3 - filme de terror

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— POV: Cecília

Estou esperando as meninas puxarem os carros para sairmos do abrigo pela primeira vez. É estranho estar em céu aberto com uma arma nas costas, como em uma terra sem lei. Me daria certa sensação de poder se eu não soubesse que a maioria das pessoas aqui também estão armadas.

É possível ver vários grupos se juntando para fazer o mesmo que nós. Espero que fora da base a pacificidade continue, já basta lutar contra os zumbis.

- Ak-47... podia ser uma melhorzinha né — Selena reclama ao meu lado.

- Pelo menos não mandaram a gente pro abate de sub com cinquenta munis — Eu falo e ela ri.

- Que específico.

- Tive um pesadelo com isso.

- Foi por isso que você me acordou com um chute semana passada? — Selena pergunta e, felizmente, Cristal começa a nos dar instruções e eu não preciso responder.

Cristal nos instrui a andarmos em comboio, já que ainda não sabemos bem como a situação está la fora. Com cada carro contendo pelo menos uma veterana, fico com Cristal, Kali e Hori. Torço para que a patroa não enlouqueça por ficar em um carro com várias recrutas.

Quando saímos da base, eu observo os arredores e me vem a dúvida se talvez eu teria sido mais feliz no porta-malas como sempre, mas não sei se eu conseguiria lidar com a curiosidade de saber como a nossa cidade está. Só que... bem... não está nada boa.

Eu não tinha ideia que plantas cresciam tão rápido assim. Muitos dos carros detonados no meio da rua foram invadidos por mato. Como a base é distante da parte urbana da cidade, nossa visão se resume a algumas montanhas, árvores e trilhos de trem.

Demora cerca de meia hora para darmos de cara com um grupo de zumbis. Fazia um ano que eu não via um assim, tão de perto. Já havia visto eles andando do lado de fora do abrigo, mas nunca a essa distância.

Dessa vez, porém, é diferente de como foi naquele dia na Garagem. Agora eu estou preparada para matar essas coisas.

Começo a atirar e percebo que eles são bem mais resistentes do que uma pessoa normal. Já havíamos notado isso no dia em que Selena atirou praticamente no coração de um zumbi e ele mal foi afetado. Acho que faz sentido, já que eles tecnicamente já estão mortos.

Vejo tiros vindo de trás de nós, o que significa que as meninas dos outros carros também estão atentas.

- Esses bichos são horrorosos — Malu fala entre disparos.

- São mesmo — Cristal concorda e passa por cima do último que restou.

Não encontramos muitos animais no caminho, apenas um ou outro cervo, uns coelhos... e a experiência de ter que sair correndo para pegar o bicho e voltar para o carro sem ser pega por um zumbi não é nada legal, digo por experiência própria.

Mas acho que a pior parte é quando nós nos aproximamos do sul da cidade. Muitos carros destroçados, vegetação crescendo descontrolada nas paredes dos estabelecimentos, manchas que lembram sangue seco... além dessas criaturas se arrastando por toda parte. É um filme de terror, tirando a parte do "filme."

Minha distração é quebrada quando gritos soam através do rádio. As meninas falam por cima umas das outras, algo sobre fogo.

- Gente, limpa o rádio. Qual o problema? — Cristal fala, já virando o carro para mudar a rota.

- TEM UM ZUMBI DE FOGO — Uma das recrutas grita no rádio.

- Um o que?! — Cristal pergunta, transmitindo o mesmo pensamento que a maioria de nós está tendo.

- RENATA VIRA O CARRO, SE ELE ENCOSTAR VAI EXPLODIR — Selena grita.

Cristal começa a voltar pelo caminho que viemos, os outros carros nos acompanhando, até chegar onde o carro com Renata, Selena, Dianne e Aurora está. Tem um zumbi com o corpo inteiro pegando fogo atrás delas. Como isso... eu nem tento mais entender. Para falar a verdade, não consigo pensar em mais nada além do fato de que as meninas - incluindo a Selena - estão em perigo.

Eu e Kali colocamos as armas para fora do carro, atirando repetidamente no zumbi em chamas, que tropeça algumas vezes antes de desistir do carro delas e correr até o nosso.

Por sorte, com a quantidade de pessoas disparando nele, o monstro cai antes de nos alcançar. Atiro mais algumas vezes para ter certeza de que ele não vai levantar e então percebo que acabamos negligenciando os zumbis regulares ao nosso redor.

Recolho minha arma e atiro de dentro do carro no zumbi que se joga na minha janela. Cristal dispara em seguida.

- Já deu por hoje — Ela fala e segue o caminho de volta para a base.

Sei que não conseguimos tanta comida quanto esperávamos e não fizemos nenhuma descoberta, exceto pelo fato de que aparentemente existem "zumbis de fogo", algo que eu preferia ficar sem saber. Apesar de no fundo saber que deveríamos continuar aqui fora, eu só quero voltar para o abrigo e ver se Selena se machucou.

E é isso que eu faço assim que a patroa estaciona o carro. Corro até as meninas que foram perseguidas pelo tal zumbi e me embaralho com as perguntas.

- Respira, Cecília. A gente tá bem — Renata fala com uma mão no meu ombro.

- É- é, eu sei. Eu to vendo. Eu só me preocupei...

- Bom saber — Selena fala — Vem comigo, preciso de atadura pro meu braço.

Ela sai de perto do carro e eu ando atrás dela, analisando o braço machucado.

- O que aconteceu? — Eu pergunto.

- Só arranhei no vidro quando fui atirar. E nem era num zumbi, era em um javali ou sei lá qual o nome daquele bicho. Nem consegui pegar porque essas coisas asquerosas apareceram — Ela fala ao entrarmos na ala médica.

Selena pega as ataduras que temos direito de graça a Dra Rosa e depois nós saímos para a nossa passeada de sempre. Nela, lembramos do Tomate. Sinto uma saudade absurda dele, e sei que ela também. Mas obviamente eu fico feliz de que ele estava fora da cidade quando o apocalipse estourou. Tenho certeza que ele está em uma situação melhor que a nossa.

- O que acha que ele diria se estivesse aqui? — Selena pergunta.

"Provavelmente diria que eu estou parecendo uma boba do seu lado", eu penso.

- Que isso parece um filme de terror — Eu opto por falar — Acho que ele mijaria nas calças se desse de cara com um zumbi.

- Ei, eu pensei isso também — Selena ri — Ele é muito frouxo, tadinho.

- Ele é... mas eu amo ele.

- Eu também.

Eu realmente sinto falta do nosso triozinho. As vezes me pego pensando em o que Tomate acharia de eu e Selena estarmos ainda mais próximas. Se ele me acharia idiota por estar me iludindo por coisas que não existem.

Quem sabe ele conseguisse me ajudar a entender o que eu sinto. Eu tenho preocupações maiores no momento - tipo sobreviver - mas... a minha relação com a Selena é um pensamento constante.

Acho que os sentimentos que talvez eu tenha me assustam quase tanto quanto os zumbis do lado de fora.

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OBSERVAÇÕES

Cecília tá precisando muito de um abraço do Tomate. A Selena pode até abraçar ela... mas talvez isso faça o coração dela ficar acelerado. Só talvez.

Duas coisas: Não gostei muito desse capítulo, mas pelo menos vimos Cecília preocupada com a namoradinha. E uma notícia que acho que alguns vão gostar: irei postar um dia sim, um dia não (a não ser que não dê tempo, mas estou me organizando). Aproveitem!

em meio ao caos - cecilenaOnde histórias criam vida. Descubra agora