DOIS

115 15 3
                                    


BERNARDO

Hoje foi um dia um pouco corrido no trabalho, nem consegui sair a tempo de ir buscar Gabriel na creche, tive que pedir pra Cecília ir buscar com o motorista. Chego em casa com Fernando e Gabriel já está prontinho de banho tomado e esperando o jantar. Pego ele no colo.

_ Oi papa.

_ Oi meu amor.

Dou um beijo nele.

_ Boa noite Ceci, tchau Ceci.

_ Nossa. Tchau né, tá me expulsando.

_ Estou mesmo mulher, vá logo embora antes que seu marido faça como o meu a anos atrás, você tem trabalhado demais.

_ Credo! Vira essa boca pra lá, não rogue essa praga em mim não.

_ Hum, não abra o olho pra ver só.

Me despeço dela e ela se vai rindo.

_ Fernando hoje eu não vou sair, tô podre de cansado, e Luciano mandou mensagem dizendo que ja está chegando, então só vamos jantar e dormir, pode ficar a vontade por hoje. Boa noite.

_ Boa noite.

Fernando vai aos aposentos dele e eu subo pro andar de cima com Gabriel no colo.

_ Agora é eu e você meu amorzinho, só vou tomar um banho pra ficar cheiroso pro seu papai que chega daqui a pouco. Cadê a holy?

_ Ói tá lá fóia.

_ Lá fóia querido? Aquela desmiolada deve estar cavocando o jardim e destruindo minhas plantas que restaram, daqui a pouco ela entra imunda sujando a casa toda.

Deixo Gabriel brincando no quarto e tomo um banho. Quando Luciano chega vamos jantar e depois limpamos a cozinha e vamos para o quarto, fazemos nossa higiene e como sempre Gabriel e holy ficam um pouquinho na cama com a gente e depois ele os leva pro quarto de Gabriel. Quando ele volta já chega me abraçando e beijando.

_ Como foi o seu dia?

Me pergunta mechendo em meu cabelo, ele é meio fissurado pelos meus cachos.

_ Corrido. A nova campanha tá crua, não consegui decidir pela agência que irá fazer a campanha publicitária. Tava pensando em contratar uns modelos e fazermos nós mesmo esse marketing sabe?

_ É?

_ Sim. As agências tem sempre as mesmas propostas e isso já me cansou, aquele publicitário que me enviou o portfólio me agradou bastante. Mas não tô a fim de falar sobre a empresa. E a clínica? Tudo certinho?

_ Tudo indo meu amor, mas como você eu tô saturado de falar de trabalho.

Eu rio e ele já vem pra cima de mim, eu e Luciano ainda temos a vida sexual bastante ativa apesar do nosso trabalho exaustivo. Nos amamos até altas horas da madrugada, tomamos outro banho pra dormir e acordo com o interfone tocando, abro os olhos e me parece ser cedo ainda pois tenho certeza que meu despertador que toca as sete horas ainda não tocou. Luciano que geralmente tem o sono mais pesado que eu acorda também.

_ Quem será que é?

Ele pergunta ainda grogue de sono.

_ Não sei, os seguranças já atenderam o ser inconveniente, certeza. Quem bate na casa dos outros a essa hora da manhã?

Pego meu celular e olho as horas, seis e dez. Torno a repetir, quem é que toca o interfone da casa alheia às seis e dez da manhã? Me levanto pra ir ao banheiro mas ouço vozes alteradas e olho pra Luciano perguntando só pelo olhar se ele também ouviu. Parece que nós dois reconhecemos a tal voz ao mesmo tempo pois vamos a varanda e vemos Fernando e Adriano numa discussão acalorada em nosso quintal.

_ O que esse cara faz aqui?

Pergunto puto pois definitivamente não gosto desse cara e já tinha deixado bem claro que não o queria em minha casa. Saio da varanda e vou até o andar de baixo com Luciano atrás de mim.

_ Bernardo calma, a gente não tem nada com isso.

_ Como não? O cara vem fazer escândalo a essa hora em minha casa e eu não tenho nada com isso? É ruim que não tenho.

Abro a porta e me deparo com Fernando segurando Adriano pra que ele não invada minha casa e não entendo absolutamente nada.

_ O que está acontecendo aqui Fernando?

Ele para de se debater e me olha com ódio.

_ Aí está você seu filho da puta, era você mesmo que eu queria..

Arregalo o olho diante do ataque dele. Que merda aconteceu pra despertar a fúria desse louco? Ele avança sobre mim e se não é Fernando o segurar e Luciano entrar em minha frente, o negócio teria ficado feio.

_ Para com isso Adriano, vamos conversar..

Agora reparo que Fernando chora apavorado.

_ Não encoste um dedo no meu marido Adriano, o que deu em você?

_ O que deu em mim? Pergunta pra esse desgraçado aí, esse miserável filho da puta.. isso não vai ficar assim tá? Eu vou te matar..

_ ALGUÉM ME DIZ O QUE ESTÁ ACONTECENDO?

Pergunto alto pra sobressair as ameaças infundadas de Adriano.

_ Você não sabe?

_ Amor por favor, por favor para, vamos conversar..

O desespero de Fernando é evidente e o ódio de Adriano também. Eu, Luciano e outros empregados estamos inertes sem saber como agir.

_ NÃO PARO! Ele me xingou tanto de amante, se vitimou tanto não foi? E agora fez pior, vai e fica com o meu namorado, eu fiquei com seu marido mas na época eu não te conhecia porra, você é doente seu desgraçado..

_ Como é que é?

Luciano pergunta completamente incrédulo e eu não estou diferente. O que este louco está falando?

_ Isso mesmo que você ouviu, essa puta que você exibe com tanto orgulho como seu marido, saiu com o meu namorado.. fala pra ele seu desgraçado, fala que você deu o troco na gente como insinuou que iria fazer, sua puta..

Olho pra Fernando e consigo ver o desespero em seu rosto, ele chora tanto que já nem consegue segurar o namorado, agora é um outro empregado que o segura.

_ Me diz que isso é mentira Bernardo, por favor me diz que isso é mentira..

Olho pra um Luciano que me encara mortificado e tento me lembrar do que me pareceu ser um sonho a meses atrás, sonhei que o beijava quando passei mal na nossa antiga casa, mas não tinha como ser ele pois o beijo apesar de bom, era diferente e depois eu soube que Luciano não esteve lá comigo naquela noite, por isso eu jurava que tudo aquilo tinha sido um sonho. Eu e Fernando? Eu fiquei com ele? Pro meu desespero e acho que de todos aqui eu não me seguro e solto uma gargalhada histérica, rindo da situação inusitada e muito ridícula.

APRENDER A PERDOAR - SPIN OFFOnde histórias criam vida. Descubra agora