APRENDER A PERDOAR - SPIN OFF

ONZE

BERNARDO

Tô estressado. Já faz quase uma semana que Luciano está me levando ao trabalho, eu não consegui escolher meu segurança ainda, eu não quero ter que trocar de segurança, estou tão acostumado com Fernando e Wendel, é besteira de Luciano ter ciúmes de Fernando, poxa ele me traiu e eu ainda voltei com ele depois de cinco anos. Pra que prova de amor maior do que essa?

Como sempre Luciano me deixou cedo no trabalho e seguiu pra deixar o  Gabriel na creche e depois irá para a clínica dele, eu cumprimento alguns funcionários que encontro no caminho e tomo o elevador. Sigo minha agenda normalmente e depois do almoço novamente lá vai eu pra mais entrevistas com seguranças, da outra vez foi a Melissa quem escolheu pra mim, ela é boa com isso, acho que pedirei pra que ela escolha dessa vez também. Entra o primeiro candidatoa vaga, um loiro de olhos claros com cara de galã, ele deveria entrar na seleção de modelos e não de segurança, com essa carinha de bebê não assusta ninguém, o segundo candidato, bem o segundo eu o contratei pra fazer uma experiência, ainda bem que gostei desse, ele é moreno alto e bem sério, como o Fernando, só não é tão bonito quanto. Preciso de mais um segurança e o terceiro candidato a vaga entra, estranho ele de cabeça baixa e de boné, já vou o dispensar quando ele tira o boné e sorri pra mim debochado, eu me levanto assim que o reconheço.

_ Eu se fosse você não acionava a segurança, sei que tem dispositivos pra isso nessa mesa.

_ Claro que sabe, perguntava tudo sobre mim para o Fernando. Mas o que faz aqui disputando uma vaga de segurança? Mudou de profissão?

Pergunto tentando esconder meu nervosismo. O que ele quer aqui?

_ Pensou que estava livre de mim?

_ Eu não pensei nada, não penso em nada que diga respeito a você.

_ A não? Soube que adiou seu casamento. Luciano enfim enxergou quem você é?

_ Acho que sim.

Não entro em detalhes pra explicar que fui eu quem adiou o casamento, não é da conta dele.

_ O que quer aqui Adriano? Eu estou ocupado como pode ver, e nós não somos melhores amigos, não consigo encontrar nenhum assunto que tenhamos em comum, se quer o emprego a resposta é não. Se retire por favor.

_ Nós vamos nos retirar, porque você vem comigo.

Eu dou risada.

_ Que isso um sequestro? Você realmente mudou de profissão? Eu não vou a lugar algum com você.

_ Vai.

Eu rio da cara dele. Será que esse maluco está armado? Porque nem assim eu sairia daqui com ele.  Se ainda está puto porque o namorado me beijou, ele que lide com isso, quando ele transou com meu marido eu fiquei na minha.

_ Vai porque você sabe que dia é hoje..

O sorriso some do meu rosto.

_ ... quinta-feira, dia do meu passeio com meu afilhado de coração.

_ Você não chega mais perto do Gabriel, Luciano avisou na escola que você não pode mais o pegar.

_ Avisou? Eles parecem ter se esquecido pois o Gabs está em meu carro, e é melhor a gente descer rápido, não é bom pra ele ficar preso num carro, ainda mais que acabei de me lembrar que esqueci de ligar o ar condicionado.

_ Seu louco, vou chamar a polícia...

_ Solte esse celular, Gabriel está no carro e está sozinho, ja está a um bom tempo la, melhor se apressar e nem pense em acionar esses botõezinhos na sua mesa, eu deixei meu carro num lugar um pouco difícil de encontrar.

_ Você está mentindo, ele não está com você, me prove que está com ele.

_ Eu não tenho que provar nada, se está tão seguro que não estou com ele pegue o telefone e chame a polícia.

Filho da puta! Engulo em seco morrendo de medo de algo acontecer com o meu bebê.

_ O que você quer?

_ Quero que venha comigo. Temos pendências em aberto pra resolver.

_ Cara, eu não tenho nada com o seu namorado se é isso que te preocupa, caramba eu nem me lembrava daquele beijo..

_ Mas ele se lembra e por isso  você vem comigo, deixe o celular e avise seu secretário que sou seu novo segurança e já estou em serviço, avise que não volta mais hoje pra empresa.

_ Eu tenho reuniões, tem pessoas pra serem entrevistadas por mim ainda.

_ As dispense, diga que a vaga há foi preenchida. Não deixe ninguém desconfiar de nada ou Gabriel ficará assando naquele carro, olha o calor que está.

Me desespero completamente.

_ Para com isso ele não te fez nada...

Minha voz embarga.

_ ... ele é só um bebê, por favor..

Peço já chorando.

_ Não chore porra. Alguém pode desconfiar.

_ Você é um monstro, dizia que gostava do Gabriel...

_ E gosto, por isso sugiro que andemos logo com isso antes que seja tarde.

Vou em direção a porta mas ao passar por ele o nojento me para pra me revistar passando as mãos pelo meu corpo demasiadamente, tenho vontade de vomitar, que nojo desse verme. Saímos da sala e eu peço pro meu secretário adiar minha reunião pra amanhã e dispenso os outros candidatos a vaga de segurança. Descemos pelo elevador e eu não consigo parar de  olhar com ódio pra ele.

_ Me olhando assim vou achar que está apaixonado.

_ Estou com ódio de você, eu não tinha sentimento nenhum por você antes disso, quem me traiu foi o Luciano, você era apenas uma pedra no meu sapato, uma pedra que me incomodava bastante mas ainda assim uma pedra, mas agora você me despertou ódio e repulsa, ultrapassou todos os limites de humanidade. Como você coloca um bebê em perigo? Um bebê que você viu nascer, que você dizia amar? Afilhado de coração é o caralho, irei tirar meu filho do teu carro e chamar a polícia seu filho da puta.

_ Você vai entrar no carro como eu falei.

_ Eu faço um escândalo.

_ Fica quieto senão eu desisto e largo ele lá, até vocês o encontrarem pode ser tarde.

Engulo um soluço de choro e procuro não falar mais nada, Adriano definitivamente enlouqueceu. Saímos do elevador e ele passa o braço na minha cintura, segue andando abraçado comigo, que nojo desse cara. Passamos por várias pessoas, e elas nos olham estranho, eu tenho vontade de gritar e não posso, não sei o que ele é capaz de fazer com meu filho, aliás ainda estou impactado, nunca poderia esperar isso dele. Assim que saímos da empresa eu tento tirar a mão dele de mim mas ele não deixa.

_ Fica quieto porra.

_ Não tem necessidade nenhuma de me abraçar seu nojento, eu tô colaborando, estou andando com você, não estou?

_ É mais eu prefiro assim.

Suspiro buscando paciência. Caminhamos pela rua e entramos numa rua atrás do prédio.

_ Cadê seu carro Adriano? Se estiver mentindo pra mim eu acabo com você, acabo com sua carreira de médico seu infeliz.

Ele dá uma gargalhada.

_ Você se acha né? Só porque fabrica uns cremes e sabonetes se acha o rei da porra toda...

Ele para na calçada espera um casal passar e destrava um carro de vidros escuros, eu abro a porta traseira com urgência e não há ninguém no carro. Fico muito aliviado por Gabriel não estar la, mas me sentindo um completo idiota por ter sido enganado tão facilmente por esse desgraçado.

_ Filho da pu...

Antes de eu terminar de falar ele me segura por trás e segura algo com cheiro forte em meu nariz, eu me debato mas não consigo escapar, apago em segundos em seus braços.