16.2 - cecília

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— POV: Selena

     Eu perdi ela. Faz menos de um mês desde que começamos a ficar, e não faz nem dois dias que nós confessamos nossos sentimentos e concordamos em ter algo sério. Por que eu não tive iniciativa antes? Como eu pude ter tão pouco tempo com ela? Mesmo a duração da nossa amizade... não foi suficiente. Nem cem anos seriam suficientes.

     De certa forma, fico minimamente feliz por ela ter morrido dessa forma, e não por uma mordida. Ouvi ela tagarelar milhões de vezes sobre como seu maior medo era virar uma dessas coisas asquerosas. "Eu quero morrer como uma bandida", ela dizia. Lutando ao nosso lado, com uma arma em mãos. Eu apenas concordava e a corrigia, "como uma bandiva." Não achei que iria acontecer tão cedo assim.

Não sei quanto tempo passa até que eu sinta um toque gentil no meu ombro. Por um milésimo de segundo tenho esperança que seja Cecília, mas é claro que não é. Eu nunca mais vou sentir o toque dela.

- Selena? — Escuto a voz de Renata atrás de mim — O que aconteceu?

Minha resposta é apenas continuar chorando e balançar a cabeça, sem soltar a Cecília. Vejo Renata se inclinar e observar a cena, soltando um "puta merda", provavelmente quando percebe o que é tudo isso.

Sei que ela e Cristal estão conversando e sei que Margot está chorando, mas não consigo captar nada ao meu redor. Não consigo formular nenhum pensamento que não seja sobre como eu amei- não, como eu amo a Cecília. Como eu sempre vou amar ela.

- Selena, a gente precisa ir — Escuto Renata falar eventualmente.

- Não posso — É a primeira coisa que eu consigo falar.

Ainda estou sem noção do tempo, mas eu já parei de chorar. Não que isso signifique que a dor dentro de mim diminuiu.

- Selena — Cristal fala com uma voz gentil e chorosa que eu não estou acostumada — Vamos.

- Ela não ia querer que você ficasse aqui — Renata fala.

- Você não sabe o que ela iria querer — Eu rebato.

Mas sei que ela está certa. Conhecendo a Cecília como eu... conheci, eu sei que ela iria odiar a ideia de me ver aqui, agachada sobre uma poça de sangue em um lugar que pode se reencher de zumbis a qualquer momento.

Fecho os olhos de Cecília com cuidado e tiro a faixa da cabeça de dela. Não é como se eu pudesse um dia esquecer ela, mas preciso ter um pedaço dela comigo.

Respiro fundo e junto as poucas forças que tenho para me levantar, aceitando o abraço que Renata me oferece. Ela fala algo no meu ouvido, mas eu não presto atenção. Entrelaçamos nossos braços e eu me obrigo a andar.

Do lado de fora, a situação parece mais calma. Ainda tem zumbis por toda parte, mas está melhor do que quando chegamos. Vejo os olhares confusos e preocupados das meninas. Alguém pergunta onde Cecília está e eu sinto vontade de chorar novamente.

Cristal manda todas entrarem nos carros para voltarmos para a base. Renata me coloca dentro do carro e se vira para falar com alguém. Escuto Nalla chorando antes de fechar a minha porta. Aperto a faixa em minhas mãos e encosto a cabeça no banco.

Eu perdi a Cecília.

——————— 6 MESES DEPOIS ———————

     As coisas estão voltando ao normal. A estrutura da cidade foi um pouco prejudicada, mas estamos voltando aos trilhos. O Hell Hotel já foi reparado e Cristal está organizando a construção da nova Braba, assim como a finalização da Garagem.

     A Garagem que, no caso, me traz lembranças boas e ruins ao mesmo tempo. Eu e Cecília fomos felizes aqui. Tivemos bons momentos, risadas exageradas e danças aleatórias. Boas memórias. Ainda assim, as vezes um nó se forma na minha garganta quando eu olho para a pichação feita para ela.

"Você ficaria feliz", eu penso como se estivesse falando com ela. Cecília estaria em êxtase sendo a única recruta a ganhar um grafitti na Garagem. Ela também adoraria saber que Renata e Cristal estão quase namorando. Nós sempre bolávamos teorias a respeito das duas e eu costumava contar para ela quando descobria algo.

Talvez ela veja essas coisas. Talvez ela observe como nós estamos, como a Nalla ainda faz questão de dizer que a "Do Borel" é sua melhor amiga (mesmo que ela não esteja mais aqui), como Matsui tem orgulho de ter tido Cecília como mentora, como as veteranas divagam sobre como Cecília tinha muito potencial, como Tomate sente sua falta todos os dias, como Theo até usou um bracelete rosa por um tempo quando ficou sabendo da notícia. Espero que isso deixe ela feliz, seja lá onde ela esteja.

     Eu estou em um processo. Sei que eu nunca vou esquecer ela - e nem quero -, mas aos poucos consigo suportar a dor de não ter Cecília ao meu lado. Não tenho mais pesadelos com o dia de sua morte todas as noites e consigo ouvir seu nome sem sentir vontade de chorar. A saudade continua, mas é algo que eu tenho aprendido a lidar.

     Agora, sentada em um dos containers da Garagem, aperto a faixa amarrada no meu braço. Um item que pode parecer apenas uma recordação, mas que é algo que me dá forças todos os dias.

     Eu te amo, Cecília. Desculpa por não termos tido tempo suficiente e obrigada por ter me amado também.

— FINAL N° 1

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OBSERVAÇÕES

     Não me apedrejem, por favor. Imagino que essa conclusão tenha sido... intensa. Perdão aos que estão tristes, eu também chorei escrevendo. Sei que deve ser ainda mais difícil depois do rp que tivemos sábado, mas calma!

⚠️ | Como vocês viram, esse é o final número 1. Amanhã estarei lançando o final número 2, o qual eu prometo ser feliz. Fiquem de olho.

em meio ao caos - cecilenaOnde histórias criam vida. Descubra agora