: 5 days ago ⏰

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Prenda-me Se For Capaz  #2 - O Eco do Passado.Onde histórias criam vida. Descubra agora